Aqui falo sobre um monte coisas de meu universo de interesse. Filmes, livros, família, política, religião e psicologia. Também reproduzo textos publicados em jornais de São Luís (MA).
domingo, 31 de dezembro de 2017
FELIZ 2018
Que neste ano novo você seja leve. Exercite a paciência. Aprenda a tolerância. Espalhe a paz e ame profunda e calmamente.
sexta-feira, 8 de dezembro de 2017
O celular é o novo cigarro
Não
é uma frase de efeito: “O celular é o novo cigarro”, disse Amber Case,
socióloga americana que explora (estuda) as questões relacionadas ao nosso novo
mundo virtualizado.
Case
se referia a utilizá-lo como distração da existência (embora pouquíssimas pessoas
admitiriam isso), como forma de passar o tempo, pois estamos sempre rapidamente
entediados com tudo. Eu acrescentaria para preencher os espaços do silêncio
sepulcral entre as pessoas ou o desconforto da presença de estranhos tão
proximamente íntimos, como num elevador, por exemplo.
O
tédio parece resultar de um adestramento cognitivo e emocional pela torrente
ininterrupta e interminável de estímulos a que somos submetidos hoje cada vez
mais cedo. Estes estímulos produzem uma avidez pela instantaneidade, mas disso
já falou muito bem Zygmunt Bauman. Estamos condicionados irremediavelmente.
Case
é categórica: estamos sendo escravizados. O celular é o símbolo máximo dos grilhões
escravizantes. Novamente, não é uma frase de impacto. Sua pesquisa registrou
que as pessoas, em média, olham o celular entre 1000 e 2000 vezes num único
dia!!!! Mesmo se considerarmos que cada olhada leva alguns segundos é um bocado
de olhada.
A
socióloga sugere que devemos, conscientemente – e aqui há outra questão que ela
destaca, talvez a mais importante –, silenciar o smartphone (não há uma ironia
nisso?) ou colocá-lo no modo avião por algum tempo durante o dia. Pede que
recuperemos o velho despertador analógico ou digital, tanto faz, em lugar do
celular que permanece ligado 24 horas. O cérebro, segundo afirma, sofre com a
conexão constante.
Retomo
a parte que considero mais importante. Estar consciente, controlar o celular em
vez de permanecer atado a ele como zumbi, é um tipo de ganho de liberdade.
Quanto daquilo que você vê no celular é, de fato, necessário, importante, isto
é, algo que faz diferença na sua vida? Quanto disso você se recorda depois de
horas grudado à telinha?
Estamos
sendo roubado de nós. Vivemos focados em tudo que está fora, especialmente na
aprovação ou qualificação que apps e redes sociais criam a nosso respeito. Um
episódio do humorista americano Larry David explora esta situação. Ele foi mal
qualificado pelo motorista o Uber e isso resultou numa exclusão dele por outros
motoristas. A situação se desenvolve num completo nonsense e cenas de ridículo
atroz.
As
pessoas são agora boas ou más (aqui num sentido amplo, sem qualquer avaliação
moral) se elas tem bons perfis nas redes. Valor que obedece a toda uma ética
relacional e urbanidade virtuais criadas não mais pela convivência humana direta,
mas por algoritmos que, afinal, venderão propaganda gerando bilhões aos donos
das redes sociais. Não é incrível que muito do oferecido é “grátis”? Não lhe
vem à mente aquela imagem icônica de Matrix: milhões de pessoas em casulos
gerando energia para as máquinas?
Concluo com uma frase de
Case: “Vivemos constantemente em atenção parcial, nunca estamos presentes, portanto não temos tempo
de reflexão.” Qual foi a última vez que você se deu conta, por si mesmo, que
estava vivo, sem que tenha sido fruto de alguns likes e curtidas?
terça-feira, 3 de outubro de 2017
Tá, o assunto já deu, mas...
O assunto "cura gay" ainda dá leitura. Esta semana o portal UOL, o maior defensor da ideologia de gênero, e muitos outros meios repercutiram a negativa do juiz Waldemar Cláudio de Carvalho ao recurso impetrado pelo CFP para manter a Resolução 1/1999 intacta.
O mesmo UOL achou razão, mais sugerida que real, na suposta preterição do juiz em escolha para o cargo de Desembargador por causa de sua decisão.
Enfim, como em muitas questões polêmicas, as versões ganham status de verdade.
Produzi mais um texto que tenta lançar alguma luz no imbróglio. Você pode ler no site da Revista Ultimato aqui.
O mesmo UOL achou razão, mais sugerida que real, na suposta preterição do juiz em escolha para o cargo de Desembargador por causa de sua decisão.
Enfim, como em muitas questões polêmicas, as versões ganham status de verdade.
Produzi mais um texto que tenta lançar alguma luz no imbróglio. Você pode ler no site da Revista Ultimato aqui.
terça-feira, 19 de setembro de 2017
Cura Gay. Onde está a verdade?
Inacreditável! A recente
controvérsia que tomou conta do noticiário é, literalmente, de abismar. A
dimensão que a coisa tomou é desproporcional ao seu conteúdo. Exceção ao CFP
que sabe exatamente o engano que produziu para dar suporte a uma ideologia de
gênero do qual é supremo defensor, os demais, imprensa, militantes gays e
simpatizantes, não tem a menor ideia do que estão falando. Apenas repetem seu
repúdio que nem papagaios e por meio de jargões, entre eles o termo
maldosamente cunhado: “cura gay”.
Neste espaço já postei
vários textos que debatem, creio eu, sem o fanatismo dos militantes ideológicos
de ambos os lados. Duas vezes defendi a Rosângela Justino (vejam aqui e
aqui)
que volta novamente aos holofotes. Não porque concorde com suas ideias no todo,
mas por que nos dois momentos percebi uma clara postura persecutória tanto do
CRP do Rio de Janeiro, como do CFP, incluindo uma arapuca que lhe armou uma
repórter da Folha de São Paulo. Assim também me posicionei em favor do Silas
Malafaia (veja aqui),
ainda que dele discorde em muito mais coisas.
Em outras duas
oportunidades (aqui
e aqui)
discuti neste Blog a famigerada Resolução CFP 1/1999 que determina aos
psicólogos a proibição de atender gays, e de jeito nenhum que este atendimento
se trate de uma suposta cura de sua condição. Naturalmente, um psicólogo que
defenda a Resolução e até trabalhe para que os que estiverem em dúvida se
assumam ou saiam do armário, estes receberão aplauso.
Um esclarecimento. Do
mesmo modo que até hoje não se tem uma causa única da condição gay que é multifatorial
– elas passam da genética à cultura e construções psicoafetivas –, tampouco
existe uma cura médica ou psicológica. A inclinação homoafetiva não é, em si, uma
doença psiquiátrica. Todo psicólogo minimamente instruído deveria sabê-lo. Portanto,
a ideia de reversão parece absurda por qualquer ângulo que se analise. Seja
para negá-la ou afirmá-la. E a razão se deve à enorme complexidade envolvida nesta
manifestação da sexualidade humana.
Um psicólogo que venda a
reversão ou cura, nestes modos, pratica mal a psicologia. Mas um psicólogo
pode, sim, atender um gay, suposto ou assumido, em dúvida ou definido que, nesta
condição e por causa dela, sofra psicologicamente. Onde está a teoria
científica, a norma ética, que obriga o psicólogo a agir apenas em favor da
pessoa se assumir gay? Então se deve subverter uma das mais caras posturas
deste profissional que é ajudar, caminhar junto, prover suporte sem julgamento
ou direcionamento de qualquer natureza quando se tratar de levar alguém a
assumir ser gay? Um gay está reduzido apenas à sua sexualidade ou é um sujeito
marcado pelas experiências familiares, sociais, culturais e religiosas? Ele
pode escolher outra coisa ou, fatalmente, só pode ser gay?
