A Secretaria de
Políticas para Mulheres do governo federal pediu ao Conar (Conselho Nacional de
Autorregulamentação Publicitária) a suspensão da campanha publicitária
"Hope ensina", que traz a modelo Gisele Bündchen mostrando a
"melhor maneira" de contar más notícias ao marido.
Fonte: Folha (De Brasília) 28/09/2011
O que sei é que se ela continua
com aquele requebro em cadeia nacional de tv, naqueles trajes minúsculos, é
capaz de fazer mais estrago às nossas conquistas do que a Associação do Cornos
Cearense e ainda pior, a Associação dos Machistas Mineiros. Se juntar todas
aquelas ucranianas sem classe balançando os peitos em praças, nem chega perto
da punhalada nas costas que essa provoca.
Vejam companheiras, se isso não é
um disparate. Como é o nome dessa menina mesmo? Gisele, disse uma. Ela casou
com um atleta americano liiiindo... Companheira, contenha-se, não queremos
saber de sua vasta cultura cultivada em horas de leitura da Contigo, Caras e
sei lá mais o quê. Isto aqui é uma reunião para deliberar o destino da mulher
brasileira, quiça do mundo, digo eu.
Houve entreolhares entre as
participantes, como que a entender o limite do que podia ou não em tão
importante congregação. Afinal, ali estava
a nata da Secretaria Especial das Mulheres, amazonas da causa. Sem que
as outras se preparassem, a ministra se levanta e arremeda o andar da inimiga. Para,
bota as mãos nas cadeiras e diz: amor, eu bati o carro. Disse da forma que
entendia ser uma fala sensual. Apertou os olhos atrás dos óculos, fez biquinho.
Risos nervosos ecoaram timidamente, afinal não se sabia se era para rir.
Nem se fale no espetáculo
dantesco que o desfile mumesco proporcionou. A cena era capaz de dar convulsão
em lesma. Mas conhecer as artimanhas do inimigo é fundamental, já ensina o
velho Sun Tzu. Às vezes, é preciso interpretá-lo, senti-lo, colocar-se como se
fosse o próprio. É a única forma de entrar em sua mente. Esta foi a peroração
da ministra para justificar o que chamou de “revivescência do ataque do inimigo”.
Proponho que o comercial infame
seja retirado do ar sob pena de graves danos à causa da mulher nacional. A
gente tem que parar de ficar só celebrando a Maria da Penha, é preciso criar
fatos companheiras, se não nosso ministério vai pra cucuia. Ministra, vão dizer
que estamos ressuscitando a censura, que somos uma bando de bruxas que não tem
o que fazer. Para seu governo,
companheira, nós petistas fomos vítimas da censura, isso aqui é defender os
bons costumes, as conquistas femininas. Se temos que tomar uma medida radical,
que seja.
Ministra, vamos pedir para
proibir por que mesmo? Não vejo mal nenhum na propaganda, aliás, o companheiro
lá de casa iria adorar eu dentro daquela lingerie que é tudo. Companheira, estou
passada. Estou sem fala, como é que você foi contratada para este ministério?
Aqui defendemos a causa feminista, você está com o discurso das inimigas e
ainda faz o papel de advogada da diaba.
A cada rebolada dessa zinha aí,
anos de lutas e conquistas a duras penas vão pelo ralo. Nosso movimento, em
seus primórdios, tirou a calcinha e o sutiã como símbolos máximos da opressão
masculina. Este comercial, companheiras, “promove
o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu
marido”. Esta outra quer nos fazer usar estas roupas fetichistas
para nos tornar simples objetos da luxúria do homem. Ministra, a senhora não
está sugerindo que nós... O riso foi geral e incontido. Até a própria disse que
não... havia perdido, se posso dizer, o rebolado.
Recompondo-se. Eu tirei, sim, o
sutiã, era nossa bandeira. Uma cochichou com outra. Deve ter matado duas
baratas que passeavam cá embaixo. Já a calcinha, não tirei não. Bem, joguei uma
para o Wando, aquele beiçudo danado. Mas é só este pecadilho que tenho. Mais
risos. Êpa, isso aqui está desandando. Temos que ir às ruas, fustigar o
judiciário. Cadê o Conar? A propaganda atenta contra dignidade feminina. Nos
rebaixa a um corpinho bonitinho e só. Silêncio. Então, companheiras?
Está decidido, vamos às barras
dos tribunais pedir o fim desta humilhação. Justo agora que temos uma
presidenta, vem esta mulher, agente subversiva do erotismo, vulgarizar todas as
mulheres só porque é bonita e gostosa... Todas a olhavam com caras de “não sei
e não tô nem aí”. Elas concordariam com o que fosse dito, mas sem convicção, não
se sentiam ameaçadas pela Jezabel Gisele.