domingo, 12 de outubro de 2014

A vida secreta do nariz

Se as coisas não estiverem cheirando muito bem, talvez seu tempo no mundo esteja chegando ao fim. De acordo com um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Chicago, nos EUA, problemas no nosso olfato podem indicar que a morte está próxima.

Fonte: Gizmodo (UOL) (06/10/2014)

Outro dia uma pesquisa esclareceu que nosso nariz é capaz de reconhecer um trilhão de cheiros! De repente, o nariz passou a ser objeto de investigação, acho que retirando-o de um certo ostracismo científico, porque estético parece não ser necessário. Os cirurgiões plásticos que o digam. Sem contar a sabedoria popular, meio fora de moda, de que homem narigudo teria também vantagem centimétrica em certa parte anatômica.
Fora disso, não se vê o nariz sendo cantado em verso e prosa. Ele está lá, na maioria dos casos, anônimo, diluído na paisagem do rosto. Goste-se ou não do formato e tamanho, o nariz pode ter personalidade e até algum charme, mas os olhares, ao fim e ao cabo, vão se debruçar sobre outros lugares. Convenhamos, um nariz fora de contexto é uma esquisitice só. O pau da venta e dois buracos. E tem aqueles que parecem se exibir não só porque se lançam para frente como aríetes, mas porque arreganham os orifícios. Alguns destes possuem até asas laterais que mesmo em respiração basal se movem como se quisessem alçar voo.
Minto. Não tem parte mais evidente e trabalhosa do que nariz numa gripe. O meu cresce e distorce. É raro ficar gripado, então poucas pessoas no mundo o viram neste estado de lástima. Cresce tanto que o olho diminui. Fora os rios de gosma que produz. Então ele se irrita e ora entope um lado, ora outro. Às vezes, só pra contrariar, entope os dois lados no que pode levar um à beira da loucura ou da morte por asfixia. Coça como se desembestasse sem saber mais para que serve. 
Haverá um parafílico pelo nariz? Tem gente que tem tara por pé. Machado escreveu um livro inteiro sobre o tema e a confusão que dá de olhar só o pé e não olhar a cara. Isso só pra dizer uma parte do corpo não muito convencional quando se trata da área sexual. Mas a lista é grande. Tem até coprofílico. Haverá uma seita secreta de adoradores de nariz? Se há, é tão secreta que ninguém nunca viu. 
Tem aqueles que os gostam deles não depilados. Os tufos saltam para fora como capim seco crescido. Uma mata emaranhada que dá uma sensação de gastura. Não terá falta de ar, a criatura? Até para tirar a meleca pede uma operação de desmatamento, imagino que com licença ambiental. Falar em meleca, reza a lenda que o segredo do técnico alemão na copa do Brasil, inclusive com cheiros de mandiga, é comer a própria meleca. Foi flagrado mais de uma vez no ato. Pelo sim, pelo não, deram uma surra nos brasileiros de 7 a 1.
Deparo-me agora que o nariz, ou melhor, o olfato confuso ou diminuído é garantia de que o desolfatado caminha incontinenti para a morte. A pesquisa chega a dar prazo e relação de proporção: a incapacidade de cheirar direito indica chance de morrer nos cinco anos seguintes e que esta profecia científica se realiza três vezes mais entre os descheirados do que entre aqueles que cheiram tudo.
Não consta que meu singelo e protuberante nariz tenha falhado ultimamente, ainda que não queira sugerir nem de longe qualquer outra intenção com esta história de falha. Até me gabo de ter um nariz mofino a cheiros estranhos e também aos bons cheiros. Mas fiquei meio ressabiado. Então o indivíduo é submetido a um teste de alguns cheiros e ao não conseguir identificar ou se confundir, como se fosse um disléxico olfativo, pode encomendar o caixão.
E agora? Lembrei que errei cheiros. Me confundi. Será? Não erraria os olores do teste: laranja, peixe, rosas e hortelã-pimenta. Mas um errinho conta? Um erro com nariz entupido conta? Uma distração nasal? Estava ocupado com outros cheiros e quando me foi perguntado, atrapalhei-me e errei. Ah, isso para desespero do testado a reportagem não explica.