Demonstrei numa análise
do próprio texto da Resolução que ela é falha (ver os textos indicados),
ambígua e atenta contra a liberdade do exercício profissional do psicólogo e da
pessoa que busca ajuda, por ser generalista, limitante e não discriminar as
inúmeras situações que podem ocorrer num consultório. A coisa, a levar ao pé da
letra o que determina a pobre Resolução, fede a puro autoritarismo e atenta
contra os princípios da própria psicologia. Será que todas as pessoas que
procuram um psicólogo são doentes, padecem de algum transtorno mental?
Agora o tema explodiu
num misto de escarcéu e deboche de muitos gays famosos com ampla cobertura – e
põe ampla nisso – da imprensa. Na internet, então, o tema já entrou para os
trends topics. Pessoas famosas têm emprestado sua cara e tirado uma casquinha
do furdunço: artistas diversos e o médico Dráuzio Varella. Mais do que nunca
vivemos um tempo de protagonismos e quando mais se defende a agenda-setting,
mais “likes” se ganha. Não importa se o defensor entende ou não o que está
falando.
Do sentimento de ultraje
da militância gay e simpatizantes de outros momentos, agora a postura é de
desabrida condenação, de ridicularizar e o sarcasmo contra a mais singela
discordância de seus pontos de vista. Ninguém quer sequer entender o que disse
o juiz que, como qualquer pessoa sensata, percebeu as possibilidades nefastas
que a Resolução do CFP cria e efetivamente está acontecendo. Qualquer posição divergente
a ela recebe de seus defensores a condenação e a marginalização para seus
contrários.
O que ocorreu, afinal? Um
juiz federal em Brasília – Waldemar Claudio de Carvalho –, provocado por um
grupo de psicólogos, determinou que estes poderiam, em certas condições,
atender gays para supostos tratamentos de reversão de suas inclinações
homoeróticas. Bom, façamos um ligeiro reparo nesta frase que na liminar está
assim: “Sendo
assim, defiro, em parte, a liminar requerida para, sem suspender os efeitos da
Resolução nº 001/1999, determinar ao Conselho Federal de Psicologia que não a
interprete de modo a impedir os psicólogos de promoverem estudos ou atendimento
profissional, de forma reservada, pertinente à (re) orientação sexual,
garantindo-lhes, assim, a plena liberdade científica acerca da matéria, sem
qualquer censura ou necessidade de licença prévia por parte do C.F.P., em razão
do disposto no art. 5º. inciso IX, da Constituição de 1988”.
Percebam a frase sublinhada. Este é o nó
da questão. Definitivamente pede muitas linhas explicativas que num despacho é
impossível de analisar. Baseados nela, podemos discutir sobre a liberdade tanto
do profissional que atende como do cliente que o procura. Poderíamos debater
sobre o que é realmente esta reorientação sexual. Será que se disse ali, como
cinicamente CFP e imprensa estão espalhando, que reorientar – concordando ou
não com o termo – é o mesmo que igualar ser gay a ser doente?
Ainda naquela pequena frase. Pode-se
questionar se existem graus de gaysismo e até quando uma pessoa reverte ou não?
E ainda. Será que todas as pessoas que percebem a inclinação homoafetiva já vêm
completamente resolvidas? O juiz determina que se cacem gays nas ruas e os
obriguem a mudar?
Um psicólogo é o profissional do
acolhimento. Da compreensão da dor da alma das pessoas. Deve exercitar a
compaixão e a empatia sempre. As regras no Código de Ética Profissional são
mais que suficientes para orientar a prática psicológica e punir aqueles que
dela se desviem, e isso sempre que desrespeite a profissão e/ou seu cliente
seja do jeito que for.
Já a Resoluçãozinha, que o CFP se recusa a
discutir, é um libelo de declaração política. Ela se imiscui na intimidade dos
consultórios e violenta a prática psicológica para determinar às pessoas,
profissionais e clientes, sua ideologia, nada mais, nada menos.
Os
gays brasileiros, ricos e pobres, famosos ou anônimos, merecem respeito porque
são pessoas, tem a dignidade intrínseca de todo ser humano e essa razão é mais que
suficiente para que assim sejam tratados: nenhuma discriminação, nenhuma
violência, nenhuma intolerância, nenhum desrespeito. Mas isso também vale para
aqueles que deles discordam e de seu modo de vida – afinal não se trata apenas
de como fazem sexo –, ou seja pelo que for, desde que, sempre, se mantenham
dentro dos limites do amor ao próximo.
quinta-feira, 31 de agosto de 2017
Ninguém me deve nada
Tem gente que
pensa que o mundo lhe deve algo. Grande parte dos que assim pensam e agem, nem
sabem discriminar o que seria esta dívida. Outros a definem de muitos modos. Pode
ser por meio de atos de empáfia, arrogância ou uma vaga certeza de alguma
superioridade moral, econômica ou outra coisa qualquer.
De fato,
subjaz a estes comportamentos uma brutal insegurança. A percepção de que os
outros lhe são devedores é uma compensação para sua própria autoestima
desgastada. Faltou-lhes a aprovação necessária em algum momento da vida e
então, cobram a fatura do resto do mundo.
O mundo falhou
com eles, pois que paguem. Em todos os perfis psicológicos das pessoas que
infligem maldades aos outros, passando por ditadores sanguinários, parceiros ou
parceiras afetivos abusivos, pais ou mães que alienam filhos emocionalmente,
sociopatas assassinos, há traços de sentimento de inferioridade, ódio e
distanciamento afetivo dos outros.
Há quem diga
que Hitler sempre foi medíocre em tudo. Mas com uma vontade de ferro e crenças
adoecidas sobre o mundo e as pessoas. As muitas rejeições, por sua
mediocridade, alimentaram sua loucura e deu no que deu.
Estes eternos
credores de todos guiam suas relações pelo débito-crédito. Tem memória de
avaros emocionais. Eles só fazem algo por você, quando fazem, se você fez algo
por eles. E fazem isso com filhos, esposos/esposas e amigos. Ninguém escapa de
sua contabilidade. Criticados, respondem com lero-leros inexplicáveis, que são
mais eles, etc.
A razão de se
sentir credor dos outros pode ser religiosa. Esta razão, por si, é muito
perigosa por que vem empacotada num sentimento de preciosismo, de se sentir
escolhido ou bafejado pela divindade. Na miséria pessoal humana já é um perigo,
imagine com uma certeza louca de ser um escolhido.
Por minha vez
digo: ninguém me deve nada. Porque dever nas relações humanas, excetuando-se as
questões comerciais, somos nós que, por sensível consciência, entendemos que
devemos e ninguém nos deve. É um tipo de escolha. Se preferirem, um estilo de
vida. Uma compreensão ampliada de todas as relações que estabelecemos agora ou
no futuro.
Preciso
reavivar sempre em mim que as pessoas não estão à minha disposição para atender
meus desejos e caprichos. Que devo urbanidade àqueles com quem encontro, mesmo
quem não conheço. Que devo pedir em vez de mandar. Que devo, sempre, usar as
palavras mágicas: por favor, com licença, obrigado, desculpe... independente de
meu interlocutor.
Devo o
respeito à dignidade intrínseca que todo indivíduo tem, mesmo aqueles que, por
razões absurdas em mim ou nas circunstâncias, eu não goste ou simpatize. Devo a
compaixão aos caídos e solidariedade aos que sofrem, só porque agora é a vez
deles, um dia será a minha.
“Sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes.” Romanos 1:14
quarta-feira, 30 de agosto de 2017
De volta ao wc mistão da PUC
Ontem (29/08),
o Jornal Nacional retomou o tema do wc unissex da PUC de São Paulo. Reportagem
mais direta e enxuta, mas agora de dentro do banheiro. Homens e mulheres
entrando e saindo das cabines. Algumas imagens mostraram homens e mulheres
conversando, enquanto se arrumavam na frente do espelho.
