Durante
missão na China, a ministra
da Agricultura, Kátia Abreu, recebeu uma demanda inusitada de um empresário. O
investidor disse ter interesse em importar 1 milhão de jumentos por ano. A
história foi relatada pela própria ministra, pelo microblog Twitter.
Fonte: estadão Conteúdo (18/11/2015)
Juntar
jumentos e chineses num mesmo texto é um desafio. Então, vamos lá. A ministra
da Agricultura, Kátia Abreu, está na China. Diz que fazendo negócios para o
Brasil. Estava ela no convescote, a provar dos exotismos culinários do Império
do Meio, o passeio na Praça da Paz Celestial. De repente, ao caminhar pela
icônica Muralha, saído do nada, um empresário chinês propôs à queima roupa: tem
jumento pra vender? Tô precisando de um milhão por ano, por aí. A ministra riu,
incrédula. Teve que perguntar ao tradutor o que diabos dizia aquele chinês. O
tradutor assegurou que havia dito corretamente: o homem queria comprar
jumentos.
A ispilicute
ministra que, parece, voltaria contando mundos e fundos, mas de sério necas,
abriu um sorriso desse tamanho. Voltou-se para o tradutor: pois diga ao nobre
empresário que temos jumento pra vender. Jumentos made in Brazil. Quantos ele
quer? Havia dois cifrões nos olhos da ministra. Em sua cabeça, as ideias
passavam rápido. Uma frase saltou entre todas: era a libertação do nordeste de
séculos de miséria que o jumento representava tão bem. Isso trabalhado por um
marketeiro dava uma vaga na disputa pra presidenta. Lembrou que outro dia um Promotor
recomendou churrasco de jumento como forma de dar um destino aos abandonados
animais em estradas e pelo desemprego cavalar em que estão eles e nós. Povo
pouco apegado às tradições, os nordestinos substituíram os jumentos por motos
sem cerimônia. Um disparate!
O tal
churrasco jumentício causou manifestações estridentes contra e a favor. O
brasileiro, nordestino, ainda olha para o jumento com pena, como seu parente
esquecido. Tudo bem ignorá-lo, largá-lo nas ruas e BRs, mas comê-lo, aí só numa
seca braba daquelas de querer comer couro de tamborete. Estão quase chegando lá
com o novo El niño que veio endiabrado dessa vez e a transposição do São
Francisco que ficará para o próximo milênio.
Ainda em
devaneios, a ministrete teve o semblante obnubilado por ligeira preocupação.
Não correria o risco de, por engano, exportar os jumentos do governo, a começar
pela presidenta jumenta? valha-nos! Seria um baita escândalo diplomático. Nesse
governo pode acontecer de tudo. Ela queria se referir à jumentisse,
naturalmente no sentido figurado, conotativo, pois não? Os jumentos emprestaram
seu nome ao epíteto desinteligente pelas caras de parvos que têm. Eles,
propriamente, podem ser acusados de razinzas, teimosos, empacadores, birrentos,
lerdos até, mas não de retardados. Refiro-me à pessoa do jumento.
Auxiliares que
souberam da alvíssara notícia, ainda que, convenhamos, um tanto despautérica,
perguntaram à ministrete para que fim o chinês queria tanto jumento. Os
chineses teriam descoberto um filão de ouro com nossos jumentos, o que nos
colocaria, de novo-velho, na condição de meros fornecedores de matéria prima? A
ministrete leu esse pensamento. Os jumentos seriam os novos insumos da cadeia
produtiva de... do quê mesmo? Ela mesma estava disposta a ser garota propaganda
mundo afora das maravilhas que só nossos jumentos têm. Eles seriam o mais novo
ramo do agronegócio exportador. A commodity que seria negociada nas principais
bolsas do mundo. Aliás, era só botar o pé no país e proporia a criação imediata
da BFJ – Bolsa Futura de Jumentos medida pelo índice zurrotech. Se duvidar,
acredita ela, teremos o equivalente a uma nova era da cana-de-açúcar ou
pau-brasil.
E se os
chineses quiserem falsificar carne? Vender jumento passando-se por boi, não vai
prejudicar nossa exportação bovina? Cala a boca, meu filho! Nós aqui ante a
conquista da China e tu pensando pequeno! A venda de jumentos livra o Nordeste
dessa peste. Tu sabes que jumento virou peste, né? Gera divisas pro Brasil. A
essa altura ela contava nos dedinhos cheios de aneizinhos. Alimenta a chinesada
e, quem sabe, o mundo. Ah, vai dar emprego aos nordestinos.
A
caravana ministerial com quatrocentos e cinquenta assessores, fora maquiadores
e puxas-saco – a ministrete não tem saco, sei, sei – estavam em estado de
graça. Dilma já convocava a imprensa para uma coletiva em que diria que, sim,
deu com os burros n’água, mas achou a saída nos jumentos. Sabe lá o que é
descobrir a salvação do Brasil?