sábado, 9 de julho de 2011

O amor é cego

O norte-americano Justin Dale Little Jim, de 28 anos, foi preso na terça-feira em Woodbridge, no estado da Virgínia (EUA), acusado de invadir um sex shop e tentar manter relações sexuais com uma boneca inflável, segundo a emissora de TV "WJLA".

Fonte: Do G1, em São Paulo 07/07/2011 11h58

Esquisitão. Este era o adjetivo com o qual os colegas mais o identificavam. Diziam outras coisas, num tempo em que garoto apelidado na escola reagia do jeito que fosse às provocações ou acolhia o apelido com ou sem traumas. Em reagir, refiro-me a ir na porrada para resolver a questão. Bem verdade, não passava disso e no máximo um olho roxo e o orgulho ligeiramente ferido era a consequência máxima do episódio.
Falamos de tempos em que ninguém sabia o que era esse tal de bullyng, estrangeirismo que o politicamente correto nos enfiou goela abaixo e acovardou ainda mais aqueles que por falta sabe-se lá de quê, manterão sua fraqueza com um tipo de amor-próprio que tem valor por nada, apenas pela fraqueza, feiúra, defeito ou um tipo de fragilidade mendiga cheia de si. Agora andam magoteados em ditas minorias que se impõem a gritos de direitos à custa de um profundo complexo de culpa da maioria. Mas a isso chamam de nova democracia, direitos humanos e outros epítetos da hora.
De qualquer modo, nosso esquisitão destoava dos demais colegas não só por que era ensimesmado, solitário, mas por um comportamento exótico que claramente denunciava algum distúrbio mental e emocional que ninguém se importou. Talvez em nome da inviolável liberdade pessoal, da individualidade, da não interferência nas coisas alheias. Que ele tinha fixação em sexo, era óbvio. Piorou na adolescência, tanto que alarmou um pobre psicólogo que um dia lhe aplicou um teste de manchas (Rorschach) e o pobre esquisito viu vagina do início ao fim.
Alguém fez alguma coisa? Nada. Ao fim da adolescência, supõe-se, ocorreu o evento mais marcante de sua vida. Ao passar casualmente por um sex shop, ele a viu pelo vidro. Foi como se um raio o tivesse atingido. Foi amor à primeira vista. Não um desses amorezinhos de ocasião, frugais, banais que se esfumaçam na próxima gostosa. Foi um abalo descomunal ao seu frágil equilíbrio. Verdade seja dita. No início, a empolgação com o amor deu-lhe mais energia e até um pouco mais de interação interpessoal. Mas amores não correspondidos ou platônicos costumam fazer vítimas.
Logo, tudo era desculpa para passar em frente ao sex shop. Demorava-se na vidraça. Fora expulso umas quantas vezes por espantar a freguesia que, como se sabe, gosta de discrição, exceto a Ângela Bismarchi. Ele concluiu que sua amada era prisioneira naquele antro. Por anos consumiu-se em  planos e arroubos na tentativa de libertá-la, mas que logo esmoreciam. Tinha certeza que seu amor era correspondido e quixotescamente vivia no afã de resgatá-la e assim poderem consumar seu amor, no sentido bíblico do termo.
Duas vezes tentou invadir o lugar e levar Dora com ele (Dora foi o nome que ele lhe deu). Ganhou um processo e uma ordem de judicial de afastamento. Não poderia chegar a menos de 50 m da loja. Ele compensou isso com um binóculo. Claro que o proprietário pirava sem saber o motivo de tamanho interesse, mas estava mais tranquilo que “o louco”, como se referia a ele, não poderia chegar tão perto da vitrine e afugentar seus fregueses.
Uma das razões porque tentou invadir a loja é porque viu um homem analisar Dora de perto. E ousadia das ousadias, o sujeito tocou justo no seio de sua musa. Ele surtou literalmente. Quem não o faria? E aí chega um folgado e mete a mão na tua mulher, assim, sem cerimônia nenhuma. Faz o quê?
Mas tudo tem limite e um homem tocar em Dora foi o limite dele. Situações desesperadoras, pedem ações desesperadas. Naquela mesma noite ele improvisou um aríete e derrubou a vidraça. Agarrou Dora pelo braço e nervoso com o alarme que zunia estridentemente, trancafiou-se num armário. O tempo inteiro dizia a Dora que se acalmasse, que a salvaria, que a amava. E naquele lapso de tempo tudo congelou. Era o paraíso. Enfim, tinha Dora em seus braços. Não pestanejou, tascou-lhe um longo e apaixonado beijo e ali deixou-se estar morto de feliz.
Do lado de fora, a polícia e o dono da loja chegaram. Tentavam achar o autor do arrobamento. Nada havia sido roubado. O dono percebeu que Dora não estava em seu lugar e já se conformava com o prejuízo. Então, ouviram barulhos estranhos que vinham do armário. Abriram-no de sopetão e lá estava nosso herói enamorado. Arrancaram-no com violência, enojados e estupefatos pela cena, jogaram-no ao chão e o algemaram. Na tentativa de tirar Dora de seus braços, um acidente. Arrastado, ainda viu sua musa esvair-se. Enquanto o levavam, ele gritava desesperado: eu te amo Dora. Nunca vou te esquecer.