Aqui falo sobre um monte coisas de meu universo de interesse. Filmes, livros, família, política, religião e psicologia. Também reproduzo textos publicados em jornais de São Luís (MA).
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Precisa ter coragem para usar o modelito
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Trem da (quase) morte
A cena inicial parecerá a de um desastrado. Um sujeito desavisado e tão distraído que, naquele momento, seria capaz de engolir o garfo em vez do bife. Acontece com qualquer um, diríamos. As cenas seguintes, porém, começam a causar incômodo. As pessoas não estão alheadas, elas nitidamente desafiam a morte. Esperam o clímax do ante segundo da passagem do trem e atravessam a linha ferroviária em ostensivo desafio à máquina em desabalada carreira.
Que explicaria este comportamento. São pessoas sem nada para fazer e, no ócio, como forma de dar emoção à vida, atiram-se diante de um trem em alta velocidade para sentir aquele milissegundo que antecederia sua possível morte por esmagamento?
O que explica alguém agir desta forma? Há que se perguntar aos suicidas diletantes, mas algum tipo de teoria pode ser feita. O vazio. A carência de sentido para viver. Pensemos bem. O que dá sentido ao levantar, realizar cada dia as mesmas coisas, cuja esperança máxima não se estende a mais que horas ou, quando muito, ao próximo fim de semana em que se poderá dar vazão às energias acumuladas, mas sem propósito, das formas mais autodestrutivas imagináveis ou nem tanto?
Um sentimento niilista perpassa as emoções ocas. Este sentimento de nada e esquecimento de si, como quem não tem qualquer propósito, mas que precisa se expressar para autenticar-se. É do humano. Mas como o vácuo é o que preenche os interstícios da alma, não há no que se apegar ou construir qualquer ilusão. Falta consistência no fazer.
Qual é o lucro? No que isso lhe acrescenta de vida? Pergunta-se sem saber o que perguntar. A busca se esvai porque não há para onde ir. Uma saída é o tremor do medo. O pavor e a descarga de adrenalina e cortisol ante a aniquilação. É preciso ter a amígdala
Espreitam o trem como se fosse um bicho feroz. A máquina ganha rosnados, esturros, bocarra e ferocidade, ela é viva para o que a desafia. Ali, naquele átimo, ele vence a si porque vence a fera que nele mora, representada na locomotiva. Superei a mim, ganhei da morte. Jorra-lhe o prazer do controle que é cadenciado na rapidez da (ultra)passagem da fera poderosa.
Não se considera a estupidez do ato quando sentir-se vivo é tudo que importa. Não mais por meio da elaboração das relações, dos dias modorrentos, da estética do ser nem tampouco na repetição dos atos cotidianos, é um corpo-mente dependente, funciona em pequenas explosões, viciado
Passa o vento rosnando do deslocamento de ar causado pela máquina, um milímetro atrás e ali jazeria um corpo. É este frisson do quase, da iminência, desta porção atômica de tempo que a vida se dá. Antes é o tédio mortal, depois é o mal estar e a atração irresistível de volta à vida molecular.
O link abaixo mostra as imagens
http://www.bbc.co.uk/portuguese/multimedia/2009/02/090210_trem_fp.shtml
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
FRASES
“E as estrelas políticas do dia: Temer e Sarney. O Temer parece mordomo de filme de terror! E ainda por cima é casado com uma miss de 20 anos. Isso que eu chamo de TEMERIDADE! E o Sarney! Mas ele ainda tá vivo? Parece uma coruja empalhada! E o último livro dele se chama "O Dono do Mar". Errado. Devia se chamar "O Dono do Mar... anhão". É um novo mar: o mar Anhão!”
“E o povo insiste em saber: quando o Sarney morrer, se morrer, na hipótese remota de ele morrer, o Maranhão fica pros filhos ou volta pro povo?! E um leitor me disse que o Sarney parece o sargento Escovão do "Recruta Zero". Mas eu acho mesmo que ele é o Benjamin Button!”
