Fontes: BBC
Brasil (25/12/2015), UOL esporte (25/12/2015)
Faz tempo que o Natal público das celebridades
se tornou oblíquo. Algo que anda de lado e que desconheço. Evoca qualquer coisa,
menos o significado que inspira a data. Numa mesma página da internet, me deparo
com o natal de alguns atletas. Serena Williams, a imbatível tenista, vestida
num body branco mostra seu corpo escultural e malhado e dá “bom dia” aos
internautas, enquanto arregaça um dos lados para expor seu traseiro monumental.
Isso em plena manhã do dia 25.
Mal desvio o olhar e vejo Neymar do alto de
seus muitos milhões de dólares, sentado no colo de um papai noel com uma
máscara daquelas que se vê em filmes em que acontecem cenas de assalto a banco.
Uma ironia, pois não? Há mais. O craque usa um modelito onde se lê: “máfia”. A aparência
do jogador muito à vontade não evoca algo lá muito bom. As tatuagens, o olhar
entre cínico e debochado, lembra mais um bandido típico dos morros do rio. Só
faltou o fuzil ou pistola banhada a ouro. Sim, ele pode pagar por uma.
Por fim, Cristiano Ronaldo, mas que pode
ser chamado de CR7. Este, coerente com sua postura narcisista, megalômana e ostentatória,
se exibe no que parece ser uma boate ao lado de noeletes sexies, mas que um
olhar um pouco mais atencioso, descubro que são renas gostosas que zanzavam
pelo ambiente com seus chifrinhos dourados e perucas louras de fazer inveja à
Elke Maravilha.
Qual parte do natal eu não entendi? Costumava
ser uma comemoração familiar e um momento de devoção. Devo me aproximar da
onda? Mas cismo que deve haver uma religiãozinha para mediar o momento e não
perder o costume.
E onde me tenho neste desarranjo? Pensei em
fazer algo diferente. Mesmo agora depois da data, mas ainda com as luzinhas
acesas. No mesmo pacote de notícias esquisitas vejo que, de acordo com o espirito
do momento, a Nova Zelândia declara apta a igreja do Monstro Espaguete Voador para
realizar cultos e rituais que lhe são parte da crença, se se pode chamar assim.
Parece que no país insular existe alguma
coisa como um departamento de aprovação de novas religiões. Dizem que não se atêm
à parte, digamos, teológica da coisa – não há problema de chamar “coisa” uma
igreja com tal nome –, tão somente se dizem defender posições filosóficas que, mesmo
vagamente, sugiram algo como defender o bem comum. No caso aqui, suspeito, é o
riso, o que está declarado no site da instituição que chama de “brincadeira” o
nome que se deram.
Outra religião, o zuísmo, na também insular
Islândia, se diz politeísta e ressuscita antigos deuses sumérios. Do dia para a
noite saiu de três membros para pouco mais de três mil. O sucesso estrondoso
não se deve às indefectíveis redes sociais, mas a algo mais velho, dinheiro. Ali
existe um imposto que sustenta as igrejas e é comum na Europa ligeira repulsa
dos europeus pós-cristãos e certa resistência quanto a descontar imposto para
igrejas. O zuismo, como religião formalmente registrada, recebe a parte que lhe
toca e, em protesto, devolve aos seus fieis a parte descontada pelo leão deles
lá.
Com tanta bizarrice nos dias de Natal
pensei: vou me filiar à religião mais estapafúrdica. Acho que tem tudo que ver
com o Brasil dos últimos tempos. Não pela cornucópica lista de traquinagens
corruptas que a cada dia nos presenteiam os noticiários, mas pelas justificativas
aos maus feitos que agora se tornaram notórios até mesmo no vetusto Supremo
Tribunal Federal.
Não sei o mundo, mas a explicação da novel
religião cabe no Brasil. O país surgiu pela vontade de uma massa espaguete voadora
recheada de almôndegas. Foi a inspiração do tal Cabral. Secretamente, políticos
e os insignes magistrados do STF e assemelhados, são todos pastafaris como
doravante serei. Prestam loas ao grão-mor Lámen supremo.
Acho
que no ano vindouro posso começar por baixo, como um macarrão alho e óleo.
Indaguei se eles têm missa do galo, disseram que vão providenciar, mas não a do
galo, a da marmota. Está bom pra mim. Não se pergunte de onde tirei a louca
mistura de temas aqui exposto, é o espírito da almôndega à bolonhesa operando.