Um shopping de South Portland, no
estado americano de Manie, precisou demitir um Papai Noel depois que crianças e
pais reclamaram que o homem era rude, mal-humorado e que nem mesmo deixava as
crianças sentarem em seu colo.
Fonte: G1 (Planeta Bizarro –
07/12/2012)
Parvuíno já havia feito de tudo. Ao
longo de um ano, era capaz de trabalhar em mais tipos diferentes de empregos
que uma pessoa com duas vidas consecutivas de um Matusalém. Aproveitava a onda
de cada momento. Em seu último trabalho na agricultura, como gostava de falar,
fora um espantalho. Sim, vestia-se como tal, mas movia-se com a mesma
desenvoltura daquele seu colega do mundo de Oz. Também, acho, Parvuíno tinha
palha dentro daquela cabeça. O serviço pedia apenas que espantasse as rolinhas
e codornizes que vinham comer as sementes da plantação. Antes disso, fora um
fazedor de sexo na flor do maracujá. Informem-se a respeito.
Mas a questão agora era simples.
Candidatou-se a ser um Papai Noel. Incrivelmente, nunca tentara antes ser o tal
bom velhinho. Havia que participar de um curso, disseram. Nada complicado.
Apenas alguns modos que o Noel deve fazer para manter o personagem. Parvuíno
achou aquilo tudo muito chato. Mas a grana prometia e por período curto.
Ensaiar aquele arremedo de sorriso foi de lascar. Sua voz meio anasalada e sem
graves robustos, aliás, sem grave nenhum, mal conseguiu o primeiro oh. Acho que
pouco melhor que ele só o Spider (Anderson Silva).
Primeiro, ele e os outros tiveram
que ouvir uma gravação da risada noelina: Oh, oh, oh, oh. Meia hora depois, não
havia mais quem aguentasse. Agora era o pior. Cada qual devia repetir a
gravação à risca. Ouviu-se de tudo. Na vez de Parvuíno veio aquela coisa
caquética, esganiçada, sem força e vibração. Os papais noeis se entreolharam
entre espanto e irritação, porque aquele riso estava mais para um freio de trem
sobre trilhos com areia. Sem contar que dava uma vontade louca de rir. E eles
riram e debocharam de Parvuíno que rebateu na lata que não era palhaço e, sim,
papai noel. Eles riram ainda mais.
Com o humor azedado, Parvuíno foi
escalado para a encenação propriamente dita. Vocês sabem. O velhinho entra com
um cajado, afaga aqueles meninos e meninas chatinhos que ainda acreditam em
papai noel. Senta no trono e aguenta umas boas três horas com menino no colo, gritando, rindo, puxando a
barba postiça ou não, arrancando o gorro, vomitando na árvore, grudando meleca
na cadeira, chorando porque a mãe não lhe deu sorvete e quando decidiu fazê-lo
foi sobre o papai noel. Malcriações, manhas, birras, fotos e flashes a não mais
poder. Ah, tem as mães dementes que querem também tirar foto com o papai noel,
sem contar alguns beliscões no traseiro de umas mais assanhadas.
Ao final de um turno de trabalho,
Parvuíno estava completamente arrasado. No segundo dia, ele chegou sabendo o
que o esperava. Achou, por momento, que até ia se dar bem com uma noelete de
sainha curtinha que mais parecia um abajur com babados. Mas era arisca que nem
uma rena voadora. Deu-lhe uma rebanada e disse que se gostasse de velho
procuraria algo melhor num asilo. Aquilo doeu.
Então veio o primeiro menino. No
colo, não, afastou Parvuíno. A fila esperava aflita. Meninos corriam por
debaixo da árvore, esfolavam os presentes de mentira sem que os pais se
importassem. A mãe deste primeiro saiu pisando duro. O segundo mal fez seu
pedido de presente e ele mandou o menino pedir para o pai dele e ainda chamou o
pobrezinho de feio. No terceiro, ele amedrontou a menina de tal forma que a garota
correu e perdeu-se shopping adentro. Beliscou uns, empurrou outros, disse
asneiras para pais e mães e recusou-se também a fazer o oh, oh, oh, oh. Em duas
fotos mostrou o traseiro. Ainda vestido, leitores. A bunda, propriamente dita, apresentou
depois de tomar umas doses numa garrafinha que trazia dentro do saco de
presentes. Mas a esta altura já dera em cima de algumas mães, devolvendo os
beliscões do dia anterior e mandou outras tantas darem educação aos seus filhos
abusados e mimados.
Em pouco tempo havia uma horda
de mães, principalmente, formalizando uma denúncia da falta de compostura do
que chamavam de papai noel louco. A segurança do shopping veio de coturno e
tudo para cima do Parvuíno que já havia tirado toda a roupa ridícula, debaixo
da qual suava bicas e andava, despreocupadamente, apenas de cueca, botas e
gorro (sem a barba falsa) apreciando os enfeites de natal.