“E o Sarney é o Benjamin Button! Parece uma coruja empalhada! E sabe qual foi sua primeira medida no Senado? Pendurar a placa: "Não se aproxime, propriedade particular"! O povo quer saber se, quando o Sarney morrer, se ele morrer, na hipótese remota de ele morrer, o Maranhão fica pros filhos ou volta pro povo! Ele é imortal mesmo. Literalmente. Escreveu "Marimbondos de Fogo", mas o Senado é que tava de fogo! Senadores de Fogo. Depois, escreveu "O Dono do Mar". Ops, "O Dono do Mar...anhão"! E diz que a família Sarney tem embrião congelado. Pro Senado de 2030! E o Sarney não pode levantar os braços! Porque, se ele levantar os braços pra cima, Deus puxa! Rarará!”
"Onde você nasceu? Na maternidade Marly Sarney. E quem nasce na maternidade Marly Sarney é o quê? PUXA-SACO! Rarará!"
José Simão 08, 11/02. Coletânea de cutucões do Macaco Simão em D.Bigodon
“Temos o vício da amizade.”
Edmar Moreira explicando que não poderia caçar nenhum colega pilantra por são chegados. Parece coisa de quadrilha. Ou não? O homem é deputado federal, Ex-corregedor da Câmara e agora ex-DEM por expulsão depois de muita firula, pressão da impresna e um castelinho de areia de 25 milhões de dólares.
“I screwed up.” (Pisei na bola)
Obama, depois de três de seus indicados ao governo serem derrubados por “esquecimentos” com o fisco. Se fosse o Lula ele passaria o resto do mandato dizendo a mesma coisa. Vá ter picareta (palavra que ele adora) assim no inferno.
“Quando alguém está 55% certo, isso é muito bom, e não há discussão. Se alguém está 6º% certo, isso é maravilhoso, é uma grande sorte, ele que agradeça a Deus. Mas oq eu dizer sobre estar 75% certo? Os prudentes já acham isso suspeito. Bem, e sobre estar 100% certo? Quem quer que diga que está 100% certo é um fanático, um facínora, o pior tipo de velhaco.”
De um judeu da Galícia (sabe-se lá quem), Citado pelo Reinaldo Azevedo no ensaio “Um homem sem (certas) qualidades”
“O sexo do comércio pornográfico é extremamente hábil, maravilhoso, extasiante. Sexo no mundo real é uma mistura de ternura e mau hálito, amor e cansaço, êxtase e desapontamento.”
Richard Foster, no livro “Dinheiro, Sexo e poder”.
"Eu sempre busquei a verdade"
Bispo excomungado (literalmente), Richard Williamson, num comentário que supõe um conserto da sua declarada negação do Holocausto. Para ele nunca houve câmaras de gás e "apenas" entre 200 e 300 mil judeus morreram durante a capanha nazista. De quê verdade ele está falando mesmo?
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Somos baleias e golfinhos
A cada vez que me deparo com a notícia, fico cá pensando com meus botões sobre os motivos envolvidos nestas insistentes e, muitas vezes, catastróficas, perda de sentido de direção em baleias, golfinhos e afins. Desmantelado este sentido primordial para sua sobrevivência, vêm dar em praias e ali, quais bêbados, afogam-se pelo peso do próprio corpo quando baixa a maré. Logo eles que tem este sentido tão apurado pela capacidade fantástica de utilização de um sonar que lhes permitem se comunicarem uns com os outros de sua espécie, caçarem e navegar pelo vasto oceano.
Já ouvi de tudo de especialistas perguntados, sempre que acontecem estes desastres. Fala-se em doença, contaminação por elementos químicos despejados no mar que é, afinal, a grande lixeira do planeta, e terremotos submarinos. A mais curiosa explicação, entretanto, é da poluição sonora no mar. Como se sabe, a propagação do som na água é quatro vezes maior que no ar. Assim, explicam os experts, a imensa frota de navios de todo tipo rasgando os mares de um lado para outro, nem se conte os submarinos em seus exercícios militares, que usam justamente, o sonar. Este barulho ensurdecedor estaria causando este descontrole nos animais.
Outro dia uma baleia jubarte filhote subiu rio acima no Pará (Viseu). Estava ferida, desnorteada. Foram feitas algumas tentativas de empurrá-la de volta ao mar, mas escapou. Foi vista noutro lugar e depois, o corpo encalhado num barranco de lama. Virou esqueleto num museu de história natural.
