Pesquisadores da UFRN
(Universidade Federal do Rio Grande do Norte) descobriram uma nova espécie de
anfíbio no bioma da caatinga do Nordeste do Brasil. A rã Pseudopaludicola pocoto é a 19º
espécie de sapos bem pequenos que predominam na América do Sul (do norte da
Argentina à Venezuela – leste dos Andes) do gênero das Pseudopaludicola.
Fonte: Aliny Gama (Do UOL, em Maceió – 06/06/2014)
Vamos lá,
comecemos com um desafio. Repita o mais rápido que puder e bem audível: Pseudopaludicola
pocoto. Você
desconfia que esta tranqueira de palavras deve ser um nome científico de algum
bicho esquisito. Muito bem. Trata-se de uma rã ou sapo – a reportagem não se
definiu quanto a isso – recém-descoberta no estado do Rio Grande do Norte.
O anfíbio bizarro não mede mais que alguns
milímetros e os machos, ao cantar para atrair as fêmeas, emitem um som parecido
com o trote de um cavalo, donde o segundo nome pocotó. Apenas esta espécie
canta desse jeito. Outros minúsculos aparentados cantam lá de sua maneira,
explicou o pesquisador. Assim, cada qual fala sua própria língua e não há
perigo, por parecidos que sejam, de alguém atrair quem não quer.
Pergunto-me se haverá, com um pouco mais de procura
– e olha que os caras gastaram dois anos nesta marmotagem de caçar batráquios
noite adentro – enfim, indago-me se não haverá ainda escondido entre moitas de
muçambês, dormitando em mururus e aguapés, outros bichos igualmente espiclondríficos.
Quem sabe uma rã que lata, outra que mie e, por que não, uma que fale, fanha ou
gaga, com a língua presa ou que troque letras, tanto faz. Não me admiraria.
A Pseudopaludicola,
por evidente, não se confunde com um equino ou asinino, tão comuns naquelas
paragens. Basta olhar para a dita cuja. Cabe na ponta do dedo indicador. E não
consta que conheça a música (?) eguinha pocotó para nela ter buscado inspiração.
Mas se apenas se ouve, abstraindo que o chão não treme com as pocotozadas, ela
sugere aquilo que não é. Verdade que é preciso um pouco de imaginação, pois o
som é bem agudo. O que importa, no entanto, é a intenção de parecer-se com
aquilo que não é, mesmo que seja fácil desmascará-la. Ela parece não se
importar, pois no vídeo continua a cantar indiferente à luz e ao intruso
humano.
Às vezes, sou sacudido pela desconfiança de que se
vive a era de ouro da contrafação pessoal e comunitária. Suspeito que nosso
país é assim mesmo, donde, por sermos nós que o fazemos, sermos por extensão,
mimetismos ambulantes (que Raulzito me perdoe a triste paráfrase).
Cantamos nosso pocotó de cada dia, acreditando
piamente que somos garbosos cavalos, mas assim como o cabelo da mulata não
negava, por que era mulata na cor, nossa cara batráquia também não. Nem nossos
agudos coachados, ainda que não nos importemos que nos vejam, atrás da sombra,
chamando quem nos convém. A magia há de se quebrar uma hora, pois haverá um
espírito de porco para nos chamar pelo nosso verdadeiro nome: Pseudoqualquercoisa.
Bom, vai ser meio difícil olhar no espelho de novo.
A pele úmida, o olhar esbugalhado e uma louca vontade de comer a primeira mosca
que esvoace à luz de nosso olhar vidrado, denunciará nossa natureza. O príncipe
ou princesa propriamente ditos serão infinitamente menos atraentes e se perderá
o doce sonho de que a um beijo, o sapinho se transforme desencantando. Antes o
autoengano, agora a negação. Maldito intrometido pesquisador.