(contém spoiler)
Século XVII,
Japão feudal. Durante alguns anos a evangelização católica foi bem sucedida.
Mas por razões nacionalistas o país, temeroso de uma desvirtuação de seus
valores, deu uma guinada severa em sua abertura aos jesuítas que realizavam a
implantação do cristianismo e passou a persegui-los e a todos aqueles que
demonstrassem a fé cristã publicamente.
Dois jovens
jesuítas defendem junto ao seu superior em Portugal, que deveriam ir ao Japão
em busca de seu mentor, padre Ferreira, que ali desaparecera depois de ter
conseguido algum sucesso como missionário. Em sua última carta havia indícios
perturbadores de que algo estava errado. O filme “Silêncio” de Martin Scorcese
é um projeto que o Diretor acalentava desde 2002, ano em que lançou o “Gangs de
Nova York”.
O elenco
principal conta com Andrew Garfield (pe. Sebastião Rodrigues) – fez o homem
aranha –, Liam Neeson (pe. Cristovão Ferreira) – dispensa comentários –, e um
ator emergente em Hollywood, Adam Driver (Frei Francisco) – fez o neto de Dart
Vader em O despertar da força na saga Stars Wars.
Os dois jovens
padres viverão uma verdadeira epopeia na busca por seu professor e amigo.
Descobrirão que a fé, a despeito da perseguição, resistia nas vilas pobres e
nos pequenos grupos escondidos nas montanhas. Seu guia, um sujeito inconfiável,
era cristão com uma história pessoal de sofrimento por causa da perseguição
religiosa.
Os dois
religiosos logo encontram um grupo de cristãos que os recebem com grande
alegria. Durante algum tempo, em quanto se aclimatam e entendem aquele país tão
diferente, experimentam as perseguições e mortes cruéis a que são submetidos
aqueles que se negam a deixar a fé cristã.
Todo este
sofrimento vai num crescendo. A busca pelo amigo desaparecido de quem se ouve
alguma outra esparsa notícia, mas nada palpável. O homem que os ajudou a entrar
clandestinos, fora cristão, volta-se para fé novamente. Pede batismo, mas numa
alusão à traição sofrida pelo próprio Cristo, pe. Rodrigues será traído por ele
várias vezes, sempre por dinheiro, e logo após o arrependimento e em cada vez o
padre o perdoará.
Em torturas
diversas, psicológicas e físicas, pe. Rodrigues será levado ao limite de sua
fé. Verá a morte de várias de suas ovelhas, resistindo em sua fé a Jesus. Seu
torturador não demonstra raiva, apenas deseja que ele renegue a fé. Pisar na
imagem do Cristo crucificado é uma das formas de demonstrar sua negação.
Ele se volta
para Deus, pede socorro, mas os céus estão em silêncio. Ele sucumbirá para
salvar os que criam. Verá seu amigo morrer para salvar uma garota. Sua alma será
dilacerada em seus últimos recursos.
Por fim, encontra
o que fora seu amigo, confessor e mestre. Tornara-se um japonês. Foi lhe dada
uma mulher. Aqui aparecem as sutilezas. Aquele que homem que fala como se
tivesse repudiado a fé cristã, parece guardá-la em algum lugar de si mesmo.
Pe. Rodrigues
seguirá o mesmo caminho. Igualmente, como parte da cultura local, ele receberá
uma mulher que enviuvara. Ele seguirá os rituais que lhe imporão. Negará a fé
repetidas vezes para satisfazer aos seus captores pisando a imagem do Cristo
crucificado. Ele sabe agora que aquele ato nada é, quando o Cristo continua
vivo dentro dele.
Em
sua morte, os rituais externos da religião Xintoísta foram elaborados e
milimetricamente obedecidos. Então a surpresa, sua esposa, sua alma íntima que
com ele se convertera, sabia que ele calou, mas aquilo que creu jamais se
morreu nele. Entre suas mãos, a cruz repousava delicadamente que ela
amorosamente colocou.