sábado, 27 de dezembro de 2008

Falar em Ano Novo

Um novo ano se aproxima e, psicologicamente, se não somos tão pessimistas – no caso nem é preciso, os operadores da economia já estão o suficiente – aguardamos boas coisas, pelo menos estamos na torcida.

Os desejos correm soltos. Estes sim, são a mola do mundo, não o dinheiro que só faz sentido se houver algo para ser comprado e este algo passa, antes, por ser útil, que produza prazer, satisfação, dê status, sugira importância para quem o compre e isto tudo mexe é com o desejo.

Planos também, aos montes, são sinceramente definidos, mas à primeira badalada dos sinos das horas do ano novo, serão esquecidos. Na verdade, passarão, primeiro, pelo processo da postergação. No caso do brasileiro, para depois do carnaval. Assim, rapidamente, o ano findará para que planos sejam, outra vez refeitos com a mesma sinceridade dos condenados.

Entre um plano e outro, entre o acalanto de um desejo e um dos muitos rega bofe para fechar a conta do ano, vamos maldizer a má sorte que nos acompanhou, culpar este ou aquele, o governo, a mãe e seja lá quem for, porque tudo, lá no comecinho de janeiro, parecia tão alvissareiro e finalizou assim, murcho, quase do jeito de começou.

Bastarão poucos anos e este que nos parecia ruim, já estará meio desbotado na mente e parecerá menos pior, e pouco mais adiante alguma coisa entre cor de rosa e azul e grudado a eles um certo ar de saudade daqueles bons tempos, até porque o espelho e as juntas, a aposentadoria curta, deverão nos fazer lembrar que o que foi mal dito era uma quase felicidade e não sabíamos.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Natal



E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao
redor deles; e ficaram tomados de grande temor.
O anjo, porém, lhes disse:
Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo
o povo:
é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o
Senhor.
E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em
faixas e deitada em manjedoura.
E, subitamente, apareceu com o anjo uma
multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo:
Glória a Deus nas
maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem.

Lucas 2.9-14

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Criacionismo não é teoria científica


Recentemente a imprensa noticiou com certo alarde, que escolas de orientação cristã no Brasil estavam ensinando o criacionismo aos seus alunos, ao mesmo tempo em que ministravam também os princípios do evolucionismo.

Por todo lado pipocaram vozes de espanto e de alerta. Acusavam estas escolas de copiarem o modelo fundamentalista americano. Outros, alarmados, como Tonny Belloto, escritor e músico, que mantém um blog no site da revista Veja, clamou: “Me assusta saber que escolas tradicionais religiosas, como o Mackenzie, por exemplo, ou o Colégio Batista e a rede de escolas adventistas, estejam ensinando aos alunos a explicação cristã da criação do mundo junto com os conceitos da teoria evolucionista.” http://veja.abril.com.br/blog/cenas-urbanas/

Concordo que a mistura de duas teorias ensinadas como verdadeiras é algo complicado numa escola, como alerta o músico do Titãs. A questão, porém, não é essa, mas a reação sempre presente por parte de quem escreve, como se, ao ensinar a teoria criacionista, o mundo estivesse à beira da volta a um período de trevas, apenas porque alguns fanáticos, segundo pensam, repelem o evolucionismo.

Ora, esta atitude esconde um mal disfarçado preconceito contra tudo que cheire a cristianismo e suas afirmações de verdade, porque a verdade verdadeira única admitida neste mundo secularizado, tem que ser referendada pela ciência positivista: o fenômeno medido, esgravatado, reproduzido em laboratórios e confirmado em códigos matemáticos.

