segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Uma coisa é uma coisa, outra coisa...


A Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia, entidade da sociedade civil, entregou nesta quarta-feira (22), ao presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), um projeto para mudar a lei 11.343/2006, que trata do uso de drogas no país. A idéia é fixar normas mais claras para diferenciar usuários de traficantes e, dessa forma, diminuir prisões e mortes.

Fonte: G1 Maria Angélica Oliveira – Brasília (22/08/2012)

Que tal definirmos um perfil do que é um traficante e um usuário de drogas? A reunião começava com um pedido que por pouco não era uma sugestão. É muito subjetivo, atalhou alguém. O que existe de subjetivo na aparência. Acompanhe comigo. Traficante de responsa, não gerente de boca de fumo que são todos uns lascados, anda cheio de ouro, roupas de grife e tênis estalando de novo, combinando com a coleção de relógios. Olho vermelho mesmo só se for porque não dormiu bancando mais uma festinha regada a bebida cara, periguetes de tudo quanto é cor e qualidade e uns dois jogadores de futebol bebendo e posando com armas de uso exclusivo do exército, mas que estão ali só para garantir a segurança dos convidados, afinal, não se pode confiar no entorno.

E o usuário? Quis saber alguém. Ah, aqui temos que definir alguns padrões. O rico que mora nos melhores bairros, anda de carro importado com o qual faz rachas e coleciona multas de trânsito. Isso quando não tem uma ou duas mortes resultado de alguma traquinagem com um dos carrões. Mas esse não vai preso. O outro usuário, o que vai preso, anda lambungo, fedido, com ar desesperado e faz qualquer negócio por uma pedrinha. Olha, isso está muito complexo. Considerando o QI médio de um policial e ainda trabalhando sob pressão, eles vão meter os pés pelas mãos e misturar alhos com bugalhos. Vão dar umas bifas no usuário de segunda categoria, dividir bagulho com o rico e participar da festa do traficante. É muito para eles.

Então temos que decidir com que quantidade de droga alguém pode ser preso. O que, exatamente, diferencia o traficante do usuário. Um esperto participante respondeu rápido: a quantidade de droga. O coordenador da reunião elogiou pessoa tão atilada. Sim, mas quanto mais? Alguém provocou. Simples, disse o elogiado, embalado por tamanha inteligência. Aprendamos com nossos irmãos portugueses. Uma pessoa com droga suficiente para consumir por dez dias é um simples usuário, quiçá, uso recreativo. Mais que isso, é traficante na certa. Gente, isso é um primor de solução. E funciona, nobre sapiência? Ora pois, e muito bem. Pois então apliquemos o mesmo nas terras tupiniquins.

Mas havia um advogado do diabo. Sempre há. E aqueles traficantes que fazem trabalho de formiguinha para se passar por usuário? Esta pergunta é impertinente. Não existe este tipo por aqui, como não há gays no Irã, segundo afirma nosso camaradinha Mahmoud. Temos que definir a quantidade exata de pedra, baseados, gramas de pó, cartelas de ácido, comprimidos de ectasy. Alguém aí chame um matemático. Que não tenha fumado nada nos últimos quinze dias, ouviram?

Passemos às punições. Sim, porque haveremos de ser duros com esta reforma da lei que a Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia propõe. Uma pergunta. Sim? Por que raios as drogas estão misturadas à democracia no nome desta comissão? Pergunta fora de ordem. O nobre expertise não tem direito de fazer esta pergunta, mas, para que não diga que desrespeito seu direito de perguntar tirá-lo-ei de debaixo deste manto da ignorância. A democracia... Muito bem. As drogas no Brasil varonil... Enfim, dar-lhe-ei a concessão de reformular sua pergunta desde que mude a audácia de querer achincalhar nossa democracia.

Alguém tem alguma sugestão para punir os usuários? Cuidado, pois não podemos criar preconceito contra o maconheiro. Surpresa dos assistentes da reunião. Aham, desculpem. Escapuliu a palavra... Continuemos. Ah, prisão para o cocainômano não pode também. Pois que seja, sanções administrativas. Bem pensado. Obrigá-los a participar de projetos educativos. Muito bem. Mandá-los para serem exorcizados na Universal. Em uníssono um Oh! Mas então, alguém muito rapidamente emendou, nessa não que as coisas lá andam meio fracas, melhor mandar para Mundial. Isso. Ouviu-se de alguns, enquanto o coordenador ainda se recuperava de um engasgo.