domingo, 14 de abril de 2013

Melhor escapar fedendo


O Fantástico mostrou ontem (7) a precariedade para o trabalho dos Bombeiros
no Brasil. O Maranhão está entre os Estados onde a situação é mais crítica. Em Bacabal, as chamas é improvisado com balde, água mineral e mangueiras que não alcançam o foco do incêndio,  na cidade de 100 mil habitantes, não existe Corpo de Bombeiros. O improviso chegou ao ponto de um limpa-fossa ser usado para apagar o fogo.

Fonte: G1 (08/04/2013)

Nunca mais na vida eu alugo, quero dizer, empresto meu caminhão para apagar incêndio. Vou deixar queimar. Não me movo. Minha empresa só não quebrou porque tem muita fossa pra limpar e porque faço um serviço esplêndido, senão, eu é que estava na merda. Olhou para a repórter e consertou-se. Eu quis dizer sem trabalho, pois limpar a merda dos outros é meu negócio.
Era um desabafo. Segismundo ficou acuado. De repente, viu-se no centro de uma espécie de escândalo porque socorreu um conhecido com seu caminhão limpa fossa. Mas era isso ou cinzas. Quem sabe de gente também. Os bombeiros, atarantados, gritaram que Segismundo tentou usurpar a profissão. Era um despreparado para a nobre arte de apagar fogo. A imprensa local, nacional, mundial e intergalatical ria da penúria de uma cidade que precisou de um pobre caminhão Chevrolet, relíquia dos anos setenta, ainda trabalhando, sem direito a descanso ou aposentadoria. De dia limpa fossa e nas horas vagas, apaga incêndio.
Ainda no calor do incêndio, Segismundo deu entrevista e louvou o produto tantas vezes desprezado e sua eficácia em apagar fogo. É que, dizia, a consistência, a plasticidade e a densidade como que abafava as chamas com mais rapidez do que os produtos existentes no mercado. Exaltou-se e até disse que a descoberta inesperada o fazia pensar em registrar uma patente e ganhar dinheiro. Por este ângulo, a merda era uma megasena. Produto 100% ecológico e natural. A nova serventia reciclaria o que ele simplesmente jogava no rio Mearim. Criticado algumas vezes por esta prática, defendia-se dizendo que alimentava os peixes que, inclusive, estavam acabando.
Esta empolgação explica a ira dos bombeiros. Segismundo até ameaçou comprar a briga alegando que eles não estavam lá na hora do fogaréu, mas seu limpa bosta estava. Sem ter como se defender, o chefe dos bombeiros apelou, ameaçou Segismundo de cana. Mas a chateação maior de nosso brioso bombeiro fecal é que num momento era o herói salvador e no seguinte, era a vergonha da cidade. Afinal, inadvertidamente, expôs o traseiro de todos no Fantástico.
Passado o espanto com a maneira, digamos, bizarra de se apagar um incêndio, as pessoas começaram a se perguntar porque a cidade não tinha um corpo de bombeiros nem que fosse usando carroça puxada a jumentos? Ora, o governo estadual era o culpado e a prefeitura, por suposto. Esta última escondeu-se atrás do descalabro deixado pela gestão anterior e que nem começado a trabalhar havia conseguido, mas que, mesmo nas condições precárias, começariam a treinar jumentos e carroceiros como os novos bombeiros. Água não faltará, disse o prefeito, temos um rio na porta. Ele tinha simpatia pelo plano de Segismundo, mas com tanta merda espalhada, preferiu desligar o ventilador.
O Estado, o réu da confusão, fechou-se em copas e deu o calado por resposta. Na verdade, escalaram o aloprado deputado Magno Bacelar para defendê-los. Homem de incrível oratória, foi direto ao ponto e devolveu a provocação aos adversários políticos e à população metida que deseja, imaginem só, que seus incêndios sejam apagados com água e não com cocô. Lépido como ninguém, sapecou: Quê que vocês preferem: morrer queimado ou sobreviver fedendo? E acrescentou um sábio provérbio chinês: nem sempre quem te joga na merda é teu inimigo. Estava que não cabia em si de tanta sabedoria e esperteza e nem se continha com os apupos que receberia de seus donos. Quem sabe um asponato estava a caminho.
Segismundo viu aí sua redenção. Um deputado – sabe o que é isso? – uma autoridade resgatava sua honra, por bem dizer. Via sua nova invenção como algo genial. Percebeu, homem ladino que é, a inovação tecnológica e de baixo custo, solução para as cidades que como Bacabal, não tem esgoto e precisam de seus humildes serviços de limpador público das bundas. Depois Segismundo entendeu: o homem é do Partido Verde. Estava explicado.