O VAR virou top trend em tudo quanto foi meio de
comunicação. E não foi só pela reclamação do gol duvidoso dos suíços no empate
contra o Brasil. Seleção jogando aflora um nacionalismo e patriotismo bestas
nos brasileiros.
E quem é esse tal VAR? Apelido
carinhoso de alguém com o diminutivo do nome? Caso você ainda não saiba o que é
(Uau!) trata-se do sistema de vídeo arbitragem do inglês: vídeo assistant referee (VAR).
É o velho replay, só que agora com a real
possibilidade de mudar a história do jogo. Pênaltis dados e negados causaram
uma revolução em campo e nos resultados, a ponto de ter nascido uma tabela
fictícia: o que seriam as oitavas sem o VAR.
E aí eu me pergunto assim:
já imaginou se pudéssemos ter um VAR para vida? Até acredito que temos, mas é
absolutamente desesperador. O trecho do desastre dito ou feito passa na mente
em infinitos ângulos, mas estamos lá paralisados, olhando a fita obsessivamente
sem poder voltar e consertar, ou fugir, ou reagir à altura.
Um VAR para vida,
naturalmente, permitiria voltar ao exato momento da cena e dar um resultado
mais aceitável para nós. Aquele que apareceu na mente horas ou dias depois.
Quase sempre é uma resposta bem dada àquela pessoa cretina que nos humilhou.
Mas me pergunto se o erro
alheio ou o nosso não faz parte natural de muitos outros acertos no futuro. E
se não errássemos, como aprenderíamos? Como se amadurece sem errar? Como nos
tornamos resilientes sem os fracassos?
Acho que nos tornaríamos
irresponsáveis com a vida. Como a galera adepta da prática do sexo de risco com
AIDS, pois podem lançar mão do PEP – profilaxia pós-exposição. Resultado: há um
número cada vez maior de pessoas praticando bareback,
que na gíria do meio significa literalmente cavalgar um cavalo sem cela.
Acho que um VAR nos
tornaria inconsequentes, afinal, depois a gente consertava e não teria que
sofrer com o arrependimento, culpa, raiva, tristeza, remorso. Mas o que fazer
quando se perde toda esta experiência? Essas emoções e sentimentos “negativos”
modelam nossas relações: conosco e com os outros.
Com um VAR pessoal, imagino
que não haveria mais desculpas. Não haveria mais necessidade de perdão. Bastava
usar o VAR e ajeitar o mal feito. Quem não reconhece os erros cometidos e os
repara (ou tenta), constrói uma falsa personalidade de infalível. Já temso
gente demais assim sem o VAR.
Um VAR para a vida é tentador, mas como no primeiro
filme Todo Poderoso, seria o personagem Bruce Nolan (Jim Carrey), um azarado
incorrigível, investido de poderes divinos dizendo “sim” para todos os pedidos
– que bom que fosse assim – e o mundo se torna um completo desastre. Parece que
um erro ou um “não’ para nós, enquanto outros acertam e tem um “sim”, equilibra
este cambaleante planeta.