A evolução é, sem dúvida, a teoria científica que melhor se aproxima e melhor sucesso obteve na explicação da origem da vida, mas não é nem uma unanimidade científica, nem muito menos responde a tudo. De fato, possui inúmeros buracos e ilações complementam coisas que os cientistas não podem explicar. Deve-se dizer, porém, que o evolucionimso não, necessariamente, afasta Deus ou o nega. Relembro aqui um renomado cientista brasileiro, cristão praticante, Dr. Estevam Warwick Kerr, que defende o evolucionismo como o instrumento da criaçãod e Deus. Isto é, Deus trouxe do nada o que existe e estabeleceu leis para que a vida se desenvolvesse, no caso, para ele, é a evolução. Mas há, do lado dos cristãos, quem tome a leitura literal da Bíblia e tente sufocar qualquer outra explicação da origem que não se coadune ipsis literis com a Escritura.

A Bíblia não pretende explicar o mundo pelos parâmetros científicos humanos. Incorre em erro quem assim pensa para negá-la, do mesmo modo que vacila no conhecimento quem tenta tomar padrões literários para encaixar o mundo, mesmo aquele em que viveram os autores originais dos textos.

Por fim, creio que negar aos dois o status de verdade em suas áreas, com as respectivas ressalvas, ou tentar misturar os dois no mesmo saco, é um erro que estimula o preconceito, o partidarismo tolo e o confronto que não favorece a causa do Evangelho. Nada pode contra a verdade, exceto a verdade.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Pra que servem os vereadores?


A charge deste post é muito engraçada. Estava na Folha de domingo, 21/dez.
A propósito, alguém lá sabe para que servem vereadores? Não falo no sentido do que é previsto na lei que determina a organização do estado brasileiro e seus municípios. Falo no sentido prático. Existem hoje, no Brasil, mais de cinquenta mil vereadores. O ganho médio de um edil, digamos que seja de R$1.000,00. Temos, portanto, cinquenta milhões de reais de desperdício mensal. A esmagadora maioria não serve para nada. A primeira coisa que fazem é ajuntar-se ao prefeito e arrumar uma maneira de ganhar algum por fora. Uma cambada.
E os senadores, outra cambada de inúteis, querem agora presentear o brasileiro com a conta de mais sete mil e trezentos inúteis. No final serão transformados em cabos eleitorais, que é o único "trabalho" que realizam a cada dois anos, sendo que numa das oportunidades é em benefício próprio.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Que Deus é este?


O texto que segue está na revista Veja desta semana. Reinal Azevedo, autor de "Petralhas" questiona Deus antes as atuais desgraças que assolam vários cantos do mundo, destaque para os refugiados em Dafur, Sudão, África. A foto mostra um grupo de refugiados.

Por Reinaldo Azevedo:
Boa parte das nações e dos homens celebra, nesta semana, o nascimento do Cristo, e uma vez mais nos perguntamos, e o faremos eternidade afora: qual é o lugar de Deus num mundo de iniqüidades? Até quando há de permitir tamanha luta entre o Bem e o Mal? Até Ele fechou os olhos diante das vítimas do nazismo em Auschwitz, dos soviéticos que pereceram no Gulag, da fome dizimando milhões depois da revolução chinesa? E hoje, "Senhor Deus dos Desgraçados" (como O chamou o poeta Castro Alves)? Darfur, a África Subsaariana, o Oriente Médio... Então não vê o triunfo do horror, da morte e da fúria? Por que um Deus inerme, se é mesmo Deus, diante das "espectrais procissões de braços estendidos", como escreveu Carlos Drummond de Andrade? Que Deus é este, olímpico também diante dos indivíduos? Olhemos a tristeza dos becos escuros e sujos do mundo, onde um homem acaba de fechar os olhos pela última vez, levando estampada na retina a imagem de seu sonho – pequenino e, ainda assim, frustrado...