Praias de diversos lugares no mundo tem sido palco de cenas desconcertantes desse tipo. Os bichos se atiram contra a areia ou lama, aos montes, e ali ficam, a espera da morte. Esforços em empurrá-los para o mar, normalmente, são frustrados. É quase um suicídio coletivo.
O mais recente espetáculo deste tipo deu-se nos mares das Filipinas. Centenas de golfinhos, amontoados, um ao lado do outro, em pequenos grupos, nadavam em direção da praia ou ficavam parados a flutuar como que abestalhados. As pessoas, com barcos, enxotavam para cá e para lá e eles, inertes, mal saíam dos seus lugares.
Pergunto-me se não se dá o mesmo com as pessoas. A audição, tanto quanto é a visão, são nossas principais portas de entrada de contaminação de todo tipo que promovem esta falta de chão e motivam os comportamentos mais bizarros. Às vezes, é algo que se ouviu quando criança que reverbera vida afora na forma de medo, vergonha, praias rasas sufocantes. Ou é a visão de algo chocante ou assim interpretado, que na vida futura desencadeia timidez, gostos esquisitos, falas fora do tempo, pensamentos repetitivos, atos incoercíveis, lamaçal paralisante.
Em algum momento ou lugar dentro de nós o som e imagem se distorcem, produzindo raciocínios tortuosos, miragens enlouquecidas que nos despedaçam, empurram para abismos abissais de onde só se sai à custa de tornar-se outro tipo de peixe ou cetáceo, um que transite em meio ao lixo e poluição sabendo que um pedaço de plástico não é uma lula apetitosa, mas um engasgo prestes a roubar a vida que adernará irremediavelmente para um desfazer-se sem volta.
Assim vamos, aos bandos, cada qual com seu ouvido agravado para se ouvir, ouvir o outro, tudo é estática e um barulho infernal que apenas se vê o mover de bocas que falam, falam e nada se entende. Nadamos/andamos em círculos com um besouro dentro do ouvido ou água chacoalhando como se as ondas arrebentassem dentro da cabeça. Cada praia parece um oásis de chegada, mas é morte em grãos minúsculos.
A tentação e a fome
A cena é conhecida. Fala-se dela desde muito. Fascina, causa estranheza e temor. Basta ler as primeiras palavras e as imagens nos vêm já convertidas em filmes mentais, inspiradas em versões cinematográficas de outros. Jesus, com o rosto sofredor ou um olhar perdido para os céus, num lugar ermo qualquer, e um homem a representar o diabo, saltitante ao redor, sorrisos histéricos, olhar pontiagudo de maldade a sugerir-lhe que transforme pedras em pães.
Os três evangelistas afirmam a mesma coisa: Jesus esteve quarenta dias e quarenta noites naquele lugar,
dio. Mateus e Lucas afirmam que ao final deste período teve fome. Óbvio, você diria. Não estava ali um faquir, um ET, uma múmia, um comedor de luz como alguns hoje se intitulam, nem um anjo, era um homem.
Estar no deserto não significa apenas um lugar distante, sem condições de sobrevivência, quer dizer, acima de tudo, estar só, sem possibilidade de ajuda dos seus. Autenticar-se, construir-se, gerar uma identidade, pode até usar materiais dos ancestrais, do entorno, mas é sempre um trabalho solitário. Você luta, como Ele, contra você mesmo. Na verdade, contra as forças indomadas em você, espicaçadas por desejos sem freio, loucos para se realizarem agora. A tentação é filha do desejo. As fomes várias, o anseio vário, as tendências, as verdades, as certezas, a fé. Quais serão as suas que, afinal, dirão quem você é?
A palavra em Mateus anago=levado (pelo Espírito - 4.1) metaforicamente aponta para alguém que zarpou de um porto, fez vela, lançou-se ao mar. Esta viagem não tem volta. Não no mesmo instante. Quem é o mesmo depois de tantos portos e paisagens? Ali Ele se definiria irremediavelmente como o Cristo. Apenas porque rejeitaria a sugestão diabólica? Por que não lhe obedeceria? Tenho dificuldade de aceitar esta interpretação. Parece-me por demais simples. Onde está o motivo para pecar?
