Lenin Carballido é o novo chefe do
poder Executivo de San Agustín Amatengo, pequeno município de 1,4 mil
habitantes. Ele ganhou as eleições após fazer uma campanha com o slogan
"Unidos pelo Desenvolvimento".
A polícia diz que família de
Carballido conseguiu atestado de óbito em seu nome em 2010. Na ocasião, ele era
investigado por um estupro ocorrido em 2004.
Fonte: BBC
(12/07/2013)
Ah, a América Latina com seus
caudilhos mixos, populistas ridículos e nacionalistas baratos! O que seria
desta parte do mundo sem estes verdadeiros patrimônios de nosso, diria o velho
Nelson Rodrigues, complexo de vira-latas, estes narcisos às avessas que
compensam suas tristes existências insuflando cultos de adoração das massas ignaras
e – às vezes, tenho rompantes de redundância –, burras, loucas para serem
compradas por uma bolsa qualquer coisa.
Não fui contaminado pelo espírito
das ruas que até há pouco explodiam aos gritos por direitos e um mundo de
outros reclames, quero dizer, não aqui no texto, fui inspirado por um mexicano
que resgata a manha daqueles políticos que, por suposto, não existem mais no
Brasil. Perguntem onde estão os incendiários brizolas, os carbonários fuleiros
e mensaleiros da pátria amada, salve, salve? Perderam a veia, o charme, tem
pudores de serem vergonhosos. Que tempos!
O mexicano Lenin Carballido –
vejam que inspiração de nome – poderia ser Lula, Fidel, Chavez... Desculpem,
devaneio. Em 2004, Lenin lidava com uma ligeira malcriação que cometera, segundo
acusação da polícia. Supostamente, teria tido conjunção carnal não consensual
com uma jovem. O partido da Revolução Democrática, familiares e amigos,
solidários contra tamanha ignomínia, arregimentaram forças para livrar o
idealista. Mas como livrá-lo da acusação? Matando-o de mentirinha. Um médico
boliviano especialmente contratado emitiu o atestado de óbito. Morte natural
por diabetes galopante. Uma perda irreparável. Todos choraram.
Nosso herói levou um passo
adiante – e que passo! – em relação a arte da camuflagem política pilantra. O
melhor representante da classe no Brasil, Zé Dirceu, além de um nome banal, só fez
uma plástica chinfrim e enganou meia dúzia de mulheres com quem conviveu. Coisa
de amador.
A artimanha de Lenin e companhia
funcionou. A polícia deu a investigação
por encerrada, afinal, o facínora coisador das filhas alheias estava morto.
Então, uma campanha para prefeito despertou o que fora defunto para a vida
pública. O partido providenciou o registro da candidatura com todos os documentos,
inclusive certidão de nascimento, atestado negativo de antecedentes criminais.
Candidato pelas causas dos fracos e oprimidos, ganhou disparado.
Conta-se pelos corredores do
Congresso brasileiro que alguns mensaleiros contrataram a assessoria de Lenin
para as providências de morte e ressuscitação. O Supremo desconfia da
malandragem, mas como dorme em cima dos protelatórios da condenação, só se dará
conta quando os condenados aparecerem como almas penadas, mas candidatos a
alguma coisa.
Alguém – tem sempre um advogado
do diabo à espreita – disse que Lenin estava morto, logo não poderia ser
eleito, menos ainda governar. Ele mesmo dizia: estou vivo e bulindo, como
assim, morto? Estabeleceu-se uma celeuma. Juristas, padres e xamãs foram
convidados a opinar. Sugeriram o diabo também, pois havia quem dissesse que o
homem só estava vivo por ter feito um pacto com o coisa ruim. Então ele que
explicasse como é que o que estivera morto estava vivo? Como os mexicanos
celebram a santa muerte, houve uma monção para requisitá-la, mas a assessoria
da defuntóloga disse que ela estaria no cabelereiro colocando uma peruca nova,
que pedia desculpas, mas não poderia participar do esclarecimento.
Os tabloides pipocaram a notícia.
O Partido da Revolução Democrática mostrou-se como marido traído. Que nada
sabia. Que fora enganado por documentos forjados. Declarava-se inocente, mas
sugeria que o primo de Lenin, um tal Stálin, assumisse a prefeitura, pois este
não morrera de nenhuma forma e era do mesmo partido.
A polícia, ridicularizada por um
morto que estava vivo e agora prefeito, reabriu as investigações sobre o
suposto estupro, não sei se ato libidinoso diverso da conjunção carnal, embora
se dissesse até coisa pior. A pretensa vítima, desde o escândalo, alcançou
relativa popularidade e fez ponta em novelas – algumas exibidas pelo SBT –,
lançou um disco de funk numa favela brasileira e posara para umas quatro
revistas soft pornô. Claro que ela iria depor, afinal tivera sua inocência
roubada, embora já tenha feito três himenoplastias.
Como
a justiça mexicana, igual à brasileira, tarda e falha, ainda não se sabe o
resultado do imbróglio. O prefeito segue vivo e morto, mas prefeitando, como
João Paulo Cunha e José Genoíno, estes deputados vivos e soltos. Já se fala em
conluios, desvios, peculatos diversos, compras superfaturadas e... orgias na
prefeitura. Mas isso é coisa para outro processo. Entre os petistas, Lenin
virou um Delúbio que deu certo.