Até quando haveremos de honrá-Lo com nossa dor, com nossas chagas, com nosso sofrimento? Até quando pessoas miseráveis, anônimas, rejeitadas até pela morte, murcharão aos poucos na sua insignificância, fazendo o inventário de suas pequenas solidões, colecionando tudo o que não têm – e o que é pior: nem se revoltam? Se Ele realmente nos criou, por que nos fez essa coisa tão lastimável como espécie e como espécimes? Se ao menos
tirasse de nosso coração os anseios, os desejos, para que aprendêssemos a ser pedra, a ser árvore, a ser bicho entre bichos... Mas nem isso. Somos uns macacos pelados, plenos de fúrias e delicadezas (e estas nos doem mais do que aquelas), a vagar com a cruz nos ombros e a memória em carne viva. Se a nossa alma é mesmo imortal, por que lamentamos tanto a morte, como observou o latino Lucrécio (séc. I a.C.)? Se há um Deus, por que Ele não nos dá tudo aquilo que um mundo sem Deus nos sonega?

Pensamento

"O mundo está num estado perigoso e desesperado atualmente porque temos muito poder e pouca fé"
Alexander Lowen no livro "O corpo em depressão - as bases biológicas da fé e da realidade"

O autor escreveu a frase em 1972, portanto, noutro contexto político-econômico. Fosse hoje ele teria escrever algo mais ou menos assim: O mundo está num estado desesperado atualmente porque há fé em excesso e esta alimentada por delírios de poder.

domingo, 21 de dezembro de 2008

O maior mágico do mundo


Este é o texto de minha Coluna dominical. A idéia parte sempre de uma notícia real e desta desenvolvo uma história.


Um funcionário do ilusionista David Copperfield foi hospitalizado na última quarta-feira (17) com um braço quebrado depois de um dos truques do mágico dar errado no palco. A informação é do site da revista “People”.
O funcionário, não identificado, estava ajudando Copperfield durante a “mágica do ventilador” e teve seu braço atingido pelo ventilador. No truque, o ilusionista parece andar pelo ventilador e desaparece em meio a uma fumaça.
Fonte: Folha Online

