segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Não curti no facebook


LONDRES — Testemunhar as férias, a vida amorosa e o sucesso profissional dos amigos no Facebook pode provocar inveja e causar sentimentos de infelicidade e solidão, segundo pesquisadores alemães. Um estudo realizado em conjunto por duas universidades alemãs encontrou uma inveja desenfreada no Facebook, a maior rede social do mundo, que agora tem mais de 1 bilhão de usuários e produziu uma plataforma inédita para comparações sociais.
Fonte: Reuters (O Globo – 23/01/2013)

Em várias ocasiões fui questionado porque não tenho facebook. Diante de minha negativa, todas as vezes as pessoas reagiram com exagerado espanto. Confesso que me senti um tanto paleolítico por instante, mas logo vinha meu velho primeiro argumento de que não tive essa necessidade. E olha que sou bombardeado frequentemente por emails sedutores me mostrando quem também está lá. Dou de ombros e deleto o email sem dó.
Acrescento às minhas perorações aos espantados colegas que não quero encontrar ninguém no espaço virtual e ter que adubar amizades, algumas das quais é até melhor esquecer. Que não tenho saco para ficar olhando quem ou o que foi postado e nem de responder aos comentários e curtições. Só falto dizer: dane-se o facebook e seu 1 bilhão de seguidores. Não o faço por respeito aos interlocutores que sempre me ouvem incrédulos, pensando como eu posso viver sem o face, como eles gostam de chamar na intimidade a rede social.
Aos colegas empedernidos e resistentes às redes, confesso: já tentei fazer uma conta. Vale em meu favor dizer que apenas queria bisbilhotar o que meus filhos faziam neste mundo louco? Com quem andam? E o que rola nestas “amizades” esquisitas? Espero que sim, pois cancelei a conta por não conseguir acompanhar aqueles papos de adolescentes e porque tive várias conversas sérias com os filhos, inclusive, por acidente de percurso, determinar, mesmo por pouco tempo, autoritariamente – e me orgulho disso –, o cancelamento puro e simples da conta.
No breve momento em que botei a cabeça na porta entreaberta, choveu de gente pedindo para ser meu amigo. Alguns que mal conheço na vida real. Descobri uma antiga namorada, mas a neoamizade não prosperou sob a audiência cuidadosa da minha senhora, que não gostou nada desta confraternização internética. Talvez pela animação da ex, ainda que não tenhamos passado de posts inocentes. Como bêbados, as pessoas perdem a noção do real quando estão imersos neste mundo onde quase tudo pode.
De qualquer modo, para muitos dos pedidos eu não sabia se dizia sim ou não. Estava incomodado em dizer “não”, pois não queria ferir suscetibilidades, mesmo sabendo que um robô virtual tenha me unido àquela pessoa. Também não queria dizer “sim”, pois faltava-me a paciência para alimentar o serviço. Entrecruzilhado de dúvidas, fechei a conta.
À parte de tudo, penso que o facebook é a versão ultramoderna de uma dinâmica que nos revela até o osso como seres sociais e que, com boa fundamentação teórica, até explica a vitória do capitalismo sobre a economia de estado, leia-se comunismo. A fofoca e a inveja são estes elementos.
A fofoca faz propaganda boca a boa, poderoso meio de ser conhecido um produto ou gente. Verdade que, por natureza, a fofoca não divulgue coisas das quais você se orgulhe, mas tem gente que não está nem aí, desde que falem dele(a). A inveja sugere que o outro é sempre melhor que você e mais bonito, mais bem sucedido. No capitalismo é motivo para vender, pois o vizinho ou o colega quer sempre superar o outro. As propagandas de carros usam e abusam desse expediente.
Há mais de 30 mil anos, nas cavernas, já rolava este tipo de situação. Na escola, no trabalho, em casa, na igreja, em todos os lugares onde se reúnam a partir de duas pessoas, haverá fofoca e inveja. Dizem que alguns símios são capazes desta proeza. Eis uma prova que com mais um trilhão de anos poderemos viver a versão real de “O planeta dos macacos”. Com um porém: se se tornarem iguais a nós, ouso dizer que trocarão seis por meia dúzia nesta espécie de involução.
Ora, demorou para uma pesquisa identificar que no facebook rola mesmo é fofoca e inveja. Eis que não falta mais. O Instituto de Sistemas da Informação na Universidade Humboldt de Berlim descobriu o que chamaram de “inveja desenfreada” que corre solta no face. Olhar as pessoas postando fotos de férias e sucesso de modo geral, faz com que um grande número de pessoas se sinta mal consigo mesmo. Como forma de destruir este bem sucedido, digo eu, o remédio é a vingança da fofoca.
O que me causa espanto é que ainda não se tenha pesquisado que a maioria dos posts é mentira. Quer dizer, o sujeito está passando mal de tanta inveja diante de algo que não aconteceu. Simples. Contra a felicidade virtual do amigo, mostre uma felicidade mais feliz que a dele. Se a família dele é perfeita – este é outro item objeto de inveja “descoberto” pela pesquisa – faça a sua ser ultraperfeita. Mulher miss, filhos gênios. Se ele viajou à Europa ou algum paraíso no Caribe, diga que está acabando uma volta ao mundo e que está cansado de tanto viajar. Capriche na montagem das fotos.
Alguém ousaria perguntar. E o real? O real não importa.