domingo, 25 de agosto de 2013

Gaviões cor de rosa

O Corinthians abriu seu CT, nesta sexta-feira, para receber alguns líderes da torcida organizada Gaviões da Fiel, que se reuniram com o atacante Emerson. Segundo um comunicado da torcida, o jogador teria pedido desculpas pelo post em que aparece beijando um amigo e até atacado rival São Paulo.
Fonte: UOL Esporte - Gustavo Franceschini (23/08/2013)
A reunião começou tensa. Havia um zumbido de vozes com palavras que saltavam destacadas, como pipocas dentro da panela, mas sem qualquer sentido para quem as ouvisse. O líder tentava colocar uma pequena lista de temas em pauta, mas estava difícil. Os circunstantes estavam irreconciliáveis com qualquer argumentação que tentasse, mesmo de longe, uma visão mais tolerante do tema discutido.
Talvez por cansaço ou por certa frustração de não se chegar a lugar nenhum, o barulho foi diminuindo, o que deu a chance do líder falar. Manos, ouçam! Temos que decidir o que faremos com o acusado.  Eu não queria acreditar, mas as provas são incontestáveis. O indivíduo beijou o outro, sim. Uma vergonha... a algazarra aumentou, com todos concordando ao mesmo tempo. Palavrões impublicáveis neste decente jornal foram “improperados” contra o beijoqueiro.
Proponho um sequestro. Ele tem que pagar pelo que fez. Vamos costurar a boca deste sem-vergonha. Calma! A Fiel vai dar o troco, mas temos que ouvir o acusado. Acusado nada, ele é culpado de beijar outro homem, um disse. Mas ele postou um pedido de desculpas, até disse que não era são paulino, aquela laia que já se sabe da fama. Dizem que até fazem desfile de tamanco no vestiário. O roupeiro, nosso infiltrado, contou. Mas deixemos esse time pink pra lá, vamos ao nosso que além de descambar na tabela, tá virando um clube da Luluzinha.
O líder sugeriu: vamos tirar satisfações com este beiçudo beijoqueiro lá no treino. Todos concordaram. Se ele titubear, nóis senta a bifa nele. Aprovado, gritaram. Futebó é coisa de homi, coisa de maxo! O que é isso com esta conversa de boiola de homi dar beijo em homi, rapá?! Vamu tirar o apelido de Sheik dele, pois se fosse mermo, tinha aréim, não dava beijo em macho em público. Só vamu chamar ele de Shakira agora.
O técnico é culpado, um doido berrou. Ele acoita esse tipo de safardanagem. Num mete o Tite nisso, rapá. O que ele tem com a boca do outro? Vamo dar um pau nele! Isso não mano, vai que o sujeito se anima? O que sei é que no coringão num pode ter viado. O cara fica fazendo gol contra, mano! Ele que vá pro São Paulo, aqui não. Não havia mais como controlar a balbúrdia. Todos falavam ao mesmo tempo e cada qual sugeria uma coisa pior. Até apedrejamento alguém sugeriu. Explicou que havia assistido num canal do Irã.
Esse cara vai ver porque nóis semo louco, um outro atalhou. Mas ele disse que foi só um selinho. Me admira Pezão. Tu tá defendendo esse fuleiro? Que selinho o quê, rapá? Tu dá selinho em macho? Dô não. Então, cumé quié que tu tá acreditando nessa desculpa? Foi beijo de língua e tudo. Olha a foto. Dá pra vê que foi um chupão. Aquilo ali nunca foi selo, bicota ou coisa parecida. São Jorge que me defenda, mas eu num quiria tá vivo pra ver o curingão passando esta vergonha.
O Tite é culpado, repetiu o acusador do técnico. Como assim? Alguém quis saber. Ele disse que qualquer um faz o que quiser da boca e do resto e que ninguém tem nada com isso e o que importa é o que o Sheik faz dentro do campo. É... vendo assim... será que o Tite também? Pois rapá eu num quero saber de nada. Bicha no Timão, nem pensar. E se depender dos gols dele, eu prefiro ir pra terceira divisão. É mermo, repetiram outros.
A reunião, por fim, chegou a um impasse. Haviam muitas sugestões, mas nenhum consenso. As propostas iam da lapidação já mencionada a coisas impraticáveis em qualquer país minimamente civilizado, mesmo sendo o Brasil. Houve quem sugerisse meter um foguete sinalizador no olho dele, o expert chegara recente da Bolívia. Havia quem defendesse montar o infrator e fazê-lo desfilar no meio da fiel. Mas como toda gostosa que passa perto de construção, só se poderia assobiar, dar beliscões e palmadas. Claro, fazer troça dos atributos da bela.
Umas faixas foram confeccionadas, a turba saiu em procissão em direção ao clube para tirar aquele episódio dantesco a limpo. No caminho, foram confundidos com outra passeata à qual se juntaram parte do povo da Marcha para Jesus, os caras tapadas baderneiros, um punhado de desorientados da parada gay, remanescentes da Jornada da Juventude que se perderam do Papa. Juntos, numa babel indecifrável, apanharam surra da polícia, spray de pimenta nos zói e bombas de efeito moral. Aliás, parece que era esta última palavra que a torcida tentava salvar.