domingo, 8 de dezembro de 2013

Lulu X Bugu



Não muito tempo atrás, depois que Alexandra Amin, assistente na Warner Brothers, rompeu com um agente que vinha namorando há um ano, uma amiga contou a ela sobre um novo app social, gratuito e dirigido aos interesses das mulheres, que permite que elas classifiquem anonimamente os homens que fazem parte de suas listas de amigos no Facebook.
"Ela me disse que 'se o seu ex era assim maluco, você devia avaliá-lo no Lulu", diz Amin, 29, que vive em Los Angeles. Amin aplicou ao ex hashtags que incluem "#NuncaPassaANoite e #SóParaAmizade. A nota dele foi 6,9, de um máximo possível de 10, o que Amin admite ser "mais baixo do que ele merecia na realidade".

Fonte: Deborah Schoeneman DO "NEW YORK TIMES" (22/11/2013)

Denisson Maicossuel. Ele tem orgulho do nome. Gosta de dizer que é metade do sucesso. A inspiração saxônica deve à mãe. Ela queria o filho artista e com um nome desses, nem precisaria mudá-lo. Poderia ser jogador, o que dá na mesma. Longe do brucutu de outros tempos, jogadores hoje são um primor de metrossexualidade. Entre brasileiros, parecem reproduzir um estereótipo de Neymar ao sujeito do time de várzea que fica feliz quando sai da terceirona e ascende para a segundona. Brinco imitando diamante, boné ostentando uma marca importante qualquer e uns fones de ouvidos gigantescos que dão um trabalho infernal mantê-los pendurados no pescoço. Nem importa se é xingling.
Nosso herói não é jogador e tampouco artista. Digo assim, de ganhar dinheiro com tais profissões. Joga nos finais de semana com a galera do bairro e canta karaokê num bar da periferia, em que nas noites quentes se ouve arrocha e outros que tais até romper os tímpanos. Nem falo da paciência. É claro que Denisson Maicossuel tem conta no facebook, smartphone de três chips, cujo pagamento acabará no início de 2015. Pós-pago, por suposto, mas naqueles planos mirabolantes que ele pode falar com metade da população terrestre por cinquenta centavos de forma infinita. Nunca entenderei tal coisa.  
Maicossuel entrega água e gás. Nem chega a motoboy, mas posa de Harley. Com o nome e a pose é o rei das meninas de seu bairro e arredores. A vida ia muito bem até que apareceu um perfil seu num tal de Lulu. A foto não ajudava. Não era seu melhor lado. Foi tirada de forma furtiva. O esgar da boca era horrendo. A nota abaixo da foto, soube depois, avaliava sua performance como amante, namorado e outros etcéteras e não passou em nenhum deles.
O programa lhe sapecava os piores hashtags, que são umas porcarias de expressões que começam com o jogo da velha e esculhambam a fama de qualquer um: #OlhaParaTodas; #AcessosDeMauHumor; #MetidoaBesta; NemPraAmizade; #BateFofo. Quem teria feito aquilo? Não havia autora. Em sua mente, uma dezena de rostos desfilaram. Concluiu que todas poderiam ter alguma razão, mas havia umas vinte avaliações. Quer dizer, até quem ele não pegou azedou nas notas, o que justificava os foras seguidos e inexplicáveis. Denisson Maicossuel ficou deprê e quase não saía mais de casa. Decidiu investigar aquela terrível destruição de honras masculinas. Sim, havia outros colegas em situação idêntica. Dias e dias de busca e reclusão operaram uma espécie de renascimento nele.
Depois do sumiço meditabundo, Denisson Maicossuel aparece com ar superior como se uma cirurgia cerebral tivesse acontecido ou uma pancada na cabeça. Era outro homem. Seu discurso arrebanhava hordas de homens destruídos. O Lulu é um instrumento de dominação feminista. Digo mais. Domesticação masculina. Sua criadora, a diabólica Chong, declarou que pretende fazer com os homens o que mais de século de feminismo não conseguiu. Eis tudo sobre este app dos infernos. Acossados, doravante os homens serão todo melindres em sua natural maneira macha de ser. Um espirro fora do lugar e aí vem hashtags, notas depreciativas para colocá-lo no lugar, enquadrá-los como se bichos fossem. Imaginem que homens pelo mundo todo, a estas alturas, sentam, dão a patinha, rolam e pegam coisinhas para suas donas. Horror dos horrores, alguns até contam vantagem nesta condição de cãezinhos amestrados. 
Mas elas não perdem por esperar. As mentes masculinas mais ardilosas estão trabalhando no troco desta ofensiva. Antes do final do ano, a libertação se manifestará sobranceira sobre os homens. O Bugu também avaliará as mulheres. Há muito o que dizer sobre as mãezonas, as dominadoras, as chantagistas emocionais, a lista é maior que a música “mulheres” do Martinho da Vila. Elas que aguardem. Querem avaliar anônimas. Deixa estar o que nossos camaradinhas do anonymous vão fazer.