Em um de seus
últimos textos (publicado em português em 27/01/2016. Eco morreu em 19 de
fevereiro/16) o escritor Humberto Eco questionava uma decisão das escolas
italianas de proibir crianças cristãs de construírem o clássico presépio ou
adornar a escola com motivos natalinos. A alegação é que fazê-lo feriria as
suscetibilidades religiosas de grupos não cristãos.
Eco era ateu e
filho de ateu, mas de cultura ocidental cristã, e deplorava a decisão sugerindo
que em vez da proibição, todas as crianças poderiam, em suas festas religiosas,
realizarem eventos para que os outros entrassem em contato com seu mundo
étnico-cultural. Segundo ele, se estaria estimulando a tolerância, a troca de
conhecimento. Perfeito.
É fato que
especialmente os países ocidentais estão cada vez mais plurais em sua
composição étnica, o que equivale dizer, cultural também. Mas será esta a
solução adequada? Pasteurizar comportamentos? Silenciar manifestações cultural-religiosas?
Negar valores ancestrais sendo esses parte da identidade de um grupo? Não me
refiro, por evidente, a coisas danosas à saúde, que macule a dignidade das
pessoas.
Uma onda nos
EUA já há alguns anos mudou inclusive a expressão Merry Christmas para Happy
Holidays. As grandes redes de lojas americanas aboliram a expressão que remete
ao Natal cristão e o transformaram, literalmente, num Natal pagão. E não falo
do desembesto das compras ou adereços outros com que o Natal foi conspurcado. A
razão também é a mesma das escolas italianas: medo de parecerem discriminatórios.
A coisa toda é chocante sob qualquer ponto de vista que se olhe.
Então qualquer
um, com qualquer religião, por ridícula e absurda que pareça, deve ser
respeitado em sua fé e os cristãos não podem, sabe-se lá porque razão, expressar
seus costumes para não oprimirem – de que maneira? – estes “diferentes”? Uma
pergunta simples: em que lugar do mundo não democrático – regime associado às
culturas de influência cristã – as pessoas de qualquer religião podem
praticá-la sem opressão e perseguição? Em que país ocidental atualmente uma
minoria religiosa, apenas por expressar sua fé, foi ou é impedida de fazê-lo?
Os débeis,
dentro de nossa própria cultura, ancorados na imbecilidade do politicamente
correto, impõem o desconforto e o constrangimento aos cristãos em seus próprios
países, impondo-lhes uma agenda frouxa e patética. Grande parte do mundo
intelectual, que facilmente tem acesso às mídias, abraçou esta ideia como se
não tivesse feito qualquer julgamento de sua impostura filosófica. Enquanto as
minorias têm todos os direitos e devem ser protegidas, mais até que um animal
em risco de extinção, os demais devem se reprimir ao expressar seu pensar ou
sua crença, pois sua simples manifestação agride aos que não são daquela fé. O
que significa mesmo a palavra tolerância, tão em moda nestes círculos?
Ao longo dos
séculos se matou por causa da religião. Fato. Por milênios pessoas foram
discriminadas e perseguidas por causa de sua fé. Verdade. Os judeus que o
digam. Então a solução para este flagelo que, infelizmente, ainda está
vivíssimo em nossos dias, é a discriminação da maioria? A criação de fátuas ou
regras tabus, estabelecer novos índex comportamentais e de pensamento? Proteger
a minoria implica em proibição ostensiva da manifestação da religião
hegemônica, mesmo nominal?
Em que país
islâmico estes valores são pregados e defendidos? Quando países mulçumanos
deixarão de criminalizar a posse de uma Bíblia em casa? Por que nos agachamos
covardemente para, diria Fernando Pessoa em seu Poema em linha Reta: “Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me
tenho agachado para fora da possibilidade do soco.”? Ele não se defendia com a
arte de um lutador de UFC, ele diz que metia o rabo entre as pernas.
Líderes ocidentais, ante sua impotência ou
incompetência para enfrentar os terroristas inspirados pelo Corão, estão sempre
dizendo que nem todos os islamitas são terroristas. Por que eles têm que fazer
essa ressalva o tempo inteiro? Que eles se defendam. Que os muçulmanos pensem,
escrevam e ajam para mostrar que a maioria, como dizem, nada tem que ver como
os loucos, tarados, marginais, fanáticos que dizem se apoiar em seu livro
sagrado. O ônus é deles, se é que há um.
A bem da verdade, tímida corrente na
internete tem tentado fazê-lo ao dizer que o estado islâmico não os representa.
Diga-se, esse movimento, tímido e capenga, só é possível no mundo ocidental
onde vivem e foram acolhidos milhões de islamitas. Equivale dizer, no mundo
cristão.
É hora de dizer as coisas como são. Em sua
crua natureza. Não cabem subterfúgios, sinônimos adocicados ou a perversão
mesmo do