Todas as
palavras sobre o Pokemon Go são superlativas. Brasileiros aficionados a jogos
não veem a hora de se sair por aí catando, melhor dizendo, caçando os bichinhos
virtuais esquisitos. Considerando que as pessoas nas ruas e ao volante dos
carros já andam que nem autistas, alheios ao mundo com a cara enfiada nas telas
dos celulares, o que não acontecerá com a operação definitiva dos servidores da
Nintendo, que já estão em teste no país?
Talvez eu seja
apenas um old fashion. Quem sabe, por razões um tanto desconhecidas para mim,
tenha feito uma viagem no tempo, apenas me deixando ficar no século passado e
este que aqui está não passa de um holograma que vê estas coisas com
curiosidade, quase cientificamente interessado nos comportamentos estranhos que
eventos como esse despertam nas pessoas.
A vantagem é
que, parece, os bichos podem ser caçados e não correm o risco de extinção. As
reportagens mostram magotes de pessoas reunidas, mas não necessariamente em
contato entre si, em praças e parques ou mesmo nas ruas, realizando movimentos
estereotipados, rindo sozinhos com a captura ou demonstrando frustração porque
o bicho ladino escapou. E se fazem algum contato visual com um alienígena
transeunte, demonstram constrangimento pela derrota.
Em meio à onda
pokemoniana, há quem se ofereça para segurar o cachorro que foi levado para
passear, para que seu dono possa caçar os animalitos tranquilo. Outros se
oferecem, por módica quantia, para dirigir enquanto o dono do carro se torna um
caçador virtual. Um irlandês não quis saber, entrou na contramão e por pouco
não causou um acidente. Multado e repreendido pela autoridade de trânsito,
explicou cândido que um Pokemon havia entrado na rua de mão proibida.
Eis mais uma
forma de se anestesiar, de se deixar absorver e consumir. O mundo real é
aborrecido e parece ter uma propensão especial para negar nossos doces sonhos.
Que mais dá se a nova moda, com seu efeito manada, propõe caçar seres virtuais,
contanto que se consiga inundar o cérebro de dopamina, não importa. Ademais, se
pode “conhecer” outros caçadores e, quais homens primitivos, sentar ao redor da
fogueira e contar em tons épicos as muitas aventuras de caçadas na selva
urbana.
Que sensação
de vitória e realização convidar alguns inexperientes caçadores para visitar a
sala de jantar e lhes mostrar, entre orgulhoso e encantado consigo mesmo e
cheio de autocongratulação, a parede de troféus, com suas indefectíveis cabeças
empalhadas dos mais exóticos animais que se tem notícia. Quem sabe, num arroubo
culinário, explicar em detalhes de fazer inveja ao Master Chef, os acepipes e
formas sofisticadas de comê-los. Não inteiros, mas partes específicas como
fígados de ganso engordados com manteiga.
Não
se admire se encontrar pessoas desfilando nas ruas com peles-imitação dos
bichos caçados, ou ainda colares feitos com dentes ou chifres mágicos, anéis com
olhos envidrados como símbolo de um desses novos e fugazes status: caçador de
Pokemon.