A União
Internacional de Telecomunicações (UIT) adiou ontem até 2015 a decisão sobre se
mantém ou elimina o segundo bissexto (ou adicional), que é acrescentado a cada
determinado número de anos para manter a hora mundial sincronizada com a rotação
da Terra.
Fonte: Folha de S. Paulo Ciência (20/01/2012)
Meu contraparente Astrovaldo está
encucado com uma questão realmente espantosa e escalafobética – que palavra
linda! A União Internacional de Telecomunicações (UIT) está às voltas com uma
decisão difícil e com consequências não perceptíveis para um só vivente no
planeta – falo de nós, os comuns. Propôs aos membros da entidade estudar se aumenta
ou diminui em um segundo o relógio mundial para ajustar o descompasso com a
rotação da terra e os relógios dos satélites, etc e tal.
Astrovaldo me perguntou qual era
a importância de aumentar ou diminuir o tal segundo bissexto. Se bem entendi,
não era para diminuir, mas para aumentar o tempo, expliquei-lhe. É claro que
ele, esperto e curioso como é, iria fazer a pergunta seguinte e que você aí já
está com a mente em comichão. Como é que se aumenta o tempo? Arre, com pergunta
mais besta! E eu que sei! Aqui para nós, ele me acha o sabetudo e eu não
poderia decepcioná-lo, assim que inventei uma resposta.
Ora, meu caro contraparente, é
simples. Na verdade, ganhava tempo com Astrovaldo que olhava com atenção tal
que nem piscava. A cabeça estava em fuzuê. Como diabos eu arrumaria uma
história para explicar? Começa que não sei nada de física, nem astrofísica, nem
quântica, nem mecânica, nem... deixa pra lá.
Pois muito bem, perceba como é
que esta gente gosta de detalhes e de exatidão. Exatidão, meu caro, é tudo. Nada
de mais ou menos. Astrovaldo continuava com aquele olhar, agora pendendo para
desconfiado, percebendo que o enrolava. Prossegui. A terra está solta no
espaço, rodando. Roda ao redor de si mesma, o que faz a gente contar os dias.
Roda ao redor do sol, o que faz a gente contar o ano. E, como se tivesse tomando
uma birita ou porque está cansada de rodar, ao longo do ano ora entorta para um
lado, ora para outro e aí vamos tendo as estações. Estás entendendo, Astro? Ele
piscou. Estava entendendo.
Adiante. Estou indo por partes
para você não perder nada, ouviu? Ele piscou de novo. Nós estamos em cima da
terra, portanto na mesma velocidade dela que roda por aí no espaço. Acontece
que com tanto confusão de roda pra cá, roda pra lá, uma hora ela acelera mais
do que percebemos. Sei lá, é muita curva, uma hora derrapa. Mas é coisa pouca,
titica de nada. Um segundo. Aí temos que adiantar os relógios todos. Você pode
achar pouco, mas imagine um segundinho hoje, outro amanhã, quero dizer, ano que
vem, quando a gente se espantar vamos ter que fazer horário de verão no mundo
todo, já imaginou que trabalheira?!
E quem se importa com um segundo?
Disse ele, enfatuado com aquela explicação que não acabava mais. Eu não. Aqui
no nosso país a gente é atrasado mesmo em tudo. Quer um exemplo? A gente marca
uma churrasco. Alguém pergunta. A que horas começa? Ah, lá pelas 12-13 horas,
responde o anfitrião. Nessa hora o sujeito está comprando o carvão. Que horas
termina? Lá pelas 15-16, por aí. Ou então responde com outra medida de tempo.
Enquanto tiver carne... Ou... Enquanto a cerveja não acabar... Quer dizer, o
que é um segundo pra nós?
Até enterro a gente faz com
folga para os atrasados. Missa, culto, festa. Tudo quanto é evento já vem com o
desconto de meia hora, no mínimo. O povo já está acostumado: para quê a pressa,
fulano, diz um. Marcaram 7 horas, isso não começa antes de 7:45. Sabe de uma
coisa? Deviam dar a presidência dessa união das telecomunicações para um
brasileiro dirigir. Aqui o pessoal é bambambam neste negócio de tempo. Mas já
vi que isto é coisa de gringo que gosta de tudo ali, tintim por tintim, tudo à
risca. Eu hein?!