As Universidades de Granada e Jaén (ambas no sul da Espanha) estão convocando mulheres feias para um projeto experimental científico. O objetivo é testar um tratamento psicológico que cure os transtornos provocados pela obsessão com o ideal de beleza inalcançável. Pesquisadores atenderão mulheres de 19 a 30 anos de idade.
Fonte: De Madri para a BBC Brasil
A questão fundamental é que não podemos dizer, assim, abertamente: tratamento psicológico grátis para mulheres feias. Claro que não, acudiu uma bela psicóloga, até porque a beleza também, às vezes, é um peso de se carregar. Um colega cochichou ao pé do ouvido de outro. Pior ainda depois dos 400 ml de próteses mamárias. E riram tanto, que o coordenador do projeto precisou intervir. Queria saber o que seria tão engraçado. Os dois desconversaram, enquanto eram fuzilados com o olhar da bela psicóloga.
Continuando, pessoal. Uma coisa está fora de questão: a palavra feia. Nestes tempos do politicamente correto, é palavra maldita. Pensando bem, disse uma das participantes, já que você falou em politicamente correto, devíamos pensar num nome para o projeto que atendesse esta norma moderna de convívio social. Que tal: Psicoterapia para mulheres fora dos padrões de beleza anoréxicos pós-modernos? Pedante demais, disse um. Pedante nada. Sim, mas quem vai entender isso? Reafirmou o discordante.
Está difícil, colegas. O objeto de estudo não são as feias, mas aquelas que se sentem assim. Então deixemos que elas digam se são feias ou não. Sim, mas como vamos passar a mensagem básica do projeto de pesquisa, que é oferecer este serviço às feias? Eu acho que não precisamos dizer nada, basta ver o público alvo. Deixem-me ler aqui pra relembrar vocês: bulímicas, obesas, anoréxicas, mulheres viciadas em plásticas. Claro que nem todas que apresentam estes transtornos são necessariamente feias, mas quem está no estágio que queremos estudar... Basta lembrar a Donatela Versace, lembrou alguém. Iiiih, parece a noiva cadáver. A risada foi geral e de novo o coordenador teve que pedir mais compostura.
O problema é que estamos na Europa, a gente é descolado para um monte de coisas, mas este patrulhamento do politicamente correto está acabando com nossa espontaneidade. É, somos espontâneos, basta perguntar a um nórdico ou a um inglês. Colegas, piadas xenófobas? Olha aí, não tô dizendo. Não se pode dizer nada.
Sim, mas voltando ao assunto da vaca fria... Vaca não pega bem, né? Relaxa, é só um ditado. Sim, voltando ao assunto das feias. Como fazê-las se inscrever voluntariamente num projeto que declara, de cara, que se pretende fazer terapia com mulheres com a estética prejudicada? Olha aí, é quase um título para o projeto, mencionou alguém. Simples, reclamou a bonitona um tanto enfadada daquela discussão sem pé nem cabeça: Feio é quem se considera. É uma percepção em função de uma realidade social, cultural... E daí? Daí que quem vier é porque se considera feia, logo é a própria quem dirá isso, não nós. Faz sentido, reafirmou uma.
Faz sentido nada, atalhou um que não havia se manifestado. Continua sem solução a divulgação do projeto. Para alguém aceitar a proposta, deve saber que a terapia se destina a ela, que é feia. Fosse em São Luís , isso não seria assim. São Luís???? É um lugar que conheci aí. Lá, Dona Casimira fundou o bloco de carnaval das “feias como quê”, sendo ela mesma um estrupício e ainda se divertem. E olha que tinha fila de feia para ser madrinha do bloco.
É, mas não estamos em São Luís... onde é que fica mesmo este lugar? Uma biboca no Nordeste brasileiro. Mas é um lugar legal. Que seja. Não estamos lá, portanto sugiro que achemos um título para a divulgação já. Mulheres com obsessão por beleza, o ideal sílfidico em questão. O que é isso, tá louco? Ou então isso: A beleza escondida das feias (as que são e as que se acham), quem quer, acha. Que primor! Não agride, é discreto. Preparem-se, vai ter feia na nossa porta que vamos precisar de uma tropa de psicólogos.