Entrevistados,
todos a favor, elogiavam a iniciativa. Houve quem celebrasse este grande avanço
e em todas as falas havia uma insinuação de superação destas coisas antigas e
ultrapassadas de se ver as pessoas separadas por gênero. Aliás, não falta quem
diga em alto e bom som que isso é pura construção cultural e outros, feministas
e gente de esquerda, acrescentam: resultado de uma sociedade patriarcal. Esta
palavra, patriarcal, virou palavrão.
Aos fatos. O
movimento feminista impôs uma agenda e uma forma hegemônica de se discutir as
questões relativas aos gêneros. Como toda ideologia que se abriga no grande
arco da esquerda, tudo que discorda de sua forma de pensar, é arcaico, atrasado
e trabalha contra a evolução para uma sociedade igualitária, progressista,
moderna e livre. Todos quatros adjetivos foram conspurcados e usurpados no
contexto das ideias de esquerda e feminista.
O personagem
Zeca Bordoada, do inesquecível Guilherme Karan, seria patrulhado e a Globo,
imagino, jamais o colocaria no ar hoje. Esta é outra característica de todo
fanático, seja de onde for, eles não tem senso de humor.
Qual o
resultado desta sanha por igualdade de gêneros? Homens fracos. Sem virilidade.
Afeminados. Aqui no sentido de ganharem características comportamentais e de
pensamento feminino. Homens cuja porção mulher, como diria Gil, se tornou a
parte total de ser homem. No final do discurso por igualdade entre gêneros não
haverá homens, mas mulheres de barba.
Borrar a
fronteira entre homens e mulheres é um desserviço à pluralidade, à diversidade
de formas de ver e trabalhar o mundo. Essa é outra característica da esquerda.
Começa defendendo a igualdade que se torna um monstro nivelador que desconhece,
em suas experiências mais radicais, qualquer individualidade. Neste caso aqui,
subverte mesmo a biologia.
Sim, o
discurso da esquerda e feminista é esquizofrênico. Não tem compromisso com a
coerência. Vendem liberdade e igualdade, então aprisionam seu fieis numa camisa
de força onde toda escolha acaba. As feministas heteros querem um homem, mas
não o produto de seu próprio discurso, porque eles são elas mesmas.
Passeatas
feministas em favor do aborto e outros temas no Brasil, em plena Av. Nossa
Senhora de Copacabana, a maioria dos participantes pessoas jovens. No
aglomerado, um monte de homens: pintados com slogans e grande parte deles com
acessórios femininos, inclusive sutiãs. Quais cãezinhos amestrados repetiam as
palavras de ordem que suas namoradinhas moderninhas mandavam.
O terrível
episódio, no Natal de 2016 em que várias mulheres foram estupradas em Berlim
por refugiados – africanos, árabes e islamitas –, causou grande repercussão
social e política. Uma passeata em seguida defendia a liberdade das mulheres e
pedia proteção. Muitos homens se juntaram à passeata... vestindo saias ou
lenços na cabeça!!!!!
Uma jornalista
dinamarquesa, Iben Thranholm, gritou que os homens europeus em vez de
defender suas mulheres, digo eu, dão gritinhos com palavras de ordem. A fala da
jornalista, de fato, dizia que décadas de feminismo tornou o homem europeu um
ser afeminado, deixando de lado virtudes tradicionais como virilidade, honra,
coragem, coisas úteis para proteger suas mulheres e sua cultura.
Numa
entrevista, ela teve que explicar sua fala ousada para outra jornalista que a
tratou com verdadeiro horror e desprezo. Nestes países nórdicos, imagine, há
acampamentos para homens aprenderem a ser... homens. Como? Fazendo coisas de
homens e onde possam exercitar um pouco de sua testosterona.
O
banheiro mistão da PUC é uma coisa ridícula. Elevado à categoria de símbolo do
progresso e modernidade do Brasil, não acrescenta nada a ninguém. Se todos os
banheiros da PUC forem unissex, o país ainda será atrasado, pobre e primitivo. Exceto
para os puquianos que vivem sua própria realidade. Pois que se divirtam mijando
e cagando juntos e veremos onde chegaremos!sexta-feira, 18 de agosto de 2017
O banheiro unissex ou o WC mistão revolucionário
Leilane Neubarth é uma das grandes apresentadoras de telejornais
no Brasil. Trabalha como âncora da edição das 18, na Globo News. Nesta
sexta-feira, constrangida, não era para menos, apresentou uma notícia em que um
sujeito atacou uma idosa de 83 anos para roubá-la. Uma câmera captou toda a
violência e ela alertou aos espectadores sobre as cenas fortes que seriam
mostradas. O mal-estar da apresentadora era visível. As cenas que em dado
momento são congeladas, faziam jus ao desconforto da jornalista e ao de quem certamente,
como eu, viu as imagens chocantes.
Então, em seguida, ela
começa dizendo: agora vamos para uma notícia, (hesitou em busca de palavras) eu
diria assim, moderna, nova e boa. Às vezes a gente consegue ver que o país está
andando pra frente. Corta.
Não pensei nada em
especial, mas aguardei o anúncio de uma tecnologia inovadora, uma medida do
governo que facilitasse um pouco a vida das pessoas, sei lá, haveria muitas
possibilidades. Mas a notícia extraordinária que, segundo a apresentadora “mostra
que o país está andando pra frente” era, pasmem, um banheiro unissex instalado
de forma revolucionária, incrível, pioneira, inédita nas dependências de uma
faculdade.
A unidade da PUC em
Perdizes, São Paulo, depois de uma reforma estrutural no prédio, uma comissão
teve a ideia genial de criar este espaço democrático para o xixi e cocô. A repórter que foi cobrir o banheiro diz
pateticamente: estou em frente ao banheiro e a única diferença que tem é a
mulher e homem... E lamenta: de 35 banheiros que tem na PUC só um é unissex.
De fato, os dois símbolos
era de um homem e de uma mulher o que me deixou boquiaberto que não tenham inventado
um símbolo igualmente dúbio, afinal estaria mais apropriado para este espaço
misto.
Entra a reitora. A mulher é
pura satisfação. Regozija-se ante tamanho feito de sua gerência
pedagógico-administrativa. Ou era satisfação por estar na Globo? Olha que uma
reitora se prestar para dar entrevista sobre um banheiro unissex é de lascar!!
A repórter pergunta como
surgiu a ideia. A reitora diz que é uma ideia que “corre o mundo” (Uau!!). Tem
nos EUA, na Europa... Talvez seja a isso que a Leilane se referia de um país
que “anda pra frente”. O banheiro unissex da PUC nos empurra em direção ao
moderno e novo dos países do primeiro mundo! Putz!!! E esse tempo todo a gente
sem saber que era tão simples.
Câmera na reitora. Blá,
blá, blá, então resolvemos que deveria ter um banheiro que homens e mulheres
pudessem usá-lo indistintamente e todos que se sentissem à vontade para usar este
banheiro que não discrimina as pessoas pelo sexo de nascimento.
A imbecilidade humana não
tem limite. Então os banheirinhos todos, coitados, que separam os pintos das
perseguidas, prática que a civilidade criou para conforto e higiene adequada de
ambos sexos, são uns discriminadores das pessoas pelo seu sexo de nascença? Eu
morreria e não saberia que estes insuspeitos ambientes para alívio das
necessidades fisiológicas são contumazes discriminadores. Ainda bem que a
reitora nos consolou, nós os outros que gostamos de ir ao banheiro cada qual em
seu quadrado, na PUC de Perdizes as pessoas poderiam usar os outros banheiros
separados por sexo. Ufa, que alívio. Sem trocadilho.
A repórter indaga sobre uma
suposta polêmica nas redes sociais. A reitora diz que na universidade a notícia
do banheiro foi recebida como muita naturalidade. Claro, é um lugar moderno! Aí
ela cita uma quantidade enorme de gente que apoiou o banheiro mistão e quem não
gostou não era da comunidade universitária. Ah, bom! E você aí que não entendia
porque é que o Brasil não dá certo, né?
sábado, 29 de julho de 2017
O princípio da insignificância
É mais uma das milhares de histórias fakes que enchem a
internet diariamente e a agora, o whatsapp. O título da notícia “perdeu
playboy, tá liberado para o roubo de celulares” causou grande celeuma e
revolta, eu incluído.