Técnicos afirmam que uma pessoa agüenta, em média, 60 dias
Quero, neste momento, falar daquelas razões que nos desconstroem, às quais nos entregamos em substituto de outro algo faltante. A diferença do remédio para o veneno, diz-se, é a dosagem. O pecado, o perder-se, acontecem nas coisas comuns, banais mesmo. Comer é saudável e necessário, mas desagregações internas na alma fazem o sujeito comer demais ou não comer. É interessante como isso afeta, mental e fisicamente, a imagem de si. Nas ciências da mente chamam estes problemas de transtornos alimentares. Mas comer ou jejuar é apenas a ponta do iceberg.
O que se torna pecado ou doença no ato é a exacerbação de algo natural e normal, mas que foi corrompido por outra necessidade que, no caso, comer não supriria. Então, sugiro, a questão lá no deserto como aqui, se trata de um tipo de controle – que se sustenta na submissão – que no caso dEle – e deve ser o nosso também – não deve se fiar em si mesmo ou nos sinais mentais e/ou corporais que nos dizem aos gritos que algo precisa ser feito, uma necessidade precisa ser suprida. Haverá sugestões de fórmulas espirituais, remédios, meditações, imprecações, mantras, contra o diabo, esconjuros, para um se safar. Mas ele, com toda sua astúcia, está lá fora. Aqui, na intimidade, estamos nós sozinhos. Ele aponta e avulta os desejos, subverte-os com manjares coloridos. Fotografia de comida Fast Food. Dá água
na boca, não dá? A resposta de Jesus é mais que espiritual no sentido religioso do termo, é realista: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.” (Mt 4.4)
Comeremos palavras? Palavra, normalmente, se vomita em verborragias incontroláveis, vendo da nossa perspectiva. Mas se come palavras, sim. Aqui diferem diametralmente o realista de fé do religioso. Aquele não tem ilusões de atalhos. Tem um saber cristalino sobre si, seus limites e sua fome. Sua percepção não tremeluz se falta luz, pois apenas um sentido lhe será bastante para notar o engano. É porque não confia na imagem aparente que os sentidos produzem. Já o religioso, fia-se em sua condição de guardar dias santos, fazer obrigações e realizar purificações rituais. Estriba-se em sua condição legal ou casta. Refestela-se com o próprio saber. Morrerá como peixe.
Ora, o realista de fé, sabe que pedra sempre será pedra e ainda que tenha o poder de transformá-la em pão, não o fará não porque não possa, mas porque sabe que submeter-se ao desígnio de Deus pede a ação completa e cabal dEle, nunca daquele que se submete. Todo este poder contido é deixado aos pés daquEle que o convoca e mesmo ante a iminência da morte, não será usado. O desafio maior se coloca porque em Jesus há uma dinâmica que demanda a utilização do poder. Ele não foi simplesmente depositado aos pés do trono, enquanto Ele esperava passivamente uma ordem. Ele está em movimento e o cosmo inteiro se movimenta ao lado e em sentido contrário.
Conosco é assim também. A fortaleza de um será testada no movimento. Nas incontáveis ofertas que se nos mostram ao lado e que cutucam nossos mais primitivos instintos. São todas armadilhas que a um toque, despertarão o vil
Ilustação 1 : Tentação de Santo Antonio - Salvador Dali
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Que?! Como assim nu? (Was?! Nackt wie gut?)
Dois turistas alemães foram indiciados sob acusação de ato obsceno após trocarem de roupa no saguão do Aeroporto Internacional de Salvador (BA). Passageiros procuraram a polícia reclamando da conduta da dupla estrangeira.
A delegada titular da Deltur (Delegacia de Proteção ao Turista), Maritta Souza, disse que um dos alemães afirmou não ter se sentido constrangido com o que fez.
O que é que está acontecendo aqui? Quem são os meliantes? O auxiliar apressou-se. Estão esperando a senhora, delegada. São alemães. E daí, meu filho? Não me diz que estes velhinhos estão traficando droga? Não senhora. Mulher. Estão traficando mulher? Também não. Então desembucha. Eles foram pegos trocando de roupa no saguão do aeroporto. Cumé que é? Os alemães olhavam com olhos arregalados aquela conversa de doidos.
