Vida de candidato não é fácil. Dilma Rousseff teve que se munir de
paciência extra para aguentar uma conversa que se estendeu por longos quinze
minutos, no almoço em sua homenagem oferecido pela bancada do PP.
Fonte: Seção Radar de Veja – Lauro Jardim
(27/05/2014)
Há muito foi incorporado
aos diálogos, piadas, enfim, à cultura nacional, a ideia de bolsa governamental
para as mais diversas coisas. Nem sempre pelo mérito da iniciativa. De fato,
existem legiões contra e a favor do programa bolsa-família. Ou gente que admite
o programa, mas com ressalvas. É o meu caso.
Como isso é mais uma
jabuticaba, há quem se empolgue com o bolsa para quase tudo na vida. O deputado
goiano (Sandes Júnior, PP) estava que não se aguentava com uma ideia que já lhe
consumia há dias. Não sabia mais se fora sugestão de algum eleitor ou aquilo
viera como uma visão mística e arrebatadora. Ele, homem cunhado na malandragem,
tipo folclórico e corrupto – mas aí já é uma redundância em se tratando de
políticos nesta Terra de Vera Cruz –, sabia que o populismo mais grosseiro deve
trazer em seu íntimo uma ajuda, uma salvação, um tipo de redenção qualquer para
uma massa informe de gente, esta entidade metafísica, o povo.
Ele sabia que a
presidente amargava reveses em sua tentativa de continuar sentada no picoroto
do Planalto. Havia que espreitá-la em ocasião oportuna ou não para levar-lhe a
ideia salvadora. Sabia ser um reles, não na esperteza, mas na gradação
hierárquica dos antes alcunhados 300 picaretas, antiga denominação recebida
pelos deputados por um seu igual em algum momento no passado. Equivalia aos 40
ladrões amigos do Ali Babá.
A sorte lhe caiu um dia
que a chefa precisou, contra todos os seus ascos, participar de um jantar justo
com o partido do talzinho. Ele estava que não se cabia. Esfregava as mãos de
contentamento. Agora era molhar a mão do cerimonial para que sua cadeira
ficasse ao lado da presidente. A molhada doeu no bolso, mas haveria de, com
algumas notas falcatruosas, incluí-la naquelas verbas para correios e outros
etcétera, por suposto, altamente importantes no seu desempenho parlamentar.
Lá estava ele, pimpão,
sorridente, mesmo que de vez em quando a mulher lhe lançasse olhares como quem
pergunta: quem é este inseto? Que diabos estou fazendo do lado dele? Que mais
dava? Ele estava, literalmente, sentado ao lado do poder, ou sua representação
mais desafortunada. Em sua mente mequetrefe, a sugestão salvadora que nem o
mais arguto marqueteiro seria capaz. Ela lhe agradeceria um dia com cargos e
verbas, era o mínimo. Quem sabe um asponato de Conselheiro Republicano, aquele
que sopraria seu ouvido para sempre.
Lá pelas antas, entre
uma taça de vinho e outra, uma bicada numa cachacinha goiana e uma lambida num
espumante, ele tascou no ouvido da mulher, sem a menor cerimônia, perdigotos
tantos que lhe lavou a orelha. Ela engoliu em seco. Fez careta, mas havia que
suportar: afinal, o apoio daquela ralé sanguessuga lhe garantiria uns quantos
minutos a mais na tv.
Presidenta! (acertou na
versão que ela adora). Tenho um plano para garantir sua eleição: basta a
senhora distribuir gratuitamente (enfatizou a palavra com o dedo levantado como
quem sugeria, inconsciente, a postura ereta de outra coisa) medicamentos para
disfunção erétil para a classe masculina desassistida da capacidade fornicante.
Estava contente consigo mesmo. Disfunção erétil! Treinara a expressão várias
vezes para impressionar. E finalizou: viagra não, que é caro pra danar, eeeeu
sei, um genérico, disse balançando uma das mãos para enfatizar a
desqualificação do produto.
Estava orgulhoso de si
mesmo. Os olhos meio bambos pelas misturas que tomara estavam cravados nela,
fora o empadão de camarão que, parecia, não havia descido bem. Esperava a resposta.
Ela reagiu com o primeiro que lhe veio à mente. Mas deputado, a oposição não
iria estranhar? Que é isso, presidenta, vai ser um sucesso! Aliás, a oposição
também usa. E, desarvorado pelo álcool, foi pura sinceridade: a gente se
encontra na mesma farmácia toda semana. Aquelas meninas da Jeanny Mary Corner
são o diabo, nem queira saber!