sábado, 20 de maio de 2017

Silêncio

(contém spoiler)

Século XVII, Japão feudal. Durante alguns anos a evangelização católica foi bem sucedida. Mas por razões nacionalistas o país, temeroso de uma desvirtuação de seus valores, deu uma guinada severa em sua abertura aos jesuítas que realizavam a implantação do cristianismo e passou a persegui-los e a todos aqueles que demonstrassem a fé cristã publicamente.
Dois jovens jesuítas defendem junto ao seu superior em Portugal, que deveriam ir ao Japão em busca de seu mentor, padre Ferreira, que ali desaparecera depois de ter conseguido algum sucesso como missionário. Em sua última carta havia indícios perturbadores de que algo estava errado. O filme “Silêncio” de Martin Scorcese é um projeto que o Diretor acalentava desde 2002, ano em que lançou o “Gangs de Nova York”.
O elenco principal conta com Andrew Garfield (pe. Sebastião Rodrigues) – fez o homem aranha –, Liam Neeson (pe. Cristovão Ferreira) – dispensa comentários –, e um ator emergente em Hollywood, Adam Driver (Frei Francisco) – fez o neto de Dart Vader em O despertar da força na saga Stars Wars.
Os dois jovens padres viverão uma verdadeira epopeia na busca por seu professor e amigo. Descobrirão que a fé, a despeito da perseguição, resistia nas vilas pobres e nos pequenos grupos escondidos nas montanhas. Seu guia, um sujeito inconfiável, era cristão com uma história pessoal de sofrimento por causa da perseguição religiosa.
Os dois religiosos logo encontram um grupo de cristãos que os recebem com grande alegria. Durante algum tempo, em quanto se aclimatam e entendem aquele país tão diferente, experimentam as perseguições e mortes cruéis a que são submetidos aqueles que se negam a deixar a fé cristã.
Todo este sofrimento vai num crescendo. A busca pelo amigo desaparecido de quem se ouve alguma outra esparsa notícia, mas nada palpável. O homem que os ajudou a entrar clandestinos, fora cristão, volta-se para fé novamente. Pede batismo, mas numa alusão à traição sofrida pelo próprio Cristo, pe. Rodrigues será traído por ele várias vezes, sempre por dinheiro, e logo após o arrependimento e em cada vez o padre o perdoará.
Em torturas diversas, psicológicas e físicas, pe. Rodrigues será levado ao limite de sua fé. Verá a morte de várias de suas ovelhas, resistindo em sua fé a Jesus. Seu torturador não demonstra raiva, apenas deseja que ele renegue a fé. Pisar na imagem do Cristo crucificado é uma das formas de demonstrar sua negação.
Ele se volta para Deus, pede socorro, mas os céus estão em silêncio. Ele sucumbirá para salvar os que criam. Verá seu amigo morrer para salvar uma garota. Sua alma será dilacerada em seus últimos recursos.
Por fim, encontra o que fora seu amigo, confessor e mestre. Tornara-se um japonês. Foi lhe dada uma mulher. Aqui aparecem as sutilezas. Aquele que homem que fala como se tivesse repudiado a fé cristã, parece guardá-la em algum lugar de si mesmo.
Pe. Rodrigues seguirá o mesmo caminho. Igualmente, como parte da cultura local, ele receberá uma mulher que enviuvara. Ele seguirá os rituais que lhe imporão. Negará a fé repetidas vezes para satisfazer aos seus captores pisando a imagem do Cristo crucificado. Ele sabe agora que aquele ato nada é, quando o Cristo continua vivo dentro dele.
Em sua morte, os rituais externos da religião Xintoísta foram elaborados e milimetricamente obedecidos. Então a surpresa, sua esposa, sua alma íntima que com ele se convertera, sabia que ele calou, mas aquilo que creu jamais se morreu nele. Entre suas mãos, a cruz repousava delicadamente que ela amorosamente colocou.