Não
muito tempo atrás, depois que Alexandra Amin, assistente na Warner Brothers,
rompeu com um agente que vinha namorando há um ano, uma amiga contou a ela
sobre um novo app social, gratuito e dirigido aos interesses das mulheres, que
permite que elas classifiquem anonimamente os homens que fazem parte de suas
listas de amigos no Facebook.
"Ela
me disse que 'se o seu ex era assim maluco, você devia avaliá-lo no Lulu",
diz Amin, 29, que vive em Los Angeles. Amin aplicou ao ex hashtags que incluem
"#NuncaPassaANoite e #SóParaAmizade. A nota dele foi 6,9, de um máximo
possível de 10, o que Amin admite ser "mais baixo do que ele merecia na
realidade".
Fonte: Deborah
Schoeneman DO "NEW YORK TIMES" (22/11/2013)
Denisson
Maicossuel. Ele tem orgulho do nome. Gosta de dizer que é metade do sucesso. A
inspiração saxônica deve à mãe. Ela queria o filho artista e com um nome
desses, nem precisaria mudá-lo. Poderia ser jogador, o que dá na mesma. Longe
do brucutu de outros tempos, jogadores hoje são um primor de metrossexualidade.
Entre brasileiros, parecem reproduzir um estereótipo de Neymar ao sujeito do
time de várzea que fica feliz quando sai da terceirona e ascende para a segundona.
Brinco imitando diamante, boné ostentando uma marca importante qualquer e uns
fones de ouvidos gigantescos que dão um trabalho infernal mantê-los pendurados
no pescoço. Nem importa se é xingling.
Nosso herói
não é jogador e tampouco artista. Digo assim, de ganhar dinheiro com tais
profissões. Joga nos finais de semana com a galera do bairro e canta karaokê
num bar da periferia, em que nas noites quentes se ouve arrocha e outros que
tais até romper os tímpanos. Nem falo da paciência. É claro que Denisson
Maicossuel tem conta no facebook, smartphone de três chips, cujo pagamento
acabará no início de 2015. Pós-pago, por suposto, mas naqueles planos
mirabolantes que ele pode falar com metade da população terrestre por cinquenta
centavos de forma infinita. Nunca entenderei tal coisa.
Maicossuel
entrega água e gás. Nem chega a motoboy, mas posa de Harley. Com o nome e a
pose é o rei das meninas de seu bairro e arredores. A vida ia muito bem até que
apareceu um perfil seu num tal de Lulu. A foto não ajudava. Não era seu melhor
lado. Foi tirada de forma furtiva. O esgar da boca era horrendo. A nota abaixo
da foto, soube depois, avaliava sua performance como amante, namorado e outros
etcéteras e não passou em nenhum deles.
O programa lhe
sapecava os piores hashtags,
que são umas porcarias de expressões que começam com o jogo da velha e
esculhambam a fama de qualquer um: #OlhaParaTodas; #AcessosDeMauHumor; #MetidoaBesta;
NemPraAmizade; #BateFofo. Quem teria feito aquilo? Não havia autora. Em sua
mente, uma dezena de rostos desfilaram. Concluiu que todas poderiam ter alguma
razão, mas havia umas vinte avaliações. Quer dizer, até quem ele não pegou
azedou nas notas, o que justificava os foras seguidos e inexplicáveis. Denisson
Maicossuel ficou deprê e quase não saía mais de casa. Decidiu investigar aquela
terrível destruição de honras masculinas. Sim, havia outros colegas em situação
idêntica. Dias e dias de busca e reclusão operaram uma espécie de renascimento
nele.
Depois
do sumiço meditabundo, Denisson Maicossuel aparece com ar superior como se uma
cirurgia cerebral tivesse acontecido ou uma pancada na cabeça. Era outro homem.
Seu discurso arrebanhava hordas de homens destruídos. O Lulu é um instrumento
de dominação feminista. Digo mais. Domesticação masculina. Sua criadora, a
diabólica Chong, declarou que pretende fazer com os homens o que mais de século
de feminismo não conseguiu. Eis tudo sobre este app dos infernos. Acossados, doravante
os homens serão todo melindres em sua natural maneira macha de ser. Um espirro
fora do lugar e aí vem hashtags, notas depreciativas para colocá-lo no lugar,
enquadrá-los como se bichos fossem. Imaginem que homens pelo mundo todo, a
estas alturas, sentam, dão a patinha, rolam e pegam coisinhas para suas donas.
Horror dos horrores, alguns até contam vantagem nesta condição de cãezinhos
amestrados.
Mas elas não perdem por esperar. As mentes masculinas mais ardilosas
estão trabalhando no troco desta ofensiva. Antes do final do ano, a libertação
se manifestará sobranceira sobre os homens. O Bugu também avaliará as mulheres.
Há muito o que dizer sobre as mãezonas, as dominadoras, as chantagistas
emocionais, a lista é maior que a música “mulheres” do Martinho da Vila. Elas
que aguardem. Querem avaliar anônimas. Deixa estar o que nossos camaradinhas do
anonymous vão fazer.
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