sábado, 15 de outubro de 2011

Abaixo as feministas. As mulheres querem a bolsa lingerie.


A Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal pediu ao Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) a suspensão da campanha publicitária "Hope ensina", que traz a modelo Gisele Bündchen mostrando a "melhor maneira" de contar más notícias ao marido.

Fonte: Folha (De Brasília) 28/09/2011

O que sei é que se ela continua com aquele requebro em cadeia nacional de tv, naqueles trajes minúsculos, é capaz de fazer mais estrago às nossas conquistas do que a Associação do Cornos Cearense e ainda pior, a Associação dos Machistas Mineiros. Se juntar todas aquelas ucranianas sem classe balançando os peitos em praças, nem chega perto da punhalada nas costas que essa provoca.
Vejam companheiras, se isso não é um disparate. Como é o nome dessa menina mesmo? Gisele, disse uma. Ela casou com um atleta americano liiiindo... Companheira, contenha-se, não queremos saber de sua vasta cultura cultivada em horas de leitura da Contigo, Caras e sei lá mais o quê. Isto aqui é uma reunião para deliberar o destino da mulher brasileira, quiça do mundo, digo eu.
Houve entreolhares entre as participantes, como que a entender o limite do que podia ou não em tão importante congregação. Afinal, ali estava  a nata da Secretaria Especial das Mulheres, amazonas da causa. Sem que as outras se preparassem, a ministra se levanta e arremeda o andar da inimiga. Para, bota as mãos nas cadeiras e diz: amor, eu bati o carro. Disse da forma que entendia ser uma fala sensual. Apertou os olhos atrás dos óculos, fez biquinho. Risos nervosos ecoaram timidamente, afinal não se sabia se era para rir.
Nem se fale no espetáculo dantesco que o desfile mumesco proporcionou. A cena era capaz de dar convulsão em lesma. Mas conhecer as artimanhas do inimigo é fundamental, já ensina o velho Sun Tzu. Às vezes, é preciso interpretá-lo, senti-lo, colocar-se como se fosse o próprio. É a única forma de entrar em sua mente. Esta foi a peroração da ministra para justificar o que chamou de “revivescência do ataque do inimigo”.
Proponho que o comercial infame seja retirado do ar sob pena de graves danos à causa da mulher nacional. A gente tem que parar de ficar só celebrando a Maria da Penha, é preciso criar fatos companheiras, se não nosso ministério vai pra cucuia. Ministra, vão dizer que estamos ressuscitando a censura, que somos uma bando de bruxas que não tem o  que fazer. Para seu governo, companheira, nós petistas fomos vítimas da censura, isso aqui é defender os bons costumes, as conquistas femininas. Se temos que tomar uma medida radical, que seja.
Ministra, vamos pedir para proibir por que mesmo? Não vejo mal nenhum na propaganda, aliás, o companheiro lá de casa iria adorar eu dentro daquela lingerie que é tudo. Companheira, estou passada. Estou sem fala, como é que você foi contratada para este ministério? Aqui defendemos a causa feminista, você está com o discurso das inimigas e ainda faz o papel de advogada da diaba.
A cada rebolada dessa zinha aí, anos de lutas e conquistas a duras penas vão pelo ralo. Nosso movimento, em seus primórdios, tirou a calcinha e o sutiã como símbolos máximos da opressão masculina. Este comercial, companheiras, “promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido”. Esta outra quer nos fazer usar estas roupas fetichistas para nos tornar simples objetos da luxúria do homem. Ministra, a senhora não está sugerindo que nós... O riso foi geral e incontido. Até a própria disse que não... havia perdido, se posso dizer, o rebolado.
Recompondo-se. Eu tirei, sim, o sutiã, era nossa bandeira. Uma cochichou com outra. Deve ter matado duas baratas que passeavam cá embaixo. Já a calcinha, não tirei não. Bem, joguei uma para o Wando, aquele beiçudo danado. Mas é só este pecadilho que tenho. Mais risos. Êpa, isso aqui está desandando. Temos que ir às ruas, fustigar o judiciário. Cadê o Conar? A propaganda atenta contra dignidade feminina. Nos rebaixa a um corpinho bonitinho e só. Silêncio. Então, companheiras?
Está decidido, vamos às barras dos tribunais pedir o fim desta humilhação. Justo agora que temos uma presidenta, vem esta mulher, agente subversiva do erotismo, vulgarizar todas as mulheres só porque é bonita e gostosa... Todas a olhavam com caras de “não sei e não tô nem aí”. Elas concordariam com o que fosse dito, mas sem convicção, não se sentiam ameaçadas pela Jezabel Gisele.