O anúncio nos Classificados era lacônico. “Precisa-se de auxiliar para número de mágica. Dos interessados, homens ou mulheres, não se requer experiência anterior. Favor entrar em contato pelo número abaixo. PS. Roga-se que os candidatos ou candidatas tenham boa aparência”. Ele olhou aquilo e pensou lá consigo. Estava na brabeza, sem emprego, o natal às portas, precisava descolar algum. Não que Austregésilo fosse amante do trabalho. De fato, vivia de bico e de pequenos golpes. Pedia emprestado a um, enrolava outro, usava o cartão de um terceiro, pedia que se trocasse cheque que nunca tinha fundos e assim ia levando.
O mundo da mágica lhe parecia algo esplêndido. Não era trabalho pesado, o sujeito estava sempre no palco e sob aplausos. Aquele mundo de ilusão se adequava perfeitamente ao seu estilo de vida. Depois de secar o círculo de pessoas, parentes e amigos, em quem aplicava seus ardis, só fazendo mágica, pensou. Violência não era com ele, sempre foi mofino, mas tinha uma esperteza de dar medo no ramo da mentira e ademais, na última vez que surrupiou uma bolsa pegou tanto pescoção e tabefe que pensava em desistir daquela vida.
Alô, estou interessado no anúncio que foi colocado no jornal sobre um assistente para show de mágica. Quanto é que pagam? Do outro lado, a voz foi receptiva e pareceu atarefada, como se estivesse atendendo outras ligações ou pessoas. Sim, é daqui mesmo. O senhor tem experiência em mágica? Não. Ok, isto não é problema. Que dizer, tenho. Melhor ainda. O que o senhor sabe fazer? Desaparecer coisas. Que tipo de coisas? Porta-jóias, bolsas, pequenos objetos de valor. Nisso não mentiu. Ah bom, então o senhor é especializado em pequenas ilusões? Isso. Sim, mas quanto pagam? O senhor pode passar aqui o endereço é... disse lá o lugar.
Austregésilo, malandro, estava meio desconfiado, mas o que perderia? Quando chegou ao endereço, ficou ainda mais com o pé atrás, aquilo era um pardieiro. Um velho e alquebrado casarão na Rua do Giz. Uma escada tortuosa e balouçante rangia anunciando o visitante. Olá! Entre, por favor. Um sujeito maneiroso com um bigodinho e rabo de cavalo veio serelepe atendê-lo. Austregésilo não estava gostando daquilo. Temos pouco tempo, disse o homem, você é o trigésimo candidato que atendo hoje e só ficarei com o melhor.
Muito bem, a função é simples. O senhor fica encostado nessa tábua e eu lanço facas flamejantes de olhos vendados. Mas não se preocupe, Janjão, meu outro auxiliar, faz aquela fumaça seca e crava a faca no lugar de pertinho. Não há perigo. No outro número, eu serro a pessoa ao meio. Também uma bobagem, Janjão fica numa banda e você na outra. E o número mais legal: faço você atravessar um ventilador em movimento. Austregésilo já pensava em declinar e ir embora, mas, por acaso passou a mão no bolso e estava vazio. O Janjão não ajuda nessa aí não? Claro que sim. Ele liga o ventilador e o resto é com a gente. Não te preocupa, tem um lance de um espelho que confunde o povo e ele jura que tu entrou no ventilador.
Janjão era um atoleimado, meio corcunda, que fazia quase tudo nas mágicas. Era também copeiro, mordomo, limpa botas e que mais fosse que seu patrão precisasse.
Austregésilo via que aquilo tudo era uma roubada, mas miserento como estava, não podia escolher. Senhor Mefisto, quanto ganho? Bem, para começar, cinqüenta contos por noite. Corro todo este risco por cinquentinha, só? É pegar ou largar. Tem fila aqui para o posto. Tá bom, vou topar. É assim que eu gosto. Começamos hoje à noite.
Naquela noite, a casa lotou. Mefisto estava que esfregava as mãos. Começou com o lero-lero de desaparecer lenço, tirar moeda da orelha dos outros na platéia quando a vaia desabou, ele tratou de encenar os números mais perigosos. No último número do ventilador mandou Janjão enfumaçar pra valer. Chamou o assistente Austregésilo que veio numa colante-vermelho- vivo-entrando-na-bunda e a cara pintada. Num gesto apoteótico mandou Janjão ligar o ventilador, entrou no fumacê. Deixou o assistente em pé diante do público e rapou o caixa e sumiu.
Janjão e Austregésilo tomaram uma surra dos diabos quando o público percebeu que era tudo malandragem, sem contar o dono da casa de espetáculo.Um mês depois, Austregésilo ainda apresentava hematomas, uns dois dentes perdidos e anunciava num interior perdido do Maranhão o maior espetáculo da terra. O homem que era capaz de fazer uma pessoa atravessar um ventilador em movimento e contratava assistentes.

A estupidez humana


Na semana passada vi algo que ainda me surpreende na atitude das pessoas. A avenida estava relativamente livre. De repente, buzinadas insistentes do carro à frente me chamaram a atenção. Uma mulher conduzia um Siena prata e tentava chamar a atenção de um outro condutor, que dirigia um Civic também prata.
Pensei, deve ser uma porta aberta, algo caiu... mas logo entendi. As buzinadas eram um tipo de xingamento. A mulher parecia apoplética. Agarrada ao volante, gritava, falava impropérios que, naturalmente, o condutor do Civic não ouvia, pois estava com os vidros todos fechados.
Por mais de dois quilômetros segui aqueles dois. O Civic impedia a passagem da mulher, que aumentava a intensidade da buzina. Num momento, o condutor do Civic quase pára e efetivamente reduziu a velocidade para impedir a passagem do outro carro.
“Sou humano e nada do que é humano me é estranho”, disse Terêncio, Publius Terentius Afer (185 a.C. - 159 a.C.), dramaturgo e poeta romano. Confesso, porém, que me desconcerta este tipo de atitude, sim. Ao mesmo tempo, sei que este tipo de armadilha está sempre à minha espreita. A arapuca da ignorância, da irracionalidade, do medo, da violência. Um labirinto no qual, dentro dele, não conseguimos sair sozinhos.