Peguei o filme
pela metade, mas como o assisti assim que estreou, não havia problema, estava
situado na história. Mas uma segunda vista em Interestelar me cutucou ideias
novas.
Uma das coisas
mais instigantes para mim é a questão do tempo que o filme trabalha à luz dos
limites de nosso conhecimento da física. Outros temas como velocidade da luz, a
singularidade produzida pelos buracos negros, buracos de minhoca, outros
universos passeiam pelo filme. O enredo conta a aventura de um grupo enviado
numa missão para investigar a possibilidade de achar um planeta viável para
nós, pois a Terra está morrendo.
A Terra se
esfarela numa multiplicidade de fenômenos meteorológicos extremos. Está exaurida.
A nave é enviada às cercanias de Saturno numa viagem sem volta – mas eles não sabem
– para visitar e entrar num “buraco de minhoca” que, supostamente, foi plantado
ali por seres alienígenas que se penalizaram de nossa condição agonizante no
planeta azul.
Em sua busca,
avaliam um planeta, entre os doze que eles tinham como opção, que está à beira
de um monstruoso buraco negro. Essa proximidade, num planeta onde não há um
único torrão de terra seca, causa um tipo de distorção temporal que a cada hora
ali, equivale a sete anos para o companheiro que ficou na nave mãe.
Algo,
porém, salta aos olhos e sei lá se essa foi a intenção do diretor/roteirista. Cooper (Matthew McConaughey) é um Moisés
que se lança num caminho sem volta em busca da terra prometida. Com a diferença
que deixa os filhos para trás. Muitas reviravoltas temporais e aquilo que se
imaginava ser a ação solidária de seres alienígenas evoluídos, somos nós mesmos
que no futuro criamos a saída. Se pensarmos um pouco, a coisa é circular e
ficará acontecendo eternidade afora.
O filme
engrandece o gênio humano. Seria bom se assim fosse. Fronteiras fechadas,
pessoas morrendo afogadas às centenas numa viagem sem volta em busca de uma
terra. Farinha pouca, meu pirão primeiro. Mas sofrêssemos nós no Brasil uma
invasão desse tipo, seríamos solidários? Se bem que nem os sírios, com uma
pequena exceção, querem vir pra cá.
Um ligeiro olhar ao redor e
trombamos com toda sorte de ameaça que por nada pode nos levar à extinção. Ver
pessoas se explodindo em nome da religião – fosse uma autoimolação sem levar
ninguém junto, vá lá –, por valores nacionais e territoriais, pela ideologia
que se tornou um deus. Assim, tudo o mais é relativizado, inclusive nossa
própria sobrevivência como espécie. Somos primitivos.