Ammy
“Dolly” Everett tinha 14 anos apenas quando tirou a própria
vida. Seus pais e amigos a definiam como uma menina sensível e
preocupada com os outros, especialmente aqueles que eram mais fracos.
A
garota ficou conhecida em toda Austrália por causa de uma campanha
publicitária que fez aos 8 anos para uma famosa marca de chapéus e
da qual se tornou garota propaganda até o momento em pôs fim a sua
vida.
Numa
carta, seu pai disse que a causa de ato tão terrível seria
resultado de Bullying que ela vinha sofrendo pelas redes sociais. Um
desenho de Ammy foi compartilhado pela família. Nele se via uma
figura magrinha inclinada para trás que dizia: “fale mesmo se sua
voz tremer.”
Apesar
de ser um anglicismo que não ganhou tradução na fala em português,
a frequente abordagem do tema tornou compreensível a todos.
Deplorar
a condição de alguém, apelidar maldosamente, agir de forma
preconceituosa, destratar, desmerecer, isolar e ignorar as pessoas,
são parte do arsenal de violências psicológicas que se pode fazer
contra alguém. Além disso, a agressão física completa a lista de
ações que definem o Bullying.
Histórias
como a de Ammy ganharam visibilidade e revelaram um mundo até
outrora invisível, então é muito bom que se fale sobre isso e se
tome todas as medidas necessárias para evitá-lo, mas…
O
Bullying é como uma doença e como qualquer doença ela está à
espreita em algum lugar. É como um animal predador de emboscada. Ele
se disfarça e se esconde. Ele simula desinteresse na presa até que
seja tarde demais. Mas se tomarmos estas duas imagens como
verdadeiras, por que temos a sensação de que há mais Bullying
agora do que antes em nossa infância? É por que não conhecíamos a
palavra? É por que havia mais resistência naqueles que sofriam a
agressão? Nossos jovens são mais frágeis que a geração anterior?
Retomando
as imagens utilizadas antes. Nenhuma presa é passiva diante de seu
predador. Cada uma delas tem algum recurso para enfrentar, se
disfarçar, fugir… Uma doença é tanto mais forte quanto mais
precária for nossa imunidade.
Vivemos
em um mundo onde a maldade está em todo lugar. E jamais ele será um
espaço de bondade e paz permanente ou ausência de violência. Sim,
a luta deve ser sem trégua contra as forças do mal, mas elas sempre
existirão e farão vítimas. Então me parece utópico apenas querer
impedir o Bullying com medidas que mais castram a liberdade das
relações e das brincadeiras que, sim, às vezes são mais
agressivas entre jovens, por exemplo, grupo de maior vulnerabilidade.
Não
sei detalhes da história de Ammy, mas será que essa garota não
ficou tempo demasiado sozinha e sem assistência? Vejam, não culpo
os pais. Apenas esta excessiva liberdade nas redes permite uma vida
paralela tão exigente e cheia de desafios quanto a vida real e
parece que subestimamos isso.
As
relações familiares, quando saudáveis, e com saudável quero dizer
presença parental, diálogo, ensino sobre princípios da vida,
afeto, convivência de qualidade, para mencionar algumas coisas.
Estas relações são as grandes provedoras de anticorpos, recursos
de defesa contra a violência de toda sorte. Estar preparado não
impede de sofrer a violência, mas dá ao agredido um escape, a busca
por ajuda e não a miserável tortura e angústia de quem se vê
sozinho e acha que este problema é só seu.
Não
invento a roda. Sei que existem iniciativas que tentam trabalhar
nessa direção do fortalecimento, do conhecimento sobre o chão
pantanoso das relações humanas aos quais estamos mais expostos
quando mais jovens e inexperientes.
Mais
que lei ou regras, os jovens precisam de orientação sólida sobre
os limites do abuso. Parece que se defende mais que os jovens saibam
mais sobre sexo protegido do que se defender ou buscar ajuda contra
as agressões psicológicas que o Bullying produz.
Então
pais e mães, é nossa responsabilidade começar agora, talvez com
uma conversa de sondagem com seu(s) filho(s) em idade vulnerável. Há
sinais em quem sofre. Mas se mal você vê seu filho, como perceberá
que há algo diferente em seu comportamento? Paternidade dá
trabalho, sim, então vai lá faça seu trabalho!