segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A vingança é uma prato com baratas


O popular Zoológico do Bronx, em Nova York, celebrará o Dia dos Namorados (que nos Estados Unidos é comemorado em fevereiro) com uma campanha pouco habitual: vai colocar o nome dos casais apaixonados em baratas gigantes de Madagascar em troca de uma doação para preservar a espécie.

Fonte: Da EFE 26/01/2012 17h26 
O zoológico ia de mal a pior. A zebra, perdera as listas de tão velha. Um único elefante tinha uma presa o que o tornava um paquiderme banguela. Visão um tanto desconcertante. Isso sem contar um pedaço da orelha que foi arrancado pelo leão que andava vesgo de fome. Os demais animais não estavam em melhor situação. Quem gostaria de ver tal espetáculo? Havia que fazer algo e urgente.
A proximidade do dia dos namorados, que pelas latitudes nórdicas acontece no inverno, atiçou as ideias do pessoal que já sondavam opções mais drásticas. Alguma coisa como dar chumbinho em doses cavalares aos bichos, se me permitem o infame trocadilho. Somente atinei para a casualidade da data com o período frio (14 de fevereiro) pelo singelo fato: que ocasião seria mais propícia para se ter uma costela em quem aquentar-se se não no frio descomunal?
Mas quem já amou sabe, não existe coisa melhor no mundo. Menos quando temos a desdita de amar a pessoa errada ou ser amado pela pessoa errada, o que, de certo modo, dá no mesmo. Daí que o que é amor, ou o que se chama assim, vira alguma coisa esquisita, uma mistura de mesquinharias, avareza, traições, vinganças ridículas ou coisa muito pior, ver-se obrigado por razões não admissíveis em público ou para a família, a ficar com o outro de quem desamamos, o que é um brutal enfado.
Nestas horas, dar a este ou esta desinfeliz um apelido é uma destas formas peçonhentas de atazanar o outro sem ser incluído na Maria da Penha. Quer dizer, isso se, processado, um advogado não conseguir transformar os tabefes que não foram dados em grave dano emocional, acrescido da humilhação de ser chamado por uma alcunha desabonadora.  Claro, os apelidos carinhosos, a estas alturas, causam asco. Não tem graça apelidar ou comparar o outro a algo que não o desconstrua, que não o ridicularize.
Isto nos coloca na delicada situação de que dar o nome do outro a uma barata deve carregar discrição tamanha, como se fosse uma operação secreta. Mas, caso o outro descubra – ninguém está a salvo com estas pragas das redes sociais, que são a fofoca elevada ao estado da arte – deve-se negar até a morte. Aborreça-se e volte a acusação contra o outro. Quem você pensa que é? Acha que só você tem esse nome no mundo? Os outros pagam royalties para você por usá-lo? É infalível. O que não se pode é perder o desprezível prazer de se referir àquele ou aquela com o  depreciativo apelido, pois como se referir ao desditoso ou desditosa? Pelo nome, nunca.
Ora, sabendo desta sanha que todos carregamos – uns mais que outros – o marketing do zoológico – que era o carinha que tomava conta das hienas que morreram todas não de rir, de fome mesmo – sugeriu que a praga de baratas que infestavam o lugar fossem, em vez de empestiçadas, adotadas, digamos assim, pelos visitantes. Claro, por módica quantia.
Este cara, convenhamos, tinha espírito de porco. Fora algum entomologista exótico, o que se perdoa, desconheço quem goste de baratas. Bicho asqueroso, fedido, adoecedor, empesteado. Pois eis a ideia do carinha das hienas. Os namorados dariam nomes de seus respectivos às baratas. Pagariam por isso. Sacaneariam seus queridos e queridas, o que tem seu (enooooorme) prazer e ajudariam a causa do zoológico que estava caindo pelas tabelas.
Havia baratas pretas com asas cor de folha seca, albinas, a avermelhada comum, aquelas pequeninas esbranquiçadas, umas voadoras, ameaçadoras, as gigantes de Madagascar (Gromphadorhina portentosa), umas sem asas, meio moles, que quando esmagadas expoem aquele interior pastoso e de cor creme. Eca! Casais mais excêntricos poderiam dar os nomes para casais de baratinhas. Ah, abriu-se a exceção para se dar o nome da sogra, do patrão...
"Quem quer casar com a dona Baratinha, que tem fita no cabelo
E tem dinheiro na caixinha?" Eu, eu, eu. Pelo menos se não der certo, ela já é uma barata mesmo, vou poder xingar à vontade.