Decisão do STF, que adora legislar ante a anomia do
legislativo-bandido, determinaria doravante que roubos de celulares no valor de
até R$500 não daria cadeia, ainda que o meliante fosse pego em flagrante.
O UOL (28/07/2017) resolveu investigar o que tinha de
verdade nesta escandalosa notícia. Bem, a coisa não era assim. Então, que
aconteceu? Um caso de furto se arrastava pelos meandros do judiciário. Um sujeito
furtara um celular que teria custado “apenas” R$90 e fora absolvido pelo
Tribunal de Minas Gerais baseado num tal “princípio da insignificância”.
Uma explicação de minha professora advogada particular
define que o princípio aludido deve ser empregado nas seguintes circunstâncias:
ausência de periculosidade; mínima ofensividade da conduta; reduzido grau de
reprovabilidade e inexpressividade da lesão jurídica. Talvez você não entenda estes
termos, mas tem que ver com baixo valor do objeto furtado, nenhum dano físico à
pessoa furtada (e o dano psicológico???) e para a lei não representar gravidade
na conduta.
Voltando. Depois de idas e vindas, condenações e
liberações do ladrão, o caso chegou, absurdamente, ao STF!!! Entra em cena o
Ricardo Lewandovski, aquele que se o Joaquim Barbosa não tivesse peitado, não
haveria uma miserável condenação no Mensalão.
Pois esse ministro decidiu: “Ante a inexpressiva ofensa
ao bem jurídico protegido e a desproporcionalidade da aplicação da lei penal ao
caso concreto, deve ser reconhecida a tipicidade da conduta. Possibilidade da
aplicação do princípio da insignificância.”
Trocando em miúdos. O Ministro liberou o bandido
acobertado pelo famigerado princípio. O grande detalhe desta história é que, vá
lá, e evocação do princípio deve ser para beneficiar um ladrão réu primário. NÃO se aplicava ao
trambiqueiro em questão, posto que era praticante profissional de
furto.
A pergunta, neste caso, é: o valor de R$90 é
insignificante para quem? Um trabalhador que ganha um salário mínimo seria
tungado em 10% de seu salário, o que certamente faria muita falta caso ele
tivesse que comprar outro aparelho. Evidente que para um sujeito como o Lewandovski
este valor é, sim, insignificante. Mas suponhamos que o furtado não fosse
pobre, o que certamente leva à questão de que, possivelmente, não teria um celular
de R$90. Mas que fosse. E o dano psicológico? Ou alguém ignora que o brasileiro
urbano vive permanentemente num nível de estado de alerta altíssimo, o que leva
ao estrese e ansiedade com a (in)segurança pública?
Será que o tal ministro já foi furtado ou roubado? Como
se sentiu? A sensação de impotência, o medo, o desamparo, a condição comportamental
de tensão ao andar na rua, será que já sentiu? Duvido.
Outra questão importante. A mensagem que uma decisão
dessa passa é que o crime, sim, compensa. Bem, todos sabemos, mesmo com a Lava
Jato, o crime compensa no Brasil. Os dedos-duros, às dezenas, roubaram tanto
que, mesmo devolvendo milhões, terão ainda dinheiro para duas ou três vidas
nababescas.
Do ladrão de galinhas ao mega ladrão tipo Sérgio
Cabral e a gang do PT, verão nessa decisão infeliz uma mensagem: roubemos que a
gente vai se dar bem. Ao cidadão comum que trabalha duro, acorda cedo, sustenta
a família, paga impostos escorchantes, suporta a inflação, sofre com o
desemprego, a falta de saúde e educação, anda em ruas esburacadas e às escuras,
é roubado e furtado pelos ladrões profissionais, quando não agredido ou morto,
a este cidadão a mensagem é: vocês são um bando de idiotas!!!
sexta-feira, 14 de julho de 2017
Cativar e se tornar responsável... tô fora!
O pequeno príncipe de
Antoine de Saint-Exupéry é uma das obras mais traduzidas do mundo – mais de 250
traduções. Até o ano passado havia vendido um número superior a 140 milhões de
exemplares. Um feito grandioso para um livro que ao longo de seus setenta e
quatro anos tem fascinado muitas gerações.
Algumas de suas frases
têm sido repetidas e citadas um sem número de vezes nas mais diversas
situações. Uma delas tornou-se um clássico: “Tu te tornas eternamente
responsável por aquilo que cativas”. A fala é dita pela raposa. Ela explica que
cativar é fazer com alguém se torne distinto e especial para nós. Cativar,
segundo a raposa, é tornar alguém especial para si e ser o mesmo para o outro. O
aforismo fecha diálogo.
A frase me veio à mente
quase que automaticamente. Não recordo o que me fez relembrá-la. Algo deu um
estalo em mim. Um incômodo. Como se ao ouvir uma música conhecida percebesse
uma nota dissonante, ouvisse o cantor desafinar. O que seria?
Aviso, não sou do
contra. A frase tem seu valor, mas... a responsabilidade que evoca está bem
para além do razoável. Confesso que tentei salvar a frase para mim mesmo. Mas
os senões se multiplicavam em minha cabeça. Ser responsável é se importar?
A maioria das pessoas
entende o “aquilo” como outra pessoa, afinal uma cadeira ou um planetinha não
pode ser cativado, o contexto do diálogo reforça a ideia. Então, ao cativar,
encantar, seduzir, maravilhar alguém – não encantá-la no sentido de enfeitiçar
–, você se torna responsável por mantê-la com a mesma opinião sobre você?
Lembrando Raul. E se eu quiser dizer (ou fazer) o oposto do que eu disse (ou
fiz) antes? Estarei amarrado à responsabilidade de conservar o outro ainda
encantado comigo? Isso não cheira a uma armadilha?
A palavra
“eternamente”, percebi, me dá urticária. Sim, eu dou o desconto da licença
poética, mas continuo achando-a muito pesada para criaturas datadas e cheias de
finitude como nós. O que quer dizer “responsável” na frase? Parece não haver
saída que não admitir seu significado direto: alguém que é capaz de responder
por seus próprios atos ou pelas ações de outras pessoas.
Responder por si, mesmo
quando se quer desdizer o que se disse antes, é um belo desafio e um símbolo de
autonomia e certa liberdade íntima. Ser responsável pelo o que os outros fazem,
nem com procuração! É um peso grande demais.
Talvez Exupéry quisesse
dizer que quando cativamos alguém, irmanamo-nos com ela. Essa quase
identificação sugere mais uma responsabilidade nossa que do cativado. Ou queria
dizer que devemos ser responsáveis por aquilo que fazemos e dizemos, pois cada um
teria o poder de influenciar os outros. Imagine usar este poder para cativar
pessoas e levá-las para o mau caminho. Por que elas iriam? Por que são
criaturas de mentes simples e sem referencial. Talvez carentes como a raposa
que está cansada da vida monótona que leva.
Haveria diferença entre
cativar de propósito, donde a palavra seduzir estaria mais adequada, e cativar
pelo jeito de ser, pelo carisma pessoal? O primeiro pode conduzir a um tipo de
dominação, carrega uma intencionalidade nem sempre honesta. O segundo seria
espontâneo, pois o cativado foi atraído porque nele mesmo já estaria a
identificação com quem o cativou.
Você pode aceitar a frase sem prensar em suas sutis
implicações, seus pedidos de explicação ou repensá-la assim: Sou responsável
por aqueles que cativo, mas sou livre e os deixo livres para partir e buscarem
outros encantos onde desejarem e não tenho obrigação de satisfazê-los em suas
expectativas sobre mim. Sei, perdeu a poesia, encardiu-se de realidade,
diminuiu o efeito encantador, talvez porque em plena guerra, Exupéry quisesse
apenas que seus leitores sonhassem um pouco, a realidade era cruel demais para
aguentar. Talvez ainda seja.
quarta-feira, 12 de julho de 2017
"No" ofenda a ninguém
Era um
videozinho destes que se distribui pelo whatsapp e – você pode ver aqui nesta
postagem –, convenhamos, enchem a paciência com suas mensagens açucaradas de
autoajuda.
