domingo, 11 de outubro de 2015

Estocando vento



RIO — Depois do discurso que pregava a “saudação à mandioca” e a distinção entre “homens e mulheres sapiens” se espalhar nas redes sociais, outro trecho da fala da presidente Dilma Rousseff gerou repercussão na internet. No fim do mês passado, na ONU, Dilma sugeriu que era preciso criar uma tecnologia para “estocar vento”. O vídeo de um minuto com a exposição do ponto de vista da presidente foi compartilhado no Twitter e no Facebook, e agora virou motivo de piada.
Fonte: O Globo. Por Bruno Góes (10/10/2015)
Há coisas que se impõem. Urgenciam um olhar, uma fala, uma atitude que seja, pois não atentar para o fato, é correr o risco de perder o bonde da história, ouso dizer, da vida. Estes ditos acontecimentos podem ser hilários, mórbidos, inusitados, horrendos, adjetivos que já justificam que se noticie, pois ninguém ler, ouvir ou ver platitudes cotidianas.
Dilma, que já nos brindou com um sem número de frases e exercícios mentais inclassificáveis, agora nos ensina ou sugere como uma profeta com Alzheimer, que se estoque vento. Não se chega a este primor de raciocínio ou visão futurista, sem antes discorrer sobre a mandioca e suas multifacetadas serventias. Não se adquire o apuro e refino de raciocínio sem ter descoberto um gênero absolutamente inaudito, a mulher sapiens.
Assim, além da subversão da lógica, do dadaísmo da formação das frases noutros discursos mundo afora, corou sua trajetória com outro discurso indigente. Nele fundamenta seu brioso saber sobre a produção verde de energia. Sua peroração se demora na produção de energia hidrelétrica e a transmissão da energia pelas redes de transmissão de lá pra cá, daqui pra lá (sic). Com apurado tino explicativo fala daquela maneira que só ela sabe, as palavras se atropelam, os adjetivos se repetem e a construção da ideia sofre por restrição famélica no vocabulário.
Água se estoca, então poderia se estocar vento. Com ar professoral ela exemplifica. Suponhamos que à noite vente mais. Como eu faria pra estocar esse vento? Pergunta retoricamente. Perfeito. Ela lança a ideia e regozija-se com a própria sapiência em plena entrevista coletiva em viagem recente que fez à ONU, pois aconselha que o mundo inteiro seria beneficiado.
A presidente é única mandatária de um país que precisa de um corpo de tradutores, digamos, para seus próprios conterrâneos. Aqui a situação ganha ares de inacreditável. Os blogs pagos pelo governo, auxiliares e paus-mandados diversos trataram de explicar o que a presidente gostaria de ter dito, mas que não disse, ou se disse, não o disse em português ou em qualquer outa língua inteligente conhecida, pois está acima dos comezinhos conhecimentos da plebe.
A “presidenta”, acorreu um explicador, quis se referir ao estoque do vento da energia eólica produzida pelo vento que venta de noite. A “presidenta”, apressou-se uma entendida qualquer, auxiliar para assuntos diversos, a remendar o que o colega explicou e disse que o vento da “presidenta” deve ser estocado para a posteridade para que as gerações futuras sintam seu odor e sejam alumiados por sua sabedoria.
Ao ouvir esta última explicação, seu Edinho do milhão – não é um milho grande – exasperou-se com a indiscrição da colega, pois que aquele vento a que se referiu, era assunto secreto e de um projeto que incluía uma fundação, uma biografia explícita e em quatro dimensões da “presidenta”. Portanto parta depois de 2018, data até quando ela pretende resistir, ainda que a bala como sugeriu o presidente da CUT em cerimônia no Planalto ou lugar parecido. E reitero pra que todos saibam: a “presidenta” não tem vento na cabeça. Ou não é cabeça de vento? Algo assim. 
Houve séria divergência entre a equipe de assistentes, os faz-tudo, os faz-nada e os duzentos e cinquenta e oito negociadores com a base e alhures. Ninguém sabia, afinal, o que quis dizer a “presidenta”, embora todos dissessem ter entendido perfeitamente. Alguém disse que a fala precisava de uma versão, pois os memes corriam soltos nas redes em verdadeiro acinte ao governo e à “presidenta”. Alguém resolveu voltar à ideia fixa do partido, controlar a mídia. Esse é o erro, deixar essa gente se expressando sem saber nem entender nossa mandatária. Esta palavra foi recebida com apupos, mas o estraga-prazeres teve que perguntar: e quem vai negociar com o congresso o cala boca virtual das zelites?