O Google acaba de lançar mais uma de suas
ferramentas inovadoras, o “Gerenciador de Contas
Inativas”. Ela permite que suas contas inativas sejam excluídas a partir
de um tempo determinado por você, que pode escolher entre três a doze meses.
Fonte:
Pavablog (16/04/2013)
Ela
chegou e, sem mais nem menos, perguntou: você permite que eu inclua seu email
entre as minhas dez pessoas de confiança? Era inusitado para mim que, sim, a
conhecia, tinha certa proximidade, mas alguém a ser incluído no seu seleto
grupo de confiança era um pouquinho demais. Eu não imaginava que era tido em
tanta conta nesta amizade. Temi o peso da responsabilidade. Quis saber a razão
do pedido.
Ela
esfregava as mãos, o rosto denunciava aflição. Puxava o ar com dificuldade e lá
pelas tantas, botou a bombinha. Daquelas que pessoas com asma usam. Eu também
não sabia que ela tinha tal problema. Sem que perguntasse, explicou. É que
quando fico nervosa, tenho crise asmática. Mas havia várias outras doencinhas das
quais se queixava: tinha ou julgava sentir. Em suma, era uma hipocondríaca e
tanto mais a ansiedade estivesse presente.
Explicou
que o Google havia notificado sua página da rede social e email em que ofereceria
algo muito prático e útil para as pessoas. A besta Google apelidou o tal
dispositivo de “Gerenciador de contas inativas”. É a possibilidade de matar seu
perfil, fechar email, dar um fim nos milhares de posts – a verdadeira história
de sua vida – e milhões de fotos, lista de contatos e outro sem número de
badulaques.
Segundo
o monstro Google, havia uma singela preocupação com os perfis – e outras tantas
formas de existir na internet – fantasmas. O proprietário morrera ou
simplesmente abandonara às moscas sua participação, alimentação e atualização
de sua presença no mundo virtual e eles vagavam como espectros de vidas
passadas. Se de mortos, atormentando os vivos com – sabe-se lá por que razão – contatos
imediatos de milésimo grau, posto que vindo supostamente do além – algumas
destas aparições falecidas enviam e-mails como se vivas estivessem.
Não
fossem também uns desavisados que insistiam, explicava o Google, em manter
contatos com estes eflúvios fantasmáticos por pura demência, pois não se davam
conta de que seus mantenedores haviam desaparecido ou abandonado a página à
própria sorte entre bilhões de outras, anonimadas, esquecidas, mortos vivos de
lembranças e historinhas insignificantes da vida igualmente medíocre de quem os
fez.
Tuta
(apelido daquela amiga) estava inconsolável. E eu precisava saber como
funcionava a coisa, pois para quê mesmo eu deveria ser colocado naquela posição
de confiança de que falou? Tornaria-me um guardião do Hades eletrônico, eu que
tenho pouquíssima parecença com o cérbero? Disse-me que funcionaria assim: antes
de morrer, ela poderia programar a apoptose de seu site, blog e o escambau do
que fazia parte e cuidava com zelo obsessivo.
Dez
pessoas (de confiança, fez questão de enfatizar) receberiam seus dados, como se
faz com as cinzas de um cremado. Então, o site se autoimplodiria. Antes, porém,
num primor de delicadeza e atenção, cerca de um mês antes do dia fatal, o Google
enviaria um email perguntando se a pessoa estava viva ou morta ou se apenas
tivesse dado um tempo do saco que é alimentar indefinidamente este tipo de
coisa. Isso para que fossem confirmadas as exéquias do site, blog, perfil, etc,
etc.
Aí residia seu desespero.
Queria se preparar para o pior e não deixar, afinal de contas, sua vida, ao léu
como defunto sem choro ou cova sem flores. Com os tais guardiões de seus restos
mortais eletrônicos estava quase resolvido, eu era o último deles, caso
aceitasse a incumbência. Mas que data marcaria? E se o email de averiguação
chegasse e já estivesse morta? Diante de minha estupefação e já dando com o meu
aceite sem que eu respondesse, finalizou: que bom que você aceitou, agora só
preciso saber como mando um email do outro lado. Minha cara de espanto provocou
nela a necessidade de explicar-se, o que disse com certo enfado: Para confirmar
que estou morta, né?