Acontece que
este tinha um quê de recomendações pseudofilosóficas e subpsicológicas com as
quais a maioria das pessoas concorda sem pensar. O vídeo contém aquele tipo de
afirmação que se pretende um tipo de verdade autoexplicativa. Discordar do que
diz é caminhar sob os cenhos franzidos de reprovação das pessoas.
Mas vamos lá!
O “no ofenda a ninguém” está ok, mas isto é o título. O problema está na frase que
explica porque “no” se deve ofender o próximo. Neste primeiro, a razão dada é
porque há pessoas que não podem falar e não podem se defender. Como? Não “falo”
Libras, mas sei que se pode falar e muito, inclusive xingar, por suposto, se
defender. Não se deve ofender, porque devemos respeitar quem quer que seja.
Ponto.
O segundo
quadro não melhora. “não reclame do gosto da comida”. A razão? Algumas pessoas
não tem nada para comer. Como assim? A comida tá um grude, coma? A comida
queimou, coma? No máximo não reclamo por constrangimento, a famosa vergonha
alheia, só!
Adiante. “não
reclame de seu companheiro” e conclui de forma fantástica: alguém enterrou seu
companheiro ontem. É o cúmulo! Milhões enterraram alguém seu ontem, hoje e vão
enterrar amanhã. O que isso tem a ver com reclamar de um preguiçoso,
irresponsável e desleal...?
A bobagem
segue. “não reclame de sua casa: algumas pessoas não têm onde dormir.” Outra
vez milhões estão nesta condição. É uma tragédia, sem dúvida, mas não tem
relação com reclamar da goteira ou meramente desejar uma casa maior porque a
sua está pequena para suas necessidades.
Agora uma
punhalada na lógica. “não reclame de seus filhos: algumas pessoas nunca poderão
ser pais.” Pois que adotem! Não discipline seu filho, não dê a ele regras e
normas de educação com peninha porque ao fazê-lo, se lembrará que existe um
monte por aí que não tem filhos. Eles continuarão sem filhos e você, com sorte,
com um mandrião dependente; com azar, com um bandido para visitar no presídio.
Esta é para
você, aposto. “Não reclame de seu trabalho: algumas pessoas lutam para
encontrar um.” Este é o cúmulo da idiotice. Acorda! No Brasil são doze milhões
de desempregados. Ter um pouco de ambição e desejar crescer profissionalmente
não fere a condição catastrófica do desempregado. Trabalhe com
responsabilidade, mas reclame se lhe exploram, se lhe assediam moral ou
sexualmente, se lhe dão condições desastrosas para cumprir suas tarefas. Que
coisa!
E com essa eu
concordo: “não amaldiçoe a sua vida...” a conclusão ou a razão para não
fazê-lo, no entanto, é ridícula. “algumas pessoas são jovens e tem doenças
incuráveis.” É triste, sim, mas não se deve se autoamaldiçoar porque é melhor
amarmo-nos a nós mesmos, não de forma narcisista, autocentrada, mas porque
devemos cuidar de nós mesmos, pois quem não se ama, possivelmente, está em
depressão severa ou tem outro transtorno mental. Quem não se ama precisa de
terapia e um psiquiatra e não pode amar aos outros.
Uma coisa
desta fede a socialismo bolivariano. Não é tolerância, é coitadismo. Não é
respeito pelo outro, é um tipo de glorificação da miséria. É um igualitarismo
doentio. Desrespeita as diferenças que a vida impõe e a de cada um. Podemos ser
solidários, empáticos, compassivos, o videozinho estimula a pena pelos outros
que é o mesmo que anulá-las. Pior, nos anula junto.
Enfim, detesto estas coisinhas
que são distribuídas como se fossem o suprassumo da sabedoria pratica para a
vida e não passam de tolice rematada que vai devorar a memória do celular. Eu
deleto tudo.
segunda-feira, 19 de junho de 2017
Cidadão Ilustre
A frase emblemática neste
filme é: Meus personagens não conseguem sair de Salas e eu nunca consegui
voltar. Salas é a cidade de nascimento do personagem Daniel Mantovani (Oscar
Martinez) que fez também Contos Selvagens, mas agora como personagem principal
no filme Cidadão Ilustre.
Mantovani saiu de sua
pequena cidade aos dezessete anos. Tornou-se um cidadão do mundo. Quarenta anos
depois ele é um escritor premiado com o Nobel, está em crise criativa e, em vez
de estar aproveitando os louros de tão grande realização, ele está deprimido.
Apesar da distinção que
imortaliza a obra de um artista, ele percebe o prêmio como uma declaração de
sua morte criativa. É o topo, daí para frente mais nada. Ele foi aceito, ele
foi cooptado pelo estamento que diz que esta obra é boa e aquela outra não
merece vencer.
O momento pós Nobel se
torna um frenesi de convites e prêmios secundários, festas, Feiras de
Internacionais de Livros, reconhecimento, ele recusa todos, pois é como se sua
vida tivesse sido sequestrada. Mas entre as cartas de convites diversos, ele
recebe uma de sua pequena de insignificante Salas. Recusa de imediato com um
riso que expressa o absurdo que seria ir a até aquele lugarejo para receber o
título de cidadão salense, inauguração de um busto e participar extensa
programação cultural.
Eis o mote do
roteiro que, de novo, dá de dez a zero no lixo filmográfico nacional que,
cevados pelas burras públicas, continuam sugando o dinheiro suado do
contribuinte para produzir irrelevâncias. O cinema nacional oscila entre o
humor sem criatividade, pastelão e os pretensos filmes políticos, para defender
posições de esquerda, e torná-lo mera propaganda das ridículas posições
políticas de seus atores e diretor, veja-se o descartável Aquarius com Sonia
Braga e trupe desqualificando o país nas amostras internacionais de que
participaram gritando “Fora Temer” como se fossem estudantes desajuizados. Um detalhe,
as viagens pagas com dinheiro público. Não é à toa que essa gente vive
defendendo cotas nas grades das redes de cinema e tv para os filmes nacionais,
ninguém quer ver, então eles se obrigam a serem vistos.
Num rompante,
Mantonvani decide aceitar o convite da Prefeitura salense. Fantasmas do passado
foram acordados e eles virão requerer seu direito de continuarem vivos. A
namorada que deixou para trás, amigos, gente que ele nem conhece, com suas
mentes prisioneiras de um jeito simplório de viver, com seus horizontes toscos,
transformarão a estadia do escritor num inferno.
Eles estavam e
pertenciam a dois mundos que não se tocavam. Um imerso num absurdo o outro vendo
a vida de uma maior amplitude. Mantovani se coloca como ele é e no que acredita,
mas, constrangido, negocia seus valores para se adequar aos primitivos
habitantes do lugar. É claro que esta receita não funciona. Ele jamais será
daquele lugar e eles, possivelmente, jamais conseguirão sair dali.
O filme é magistralmente
bem dirigido, os atores dão um show, a história muito bem contada e talvez nos
diga que reconhecer-se naquilo que se é, com pouquíssimas concessões, é nossa
forma de ser inteiros e viver uma vida mais livre, pois não nos cabe tornar os
outros no que somos e jamais aceitar nos mimetizar neles sem perder nossa
essência, se você a tiver.
domingo, 28 de maio de 2017
Negação
“Na
guerra, a primeira vítima é a verdade.” Não deve soar entranho, então, que até
a guerra precise de regra. Depois da Primeira Guerra Mundial vários acordos
internacionais tentaram estabelecer ordem na selvageria, o problema é que, como
no caso recente da Síria, em que mais de uma vez gás venenoso foi usado contra
a população indefesa, seguir uma regra é uma questão de caráter e escolha
pessoal. As leis internacionais preveem punições, mas neste mundo multipolar em
que um assassino como Assad escapa com a proteção da Rússia, pode-se
virtualmente tudo.
