domingo, 16 de junho de 2013

Produto sem direito a troca, mas é limpinho

"Sem vergonha de usar camisinha". Este é o tema da campanha pelo Dia Internacional das Prostitutas, lançada no último final de semana nas redes sociais pelo Ministério da Saúde. A mobilização foi feita pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. O Dia das Prostitutas foi comemorado no último dia 2 de junho.

Fonte: GazetaOnline (04/06/2013)

Sei que em tempos de vigilância descarada da vida alheia, câmeras bisbilhoteiras a torto e à direita, é um luxo pedir privacidade. Esta coisa esquisita que as pessoas costumavam ter por pudor, por respeito e por recato, mas que agora se expõe o traseiro à luz do dia, a vida íntima nos facebooks e congêneres por um tipo de compulsão narcisista de protagonizar, nem que seja as suas próprias vergonhas. Era assim que se chamavam as partes pudendas antigamente.
Ter um governo que deseja se intrometer em todos os aspectos da vida da sociedade é uma desgraça, mas resulta um pouco da mistura desta auto-exposição – é facilíssimo postar uma foto desabonadora de si mesmo – e da tara petista por dar conta de tudo, especialmente o que não se pede. De repente, deparamo-nos com cartazes vendendo a ideia de que ser prostituta é bom. Assim diz uma sorridente “senhora”. Outra, mal ajambrada de dar dó, patrocina a seguinte frase: “Não aceitar as pessoas da forma que elas são é uma violência”. Como assim???
Mas o Brasil é este tipo de país minhoca, não tem pé nem cabeça. Digam-me, senhoras e senhores, no que contribui para a diminuição das mazelas nacionais propagandear que a prostituição é algo digno? O autor da peça publicitária disse que só queria comemorar o dia da prostituta (02/06), também queria reforçar o uso da camisinha (??), prevenção de dst’s e hepatites virais (!!). Que seja. Não havia umas prostitutas melhorzinhas não?
Houve um momento que o país se vendia – queria atrair turistas – e só mostrava bunda de mulheres lindas, quais sereias disponíveis nas praias cariocas. Não sei o que se queria dizer, mas certamente não tinha nada a ver com as belezas naturais do país tropical abençoado por Deus. Seria, talvez, resquício da fantasia do Caminha, embasbacado com as índias, depois de meses embarcado nas caravelas? De qualquer modo, as bundas foram proibidas. Parecia que o país era um grande prostíbulo, mas com cara meio familiar.
Ocorre-me que, estando o país para receber milhares de turistas, talvez um efeito colateral positivo seja dizer que nossas prostitutas são feias, mas limpinhas. Ou que, apesar de sambadas, ainda dão conta do recado e o fazem com alegria quase carnavalesca. Isso me faz lembrar que um inglês ligou pra polícia reclamando da mulher dama – deu na BBC – que se descreveu como algo entre a Gisele Bündchen e a Luana Piovani (nos bons tempos). No estacionamento, o sujeito encontrou uma Dona Bela com aquele libidinoso olhar de peixe morto.
O homem pediu ajuda ao Procon lá deles que, como o nosso, dá direito ao cliente devolver o produto ou ser ressarcido quando houver, por exemplo, como foi o caso, propaganda enganosa. Mas como devolver o trambolho e para quem? A polícia deu-lhe uma carraspana, posto que uma mulher não era, exatamente, uma coisa, embora ela alugasse aquela parte para diversão (paga) de qualquer um que precisasse, sem o envolvimento requerido em relações outras. Mas a tal parte era (é), naturalmente, impossível de ser devolvida sozinha. A mulher iria junto, logo, restava ao homem ser um pouco menos fantasioso com o que criou na sua própria cabeça, considerando o que pagou.
Aparentemente, faltou ao freguês inglês, ter aumentado a dose de tequila. Como se sabe, para um bêbado não existe mulher feia. Restou-lhe contentar-se com o mau negócio. Por aqui, os cartazes foram terminantemente proibidos. Um baita prejuízo à boa informação do produto nacional ao desavisado turista. Mas pelo menos, a julgar pela idade provável das “modelos” dos cartazes, ganhariam com a experiência.