Na Espanha, um garoto de 11 anos fingiu seu sequestro para evitar que os
pais comparecessem a uma reunião escolar. A farsa envolveu cerca de cem guardas
civis e durou duas horas, segundo o jornal espanhol "La Voz de
Galicia". O incidente
aconteceu no município de Xinzo de Limia, na província de Ourense. Para
que os pais não descobrissem suas notas baixas, o menino decidiu criar uma história.
Fonte: Do UOL Educação, em São Paulo (22/01/2013)
Paco estava aterrorizado. Naquela escola moderna os
garotos recebiam o boletim, analisavam as notas se boas ou ruins e discutiam em
classe as razões. Só que seu boletim parecia uma hemorragia de tantas notas
vermelhas. A vista escureceu, tal seu choque. Passou as mãos nos olhos como que
para limpar aquela nuvem de areia que se apegou às suas órbitas, cegando-o. O
documento era um borrão vermelho de garatujas indistinguíveis.
Os colegas falavam animadamente, inclusive alguns que,
como ele, não tinham ido tão bem nas notas. Mas aquilo era, para ele, o dia 21
de dezembro que não aconteceu. Maias burros, nem um calendário sabiam fazer!
Sua hecatombe esperou a antevéspera do carnaval para desabar sobre sua pobre
vida. E ele que pensava que primeiro vinha a farra e só depois a quaresma e
suas penitências pelos excessos. No seu caso, nunca havia muito pelo que pagar.
A professora perguntava um por um aos alunos. Paco não
sabia o que era moderno naquela pedagogia. Suspeitava que o método não passava
de uma espécie de caças às bruxas. A professora não parecia se intimidar em
mostrar publicamente seu regozijo diante do desastre de alguns. Ele havia
percebido uma baba no canto da boca da mestra quando Dolores disse que havia
tirado zero em matemática? Sim, ela havia se deliciado. Então, a tal pedagogia
do desoprimido era uma desculpa para gozar o desespero alheio. Aquela mulher
era uma espécie de vampira de emoções. Só que ela sugava medo e angústia dos
outros.
Para sorte de Paco, ela não estava perguntando em
ordem alfabética, mas pelos que sentavam nas primeiras fileiras até as últimas.
Os fracassados teriam seus nomes escritos num mural. Os pais seriam chamados e,
com pompa e circunstância, o boletim seria dado com ênfase no fracasso, mas
disfarçado de bons modos e de muitas sugestões de como aquele menino ou menina
poderiam melhorar. Os pais, envergonhados, pediriam desculpas, diriam que tudo
iria melhorar e tal, enquanto engoliam em seco sua vergonha.
Os pais de Paco eram especialmente zelosos com suas
notas. Na Espanha, nem com boas notas se consegue trabalho, imagine com ruins.
Seja um bom aluno, emigre para os EUA ou Brasil e ganhe dinheiro e saia desta
miséria de país. Você já perdeu sua oportunidade de ser um bom jogador com estas
pernas tortas de sua mãe. Com elas, nem Garrincha conseguiria jogar. Assim
discursava o pai de Paco.
O fato é que, quando chegou sua vez, nada disse.
Aguentou calado a docente louca tripudiar com refino e classe. Ironizando,
sendo sarcástica, mas tudo com delicadeza, que é quando mais dói. Foi para casa,
arrasado, desconcertado e pensando na desgraça que se abateu e seus
desdobramentos.
O que fazer? Fugir? Forjar um boletim falso? Pedir o boletim emprestado
do colega cdf? Pensava em desespero. Mas cada ideia era menos convincente que
outra. Um sequestro! Diria que um etarra o sequestrou, mesmo que estes estejam
pedindo penico ao governo. Se esconderia por um tempo. Mandaria torpedos,
ligaria aos gritos, ainda pareceria forte e destemido com sua resistência ao
sequestro. Seria lembrado até o fim do século, se tornaria herói. Quem
lembraria daquele boletim nefasto? A esta altura, Paco já estava no domínio do
delírio. O desespero nunca é bom conselheiro.