Este
parágrafo é apenas para ilustrar o que o livro “Negação” explora. A obra virou
filme em 2005. Os judeus têm sido, ao longo dos séculos, saco de pancada
verbal, ideológico ou real de muita gente e países. Os dentes dos racistas e
antissemitas continuam afiados, mas exploram outras áreas.
Os
“Protocolos dos Sábios de Sião” foram desmascarados e é, virtualmente,
insustentável hoje usá-los como prova de que está ou esteve em curso uma trama
judaica para dominar o mundo. Mas, conquanto tolices como essas sejam
repetidas, haverá sempre um público ignorante consumidor novo, como o barbeiro
com quem corto o cabelo de vez em quando que mistura Iluminatis, cristianismo
apocalíptico – o anticristo incluído – e a velha trama da dominação judaica
que, segundo ele, é dona do banco central brasileiro e de todos os outros
segundo sua fonte. Ele não é louco, antes que alguém ria disso.
Durante
alguns anos proliferou no mundo acadêmico na área historiográfica várias
versões históricas sobre o Holocausto. Entre elas uma que ficou conhecida como
Negacionista. Isto porque o grupo de acadêmicos que, por desonestidade
intelectual ou antissemitismo, quando não as duas coisas juntas, defendiam que
o extermínio judeu pelos nazistas não passou de ficção. Se muito, admitiam que
morreram poucos e não por uma política deliberada dos nazistas.
A
história do livro relata que um dos mais notórios negacionistas, o inglês David
Irving, estrela acadêmica, agressivo contendor, cujos livros vendiam milhares
de cópias entre o público racista e antissemita e também entre aqueles que eram
meros curiosos, resolveu processar Debora Lipstadt por causa de sua obra “Um
estudo acadêmico sobre o negacionismo do Holocausto”. Em seu livro ela apontava
Irving como um partidário de Hitler. Um escritor que manipulava e distorcia
documentos históricos, omitia evidências contrárias às suas teses. Irving
ganhava muito dinheiro com livros e palestras disseminando suas teses nos EUA e
Europa. Por esta razão sentiu-se lesado em sua honra como historiador de
reputação mundial e isto o levou ao pedido de reparação por danos à sua imagem,
por calúnia e difamação.
O
mais nosense dessa história é que, a despeito de Lipstadt ter feito um trabalho
irretocável do ponto de vista histórico e usando seu direito à liberdade de
expressão, em seu país, os EUA, ela possivelmente não seria processada. Mas
como a editora inglesa, Penguim, publicou o livro na Inglaterra, ela foi
sujeita a um sistema jurídico em que o acusado é que deve provar sua inocência
e não o acusador deve provar que foi lesado.
O
livro conta uma batalha jurídica emocionante. Uma saga que uniu pessoas em três
continentes em favor da verdade. A equipe realizou uma epopeia de pesquisa que
custou mais de dois milhões de dólares à acusada, mas que recebeu imensa
solidariedade e o pagamento foi realizado com doações de pessoas de vários
lugares.
A
leitura de Negação é educativa e nos mostra algo aterrador. A verdade, às
vezes, não basta a si mesma. Não é óbvia ou evidente por seus próprios méritos,
ela precisa de uma guerra em sua defesa. As mentiras de Irving, sua obra
nefasta e enganadora, seu cinismo e arrogância, foram expostos de maneira
devastadora, mas sua obra, como cabe no ocidente democrático e livre, continua
viva, seus livros mesmo agora, possivelmente não editados por editoras sérias,
não entraram para um índex ou receberam uma fátua que os destinaram a uma
fogueira. Seu veneno potencial está ativo e ao alcance de qualquer um. Eles têm
um verniz de seriedade e de pesquisa científica, mas são mentira assim mesmo.
Ler Negação é entender que
a mentira pode ser tremendamente convincente, passar anos despercebida como se
verdade fosse, ou pelo menos uma versão contrária admissível da verdade mais
aceita. Ela continuará sua sanha até que algo se lhe imponha a verdadeira
máscara. É o que acontece a David Irving e seus admiradores nesta incrível
história. Mas certamente eles ou seus filhotes atingidos no âmago de suas
ideias falsas, talvez estejam apenas como esporos, aguardando condições
adequadas para germinar outra vez.
sábado, 20 de maio de 2017
Silêncio
(contém spoiler)
Século XVII,
Japão feudal. Durante alguns anos a evangelização católica foi bem sucedida.
Mas por razões nacionalistas o país, temeroso de uma desvirtuação de seus
valores, deu uma guinada severa em sua abertura aos jesuítas que realizavam a
implantação do cristianismo e passou a persegui-los e a todos aqueles que
demonstrassem a fé cristã publicamente.
Dois jovens
jesuítas defendem junto ao seu superior em Portugal, que deveriam ir ao Japão
em busca de seu mentor, padre Ferreira, que ali desaparecera depois de ter
conseguido algum sucesso como missionário. Em sua última carta havia indícios
perturbadores de que algo estava errado. O filme “Silêncio” de Martin Scorcese
é um projeto que o Diretor acalentava desde 2002, ano em que lançou o “Gangs de
Nova York”.
O elenco
principal conta com Andrew Garfield (pe. Sebastião Rodrigues) – fez o homem
aranha –, Liam Neeson (pe. Cristovão Ferreira) – dispensa comentários –, e um
ator emergente em Hollywood, Adam Driver (Frei Francisco) – fez o neto de Dart
Vader em O despertar da força na saga Stars Wars.
Os dois jovens
padres viverão uma verdadeira epopeia na busca por seu professor e amigo.
Descobrirão que a fé, a despeito da perseguição, resistia nas vilas pobres e
nos pequenos grupos escondidos nas montanhas. Seu guia, um sujeito inconfiável,
era cristão com uma história pessoal de sofrimento por causa da perseguição
religiosa.
Os dois
religiosos logo encontram um grupo de cristãos que os recebem com grande
alegria. Durante algum tempo, em quanto se aclimatam e entendem aquele país tão
diferente, experimentam as perseguições e mortes cruéis a que são submetidos
aqueles que se negam a deixar a fé cristã.
Todo este
sofrimento vai num crescendo. A busca pelo amigo desaparecido de quem se ouve
alguma outra esparsa notícia, mas nada palpável. O homem que os ajudou a entrar
clandestinos, fora cristão, volta-se para fé novamente. Pede batismo, mas numa
alusão à traição sofrida pelo próprio Cristo, pe. Rodrigues será traído por ele
várias vezes, sempre por dinheiro, e logo após o arrependimento e em cada vez o
padre o perdoará.
Em torturas
diversas, psicológicas e físicas, pe. Rodrigues será levado ao limite de sua
fé. Verá a morte de várias de suas ovelhas, resistindo em sua fé a Jesus. Seu
torturador não demonstra raiva, apenas deseja que ele renegue a fé. Pisar na
imagem do Cristo crucificado é uma das formas de demonstrar sua negação.
Ele se volta
para Deus, pede socorro, mas os céus estão em silêncio. Ele sucumbirá para
salvar os que criam. Verá seu amigo morrer para salvar uma garota. Sua alma será
dilacerada em seus últimos recursos.
Por fim, encontra
o que fora seu amigo, confessor e mestre. Tornara-se um japonês. Foi lhe dada
uma mulher. Aqui aparecem as sutilezas. Aquele que homem que fala como se
tivesse repudiado a fé cristã, parece guardá-la em algum lugar de si mesmo.
Pe. Rodrigues
seguirá o mesmo caminho. Igualmente, como parte da cultura local, ele receberá
uma mulher que enviuvara. Ele seguirá os rituais que lhe imporão. Negará a fé
repetidas vezes para satisfazer aos seus captores pisando a imagem do Cristo
crucificado. Ele sabe agora que aquele ato nada é, quando o Cristo continua
vivo dentro dele.
