domingo, 27 de novembro de 2011

O quê que o baiano tem


O ministro das Cidades, Mário Negromonte, disse nesta sexta-feira (25), em Salvador, que as denúncias de suposta fraude em parecer de obra de mobilidade urbana para a Copa de 2014 em Cuiabá (MT) tentam "enfraquecer a presidente Dilma".

Fonte: G1 (25/11/2011)

O ministro não parava de falar. Era uma técnica para impedir que alguém perguntasse algo. Uma tentativa de “secar” todas as possíveis fontes de perguntas constrangedoras. Convenhamos, é preciso ser extremamente habilidoso nesta questão. Falar demais diz-se o que não se quer. Mas ele era bicho passado na casca do alho, matraqueado, lá do jeito dele. Carregava no sotaque como forma de arrebanhar a solidariedade nordestina.
Assim, você leitor, ao ler a fala do ministro, ouça a melodia do sotaque nordestino. Suas várias reportagens, um misto de autodefesa, pedido de penico à presidenta e ataques melodramáticos, com direito a choro e tudo, foi aqui rigidamente decupado com a maior fidelidade, incluindo espirro, respiração ofegante e perdigotos. Nada escapou. Ah, não se preocupe em achar sentido em alguns trechos, não é erro da decupagem, é que é assim que o cara pensa. Lá vai.
É tudo culpa desta imprensa marronzista, diria o sábio conterrâneo baiano, patrono dos políticos do axé e meu inspirador, Odorico Paraguassu. Oxe, meu rei, eles querem é enfraquecer a presidenta Dilma. Mas não vão conseguir porque a mulher é macha. Quero dizer, forte, enfim, nada tenho que ver com o louco do Bolsonaro.
Não há nada de errado, garanto pela minha mãe mortinha. Se o guverno não tivesse trabalhando... mas tá trabalhando e muito. Tão dizendo que há um desvio de setecentos milhões naquele modalzinho do matrogrosso. Eu pergunto, o que é isso diante da mudernidade que o povo vai ganhar? Vão andar de trem em vez de ônibus que é coisa da pobreza de um Brasil que nós queremos esquecer.
Não tive conhecimento de nada, nem tenho posto o pé no ministério só rodando o país, trabalhando. Isto é gente insatisfeita com nossa administração séria e honesta. Querem me tirar do ministério porque não passei e nem vou passar a mão na cabeça de ninguém. Já mandei investigar. Se alguma coisa aconteceu, cabeças vão rolar.
De que eu falava mesmo? Ah, do trem. Não, da mudernidade. Mas o que fazem esta imprensa preconceituosa com um guverno que se dedica ao povo? Inventa desvio, isso e aquilo. Estão criando a república da discunfiança. Com isso, nós povo desta terra de encantos mil, não podemos concordar.
Eu não tô dizendo que é preconceito? Foi por causa da festa do bode. Para seu guverno, o bode é um orgulho nacional nordestino. O bode sustentou o povo na seca, deu carne, deu o couro, deu o chifre, quero dizer, o chifre não, o leite. Eu mesmo mamei na tetas de uma cabrita. Ahã, é que o leite de minha mãe era fraco, que Deus a tenha em bom lugar. Olhos marejados.
Se fosse uma festa da uva, da maçã, coisa destes sulistas estrangeiros, ninguém dizia nada, mas como é uma singela festa a um símbolo máximo da resistência de um povo, aí caem de pau com esta lenga lenga de usar dinheiro público. Ora, se a festa é para o povo como não havera de usar dinheiro público?
Recompõe-se. Não vou me agachar pra ninguém, não fico de joelho, isso eu deixo pro próximo ministro que cair na esparrela de fazer m... Se o Lupi diz que pra derrubá-lo só a bala, eu não fico de joelho, só diante do Senhor do Bonfim e São Jorge, meu santo de estimação. Não sou apegado ao cargo. Se a presidenta Dilma não me quiser mais, eu dou a ela... Ministro! O cargo, meu filho, o cargo de volta. Oxe!
Esta imprensa discriminidora de nordestino tá querendo é fazer campeonato de derrubança de ministro, mas eu não vou ser a bola da vez. Comigo não, violão! A presidenta já mandou um recado de que eu tô mais firme do que nunca. Eu e ela tamo assim (junta os dedos indicadores e esfrega). É como eu disse, a festa do bode e o trem leve são lados da mesma moeda, são para o benefício do povo, e estes papagaios ensaiados ficam se preocupando com mixaria. Vão se catar cambada de não tem o que fazer!