Frau (senhora), tentou um deles. Fica calado aí seu velhaco, ainda tô pegando informações do teu caso. Nicht verstehen (não entendo). O que tu disse aí? Esse negócio aqui não vai dar certo. Eu vou me espalhar. Como é que eu vou enquadrar esses home sem me comunicar com eles? Tem tradutor disponível? Delegada, eu manjo um pouquinho de alemão. E por que tu não disse antes? A doutora não tinha perguntado.
A delegada estava indignada. Era dessas que guardavam resquícios de um feminismo pós-qualquer-coisa. Baixinha arretada, estava fumaçando. Logo em seu turno e em seu aeroporto! Estes gringos pensam que aqui é a casa da mãe Joana? Vociferava. Óxente, meu rei, e isso é lá maneira de se comportar? Pois fique sabendo que nesta terra tem lei. Aqui não se fica de ceroula no meio dos outros. Não no meu aeroporto. Tá pensando o quê? Traduz aí. Delegada, eu disse que sabia um pouquinho. Não sei dizer isso tudo não. Pois diz que estão presos. Que praticaram ato obsceno em público e aqui dá cadeia. Sie stecken. Sie obszönen Akt in der Öffentlichkeit. Disse o auxiliar orgulhoso.
Os dois velhos alemães a olhavam estupefatos. Nada entendiam do porquê daquela confusão. A toda hora diziam: Nicht sprechen Portugiesisch. Wir sprechen Deutsch. (Não falamos português. Nós falamos alemão). Isso é lá língua de gente! Resmungou a delegada. Pergunta se entenderam. O auxiliar perguntou, mas os alemães queriam saber por que estavam detidos. Sie waren nackt am Flughafen (Vocês estavam nus no aeroporto), disse o auxiliar. Frau Verzeihung! Ich wusste nicht. (Senhora, desculpe, eu não sabia). Menschen hier leben fast nackt (As pessoas aqui vivem quase nuas). Wandern ist nicht normal, nackt in Brasilien? (Não é normal andar nu no Brasil?) Ô rapaz, traduz ligeiro que eu tô perdendo a paciência. Delegada, ele pediu desculpa, disse que não sabia. Disse que o povo todo aqui vive nu. Disse também que pelo que ele vê nas praias e como o Brasil é vendido lá fora, achou que era normal fazer isso aqui. A delegada se levantou exasperada. Isso é culpa do governo, que faz cartaz do país com as mulatas de bunda de fora, dá nisso aí.
Isto são uns malandros desavergonhados. Olha a cara deles. São dois sonsos. Ficam com esta história de “não sabia”, arremedou. Como é que se diz na língua dele “eu não sabia”? Ich wusste nicht. Ixe vuste nit, repetiu a delegada. Tô arrebentando no alemão. Disseram mais. Quem? Os alemão, doutora. Ah, bom. Que na Alemanha todo mundo pensa igual. Que aqui é o lugar do desbunde. Ele disse isso tudo? Foi sim, senhora. Não disse? Acho que vou dar uma lição nestes gringos malandros. Vão dormir aqui no xadrez. Só viajam amanhã para aprender que aqui tem lei e comigo é ali, na chibata. Diz para eles. Os alemães repetiam que não entendiam. Um dizia: Ich warf sich in die Kleider Sie (eu vomitei na roupa). O outro: Meine Kleider waren nass (minha roupa estava molhada). E ainda: Wir waren spät für den Flug (Estávamos atrasados para o vôo). Nicht finden Badezimmer (não achamos o banheiro).
A delegada, zonza com aquela falação, perguntou ao auxiliar: como é que se diz: calem a boca. Halt den Mund. Fala baixo, não quero que eles percebam. É assim mesmo? É sim senhora. Halt den iMundo! E emendou. O que é isso? Ficam aí babujando com esta língua esquisita que ninguém entende. Eu entendo um pouquinho, disse o auxiliar com um risinho besta. Cala a boca tu também. Enfim, mete essa pulha no xilindró. Pergunta antes se eles sabem o que é um xilindró. Doutora, não sei dizer xilindró
PS. Minhas desculpas aos que entendem a língua germânica. Debitem a culpa no “auxiliar” da delegada ou no tradutor do Google que, como se sabe, não é lá de muita confiança.
Ilustração: Ambiguous woman - Ronald Miller