segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Aconchegadora Profissional


Jackie Samuel, 29, uma moça Rochester, Nova York, tornou-se “Cuddler Professional”. Resolveu abraçar, dormir e acalentar pessoas por dinheiro para pagar seus estudos. Ela recebe em torno de R$ 525 por dia (cobra US$ 60 a hora), e “dorme” com até 30 pessoas por semana, incluindo mulheres, aposentados, veteranos de guerra, ou seja lá quem estiver carente.

Fonte: Site Vírgula (05/11/2012)

A palavra mais próxima que encontro, em nordestinês, é chamego. A moça chamegava os outros e só. Este “e só” ela fazia questão de enfatizar. Como aquelas meninas bonitinhas em festa de São João que vendem beijos em barraquinhas, Kate vendia chamego.
Aconchegava quem pagasse, preço que ela cobrava por hora. Não importava o sexo. A condição era ter carência, posto que, é de se entender, apenas gente solitária e carente recorreria aos serviços aconcheguísticos oferecidos pela profissional.
Mas ninguém se mete em, digamos, tal profissão sem percalços. Como separar o necessitado de aconchego de outras intenções não confessadas na hora da contratação do serviço? Esta e outras questões faziam parte do curso de chamenguento profissional que Kate iria ministrar.
Primeiro, ela explicou por que se tornou aconchegadora. A necessidade faz a invenção. No seu caso, duas necessidades. A sua e a dos outros. Queria entrar para a faculdade e percebeu a enorme quantidade de gente sozinha e carente. Pronto, estava aberto mais um mercado de serviços de relacionamento humano. Embora, lembrou Kate, lá no início, tenha aconchegado um cachorro de uma ricaça que não dormia sem a dona.
Regra um. O contratante não toca nas partes cobertas do corpo do aconchegador. Kate atende de pijamas, que deixa à mostra apenas mãos, pescoço/cabeça e mocotó. Houve um fetichista que quis ficar íntimo de seu pé, mas não rolou. Regra dois. O cliente não pode ficar nu. Regra três. Explicar na contratação que não se trata de prostituição e que pela manhã, acabou o relacionamento.
Derivada da terceira regra, a regra quatro limita o número de encontros para o relacionamento comercial não desandar. É que o povo se acostuma fácil. Mas, passados quinze dias, pode-se voltar a aconchegar o cliente novamente. Assim, não gera dependência, do que já falaremos.
Kate abriu um pequeno parêntese para contar que já existe gente viciada em chamego pago. Ela foi pioneira do serviço, mas aberto este ramo de trabalho, um monte de gente agora sobrevive embalando os outros. Recentemente foi aberto o AA – aconchegados anônimos – para tratar deste mal moderno.
Regra cinco. Importantíssima. O aconchegador aconchega em forma de conchinha. Seja para dormir – fatura-se mais, pois são mais horas – ou apenas para dar este calor por alguns poucos momentos. Futuros chamegadores! Nunca. Ouviram? Nunca mesmo, um aconchegador fica na frente de alguém do sexo masculino. Quer saber? Nem feminino também. Precisa explicar? Aprendi isso, disse ela, a duras penas, para não dizer outra coisa.
Uma atenta estudante quis saber. E se rolar um clima de parte a parte? Aí cruzamos a linha fatal que transformaria nosso serviço em prostituição. Mas se há sentimento, não é prostituição, insistiu a impertinente. Case-se ou vá morar junto com o cliente. Num instante o clima acaba. Respondeu Kate, enfurecida.
Regra seis. Aprenda a identificar os adictos do aconchegamento. Querem repetir o serviço várias vezes. Oferecem valores acima do permitido pelo sindicato. Dão presentes. São infiéis. Quero dizer, se agarram a qualquer um aconchegador. Parecem cachorros pequinês no cio. Identificou o viciado – não chamem assim por aí, eles agora se dizem uma minoria e pode-se incorrer em discriminação – encaminhem para o serviço público ou algum AA.
Um último alerta. O mercado está inflado de gente que se diz aconchegador, mas não é. Por isso a colega aqui foi confundida com uma moça da vida fácil. Há bairros chamados agora de aconchegolândias, tomados de viciados que atacam as pessoas implorando por aconchego. Isso no meio da rua e em pleno dia. Setores da cidade acumulam montes de pessoas aconchegando-se umas às outras sem o menor pudor. Um drama de saúde pública e de segurança. Passem na secretaria de recebam suas carteirinhas.