Tem gente que
pensa que o mundo lhe deve algo. Grande parte dos que assim pensam e agem, nem
sabem discriminar o que seria esta dívida. Outros a definem de muitos modos. Pode
ser por meio de atos de empáfia, arrogância ou uma vaga certeza de alguma
superioridade moral, econômica ou outra coisa qualquer.
De fato,
subjaz a estes comportamentos uma brutal insegurança. A percepção de que os
outros lhe são devedores é uma compensação para sua própria autoestima
desgastada. Faltou-lhes a aprovação necessária em algum momento da vida e
então, cobram a fatura do resto do mundo.
O mundo falhou
com eles, pois que paguem. Em todos os perfis psicológicos das pessoas que
infligem maldades aos outros, passando por ditadores sanguinários, parceiros ou
parceiras afetivos abusivos, pais ou mães que alienam filhos emocionalmente,
sociopatas assassinos, há traços de sentimento de inferioridade, ódio e
distanciamento afetivo dos outros.
Há quem diga
que Hitler sempre foi medíocre em tudo. Mas com uma vontade de ferro e crenças
adoecidas sobre o mundo e as pessoas. As muitas rejeições, por sua
mediocridade, alimentaram sua loucura e deu no que deu.
Estes eternos
credores de todos guiam suas relações pelo débito-crédito. Tem memória de
avaros emocionais. Eles só fazem algo por você, quando fazem, se você fez algo
por eles. E fazem isso com filhos, esposos/esposas e amigos. Ninguém escapa de
sua contabilidade. Criticados, respondem com lero-leros inexplicáveis, que são
mais eles, etc.
A razão de se
sentir credor dos outros pode ser religiosa. Esta razão, por si, é muito
perigosa por que vem empacotada num sentimento de preciosismo, de se sentir
escolhido ou bafejado pela divindade. Na miséria pessoal humana já é um perigo,
imagine com uma certeza louca de ser um escolhido.
Por minha vez
digo: ninguém me deve nada. Porque dever nas relações humanas, excetuando-se as
questões comerciais, somos nós que, por sensível consciência, entendemos que
devemos e ninguém nos deve. É um tipo de escolha. Se preferirem, um estilo de
vida. Uma compreensão ampliada de todas as relações que estabelecemos agora ou
no futuro.
Preciso
reavivar sempre em mim que as pessoas não estão à minha disposição para atender
meus desejos e caprichos. Que devo urbanidade àqueles com quem encontro, mesmo
quem não conheço. Que devo pedir em vez de mandar. Que devo, sempre, usar as
palavras mágicas: por favor, com licença, obrigado, desculpe... independente de
meu interlocutor.
Devo o
respeito à dignidade intrínseca que todo indivíduo tem, mesmo aqueles que, por
razões absurdas em mim ou nas circunstâncias, eu não goste ou simpatize. Devo a
compaixão aos caídos e solidariedade aos que sofrem, só porque agora é a vez
deles, um dia será a minha.
“Sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes.” Romanos 1:14