Em
sua morte, os rituais externos da religião Xintoísta foram elaborados e
milimetricamente obedecidos. Então a surpresa, sua esposa, sua alma íntima que
com ele se convertera, sabia que ele calou, mas aquilo que creu jamais se
morreu nele. Entre suas mãos, a cruz repousava delicadamente que ela
amorosamente colocou.
sábado, 6 de maio de 2017
Mãe de pet também é mãe
Desde os anos
1990 o politicamente correto – que não assola apenas as relações entre as
pessoas –, por uma espécie de efeito colateral, invadiu também a cultura, seja
religiosa ou mundana. Por exemplo, nos EUA as grandes redes de lojas passaram a
adotar a expressão Happy Hollidays para fazer suas campanhas de Natal, em vez
do tradicional Merry Christmas que definia com mais exatidão o período da festa
cristã. A razão desta insanidade é que a sociedade americana, como ademais toda
sociedade democrática, é diversa religiosamente e o fato da loja destacar uma
religião em particular estaria, por extensão, discriminando quem era de outra
religião. A razão verdadeira é que travestido de respeito à diversidade
religiosa, o capital quer vender para o maior número de pessoas e o “feliz
feriado” insípido e neutro atrairá qualquer um. O capital não tem preconceito
com dinheiro de quem seja, desde que os cofres continuem enchendo.
Pela perspectiva
religiosa-cultural, a falácia do raciocínio é chocante. Ainda mais quando é
fácil constatar: a sociedade e cultura americanas são definidas fundamentalmente
pelo seu cristianismo, especialmente o protestante. Um exemplo? Sem os negro
espirituals, não haveria jazz nem blues.
Como é fácil perceber,
o que o politicamente correto tenta é dar uma igualdade a todas as coisas, de
tal modo que o contraditório, a discordância ou a menor diferença sejam como
que extintas e as pessoas, em tese, seriam mais respeitosas umas com as outras.
É como se vivêssemos na barbárie, no estado de natureza como afirmou Hobbes, e
o politicamente correto nos salvou.
O resultado,
porém, é uma sociedade de patrulhadores comportamentais, gente enfatuada,
assomada de direitos, e os demais pisando em ovos por puro medo de falar algo
inoportuno e que ferirá, certamente, alguma minoria que eles sequer conhecem.
Outro efeito que percebo é a infantilização das pessoas que, incapazes de se
sustentar para se defender ou se colocar assertivamente em seus pontos de vista,
por exemplo, recorrem à muleta do politicamente correto que tem seu próprio cânon
de regras e leis a dizer os “podes” e os “não podes”. Temos uma sociedade menos
espontânea, superficial, materialista e totalmente contingenciada pelo labirinto
de comportamentos que se deve ter em público para atender as minúcias da infindável
lista de palavras, ideias e, claro, comportamentos, que foram inseridos no
índex do politicamente correto.
Antes que um
desavisado ou maldoso infira que discordo da proteção social a grupos que
realmente precisam de ajuda, afirmo que não é isso, mas se por sua realidade, verdadeira
ou suposta, qualquer grupo é elevado ao status de onipotência e a uma posição
tal que não pode ser contestado, como se sua condição lhe desse o condão de ser
puro e infalível, sim, me oponho.
O politicamente
correto distorce valores, recria castas, regride as pessoas emocionalmente e
lhes dá uma posição de verdade e absolutização de suas ideias e posições
políticas. Atender às suas demandas quase sempre estão associadas às ideias de
justiça, reparação e igualdade, termos que, convenhamos, têm poder por si mesmos,
pois quem será contra realizar estas coisas? A questão, porém, é que no agir destes
minoritários estes pressupostos são usados como fatores de constrangimento e
inculcação de culpa em quem nada tem que ver com isso, especialmente se o que
reclamam aconteceu num passado longínquo, mas é culpado ou porque tem posses ou
tem uma cor específica.
É tal a
contaminação desta forma de ver a vida que tanto faz o que for, desde que a maioria
de minorias aprovem. Eu que tenho o azar de não ser parte de nenhuma minoria –
nem desejo – estou virtualmente num limbo. Estou com todos os outros quase
sempre vistos em oposição às centenas de minorias com suas razões imaculadas. E
eu só preciso ser diferente deles.
Assim me deparo
com a campanha do dia das mães da Potiguar/Terra Zoo, cuja frase é um primor
desta filosofia que aqui deploro: Mãe de pet também é mãe. Vejam, não
contradigo qualquer valor afetivo ou utilidade de se ter um animal em casa, até
mesmo como efeito terapêutico, como afastar a solidão. De fato, existem estudos
que indicam o benefício de se ter um bicho de estimação entre idosos, crianças
e pessoas com algum problema de saúde. Mas este não é o ponto, mas a elevação
das relações afetivas entre pessoas e animais ao nível das relações inter-humanas.
A foto icônica que define aquela campanha das empresas co-irmãs é um cachorro
lambendo o rosto de uma jovem mulher e a palavra “mãe” cobrindo quase toda a
foto.
O que acontece
aqui nesta foto “inocente”? As mães foram rebaixadas ou o cachorro foi elevado?
Se é certo que muitas pessoas, chamam cachorros especialmente de “filhos”, a
questão não é só semântica, como se pudéssemos usar as palavras como bem entendermos.
No caso aqui, define uma realidade repetida à exaustão que neste texto não é
possível avaliar. Para quem fala é ipsi
literis o sentido de um filho, gerado nas entranhas, embora o tal bicho
desconheça, por óbvio, que aquela pessoa seja sua mãe de verdade, mas reage ao
ser tratado com cuidado. É um animal meramente condicionado, sem desmerecer o
fato.
É tal a situação
horrenda gerada pelo politicamente correto que um caso recente, mesmo tendo
sido no Supremo Tribunal Federal, que se gaba de não ouvir a voz roucas das
ruas, mas apenas as leis ou a Constituição – uma mentira –, teve lugar no imbróglio
da proibição da vaquejada. Pouco antes daquela decisão, o juiz contrário mais
aguerrido conta a vaquejada, sua excelência Luís Barroso, avançou para além da
Constituição que deve defender, a despeito de suas ideologias pessoais, e
decidiu que um feto até o terceiro mês pode ser perfeitamente abortado, sem que
nem médico que pratica o aborto, nem a mãe incorram em crime. O Código Penal
diz que abortar é crime. Li a piada em algum lugar que o ministro dá mais valor
ao rabo de um boi do que a um ser humano.
A única forma
de enfrentar o politicamente correto é com a verdade e a defesa do direito de
todos igualmente. É acusar o coitadismo que esta forma de pensar cria; é
substituindo o elemento pena pela compaixão nas relações humanas; é afirmar o
valor de princípios que são perenes contra a lei do vale tudo que deseja forjar
um tipo de igualdade burra.
sábado, 22 de abril de 2017
A Baleia Azul
Eu soube do fenômeno Baleia Azul pelos jornais, mas logo em seguida os grupos dos quais
participo no whats foram engolfados – não é uma figura de retórica – numa
verdadeira histeria de imagens – algumas terríveis e nem se sabe se são de pessoas
ligadas ao problema – e textos que iam do pavor e fala apocalíptica à piada
ridícula e sem graça, algumas religiosas. Como se as vítimas dessa horrenda
“brincadeira” fossem meros idiotas que não tem o que fazer ou que lhes faltam
disciplina e religiosidade.
Acho que
chego atrasado. Um jovem youtuber, que tem coisa de 10 milhões de seguidores,
postou um vídeo que teve quase 5 milhões de visualizações até o momento em que
escrevo este texto – não sei se foi orientado por um profissional – que fala
algo quase óbvio: meninos e meninas emocionalmente saudáveis estão vacinados
contra essa demência coletiva. Em resumo foi isso que disse.
Mas claro!
Pessoas se tornam pessoas quando aprendem a lidar com suas emoções. Este
aprendizado quase sempre vem de uma família que, a despeito de suas
idiossincrasias – toda família tem –, se importam uns com os outros, se afagam,
são afetivamente atuantes, conversam entre si e criam com isso um ambiente
propício à liberdade, à tolerância, à empatia.
A nefasta
Baleia Azul é um ser parasítico. Quem a conduz e organiza, são seres miseráveis
e nefastos, mas não aquele comum cujo maior mal que faz é a si mesmo. É um tipo
maligno de mal, aquele que goza com o domínio, o controle, a manipulação
emocional e cognitiva dos mais fracos. Os que estão por trás desta Baleia Azul
assassina, se alimentam da miséria alheia, são comedores de tristeza e
desamparo. Eles são atraídos pela dor e como tubarões famintos são capazes de
cheirar sangue a quilômetros de distancia. Eles usam iscas que simulam algo
grande, transcendente para almas fracas e abandonadas, estas viciadas em suas
próprias dores porque apenas conhecem do mundo – alguns muito cedo – o que há
de pior na raça humana. Ou adoeceram, tem anemia emocional, um sistema afetivo
imune debilitado.
A Baleia Azul parecerá às pessoas saudáveis um exotismo que não lhes
atrairão, pois gostam de luz, não de trevas como os milhões de jovens
depressivos, melancólicos, afetivamente abandonados, violados em sua inocência
e que não receberam uma gota de aprovação de pessoas que os apreciassem pelo
que são. O buraco da grande falta precisa de algo do tamanho de uma Baleia para
tapar. Que importa se é uma Baleia-demônio, que importa sua cor, que importa se
ao final de uma lista de tarefas está a morte – eles já se percebem mortos em
algum grau –, basta que prometa que seu vazio, de alguma maneira insólita, será
preenchido. A dor física como caminho que acaba com a angústia nada é, a morte
também não.
Dizem que a discussão e os alertas devem ser sobre suicídio, infelizmente
um problema que tem aumentado. O aumento de pessoas deprimidas está diretamente
relacionado. O Brasil é o terceiro país mais deprimido do mundo, atrás dos EUA
e França. Cerca de 5,8% da população brasileira tem depressão. Aqueles que são
diagnosticados que, seguramente é uma parcela menor, pois não é raro que a
doença castigue alguém por anos até que seja tratada. Entre os deprimidos, ao
redor de 15% tentam o suicídio, alguns conseguem. Todo deprimido tem ideação suicida.
A morte parece ao deprimido a libertação suprema, pois qualquer coisa é melhor
do que o vazio abismal que abriga no peito. Uma pessoa desesperada não tem
medo.
Nenhum ser humano é pra baixo por natureza. Nenhuma pessoa é triste sem
causa. Ela o será por contingência ou por doença. Mudanças de comportamentos
que permanecem por mais de duas semanas, isolamento, desmotivação, semblante
permanentemente fechado como um céu que se prepara para uma tempestade, apetite
e sono descontrolado – para mais ou para menos –, pessimismo, falta de energia,
desprazer em coisas que antes eram prazerosas, são sinais fáceis de perceber.
Ajuda especializada deve ser procurada.
A depressão é insidiosa às vezes. Não importa o seu grau, ela causa
estragos emocionais, sociais e, se não tratada, produz consequências nefastas.
O jogo baleia azul é apenas um carniceiro que se aproveita de uma fragilidade
que já existe. O remédio contra ele é o cuidado de nossos jovens.
quarta-feira, 5 de abril de 2017
Não sou tão ruim assim, sou vítima do machismo
A história
teve enorme repercussão. Começou como fogo em monturo: é quente, há fumaça, mas
não há labareda. Bem, até achar um combustível mais incendiário. No caso em
questão foi a realidade que se impõe de novas e necessárias relações entre
homens e mulheres, mas também pelo escândalo em que a coisa se tornou. Um ano
antes, a moça fez uma reclamação no RH e nada.
“E agora
José?” O primeiro movimento do ator José Mayer foi clássico quando alguém é
pego em flagrante delito, mas que a ficha ainda não caiu. Institivamente, o
sujeito nega que tenha praticado uma versão bruta do teste do sofá. Tenta, como
ele, vender-se acima do bem e do mal evocando seu lugar de homem público que se
coaduna com as boas relações de respeito às colegas. Neste momento a ferramenta
é a dissonância cognitiva, afinal a fera só atacava nos bastidores. A versão pública
era a estrela. Em seguida clama por suas relações familiares, que é sempre um
bom salvo conduto de toda canalhice.
Derramado o
leite, sem saída, encalacrado com a mão na botija, a esquerda, literalmente,
exposto pela investigação, suspenso, a saída, única possível em tais
circunstâncias: confessar. O caminho da redenção sempre começa com a confissão
e possível reparação. Uma carta aberta, que tal?
Mas, refeito
do susto, com algum grau de controle de si, despertado para a perda gigantesca
de credibilidade, o que implica em perda financeira também, está atordoado. O
sujeito não está disposto também à autoimolação no altar do sacrifício ante a
plateia do “mexeu com uma, mexeu com todas”, a opinião pública que brada por
uma fogueira em praça. Então é preciso uma saída em que se admita o mal feito,
mas também que, de algum modo, se é vitima, o que relativiza a culpa.
Aqui está o X
da questão na carta. Talvez a única coisa que escape em toda ela é a frase com
duas palavras: “Eu errei.” Todo o resto é dispensável. Exceto aquilo que não
está lá: peço perdão. A segunda frase, embora ratifique o “eu errei”, prepara o
terreno para o mais importante: sou vítima. Gozei, aproveitei, me esbaldei
nesta condição por sessenta anos, mas exposto, digo que aprendi e estou em
reforma, mas não teria aprendido se não fosse pego, porque era bom e sempre deu
certo.
A vitimização
pela cultura machista é uma boa estratégia, mas não funciona. É razoável crer
que um ator com toda esta cancha, dezenas de papeis de galã e mocinho, sequer
desconfiasse que, no quesito em que falhou, já não se admite? O pessoal tem
cisma do fiufiu, que dizer da mão boba? Ou ele tinha toda a confiança de que
poderia fazê-lo sempre sem nada dar errado?
Condenar o
machismo porco chauvinista é ótimo – mesmo que admita ser um, momentaneamente,
por 60 anos – para a plateia feminista e o povo do politicamente correto. Mas
será mesmo que os “Zecas Bordoadas” são os culpados? Ou a empáfia, o senso de
onipotência cevado em papeis que o galgaram ao lugar de astro e no qual,
parece, ele acreditava piamente? A sensação de segurança por morar no Olimpo
global para quem uma mulher jamais diria não? A decrepitude que ameaça na
esquina, afinal o sujeito vive de aparência e agarrar uma donzela talvez
funcione como um antídoto? O exercício de uma virilidade capenga, de um
garanhão ameaçado por outros machos candidatos ao posto alfa? Ter a doce,
inebriante e perigosa sensação de poder sobre um outro inferior? Dar vazão ao
seu narcisismo rapinante?
O singelo
palavrão com que alcunhou a vítima – Vaca – revela um homem tomado de
frustração, um homem cheio de soberba, que se percebe no controle, mas que o vê
desafiado por uma “reles” figurinista que, por razão que lhe escapa, não cede
aos seus arroubos chinfrins. O que ela pensa que é?
Explorar a
versão de um homem em processo de reestruturação é uma boa sacada, mas também
não funciona quando se coloca no lugar de mártir, o primeiro de uma raça livre
daquele vírus chamado machismo. Sua nova persona, refeita, refinada no que
chama de “dolorosa necessidade de mudança”, se torna um exemplo e um convite
para tantos que pensavam e agiam como outrora foi: que mudem!
É
uma versão sofisticada do mantra tristemente consagrado pelo petismo: todos
fazem... e na cabeça do público um pensamento, ele espera, complementa a frase:
então não sou tão ruim assim. Mas isso é só cinismo.
Assinar:
Postagens (Atom)