Nas montanhas do Atlas, no Magreb argelino – Tibhirine, uma
pequena comunidade vive seu ritmo tranquilo e em paz. Um mosteiro de monges trapistas
arrodeada de muçulmanos a quem servem de muitos modos: assistência médica,
vestimenta, trabalho. Uma fórmula estranha quase borra a fronteira entre as
duas religiões. Descubro que a tal fórmula é o amor e seus frutos de respeito e
tolerância.
De repente,
rumores de que fanáticos islamitas, motivados pela fé distorcida e o desejo
pelo poder, começam a agir em vários lugares do país. Atacam covardemente
pessoas indefesas, homens e mulheres que se vestem de forma diferente, são
estrangeiros ou não professam sua mesma visão de mundo. Decapitações e degolas
são modos sinistro de infundirem o medo.
Aos poucos, a
comunidade ao redor do mosteiro é tomada de assalto pelo medo e preocupação. Os
monges são colocados em cheque: deixar o lugar e voltar para a França ou
esperar e enfrentar o inimigo ao lado de “seu povo”? Cada um dos oitos monges
terá que enfrentar seus terrores, sua escolha de fé. Angústia, dúvida, medo da
morte (sacrifício, martirização), se apoderam deles como demônios que os
açoitam questionando suas escolhas de vida.
Um dos vários
momentos bonitos deste filme, Christian, líder do mosteiro e mais dois,
conversam com o líder da comunidade mulçumana. Analisam as possibilidades. Este
último defende que fiquem, lembra o início do mosteiro e o abrigo que ele
sempre representou para eles. Um dos monges diz que são pássaros sem galho para
pousar. A mulher do líder muçulmano intervém e diz: nós é que somos pássaros e
vocês são os galhos.
O título do
filme, extraído da passagem de Salmos (82.6) – “Eu disse: sois deuses, sois
todos filhos do Altíssimo.” – vai se tecendo nos diálogos em que a fragilidade
humana se apresenta mais clara. Deixar-se morrer pela mão de loucos fanáticos
ou tentar preservar a vida? A significação do salmo se constrói não na
autoalegação de grandeza, orgulho, mas no apequenamento, na entrega. São deuses
porque, a despeito de tanta fragilidade, ousam seguir o caminho de Jesus e
fazer o que ele fez. Ele sim, a face humanizada de Deus, único modelo e forma de percebermos AquEle.
O mosteiro é,
por fim, visitado pelo inimigo três vezes. Numa delas, o chefe mujadin pede
ajuda médica e remédios. Na segunda vez, eles trazem um ferido que é cuidado.
Na terceira, os monges são sequestrados e mortos.
Não há lógica
humana que explique manter-se ao lado da paz quando lhe apontam um fuzil e lhe
ameaçam a vida. Não há sentido humano possível em morrer quando se faz o bem ou
o que é justo é subvertido em nome de Deus. É uma frase lembrada no filme. Em
nenhuma situação os homens fazem o mal com tanto ardor e dedicação, quando o
fazem em nome da religião ou de Deus (Pascal).
Esta história verdadeira e trágica, em meio à insanidade das
guerras religiosas de hoje, dá-nos o verdadeiro sentido de Cristo e do amor que
Paulo canta em 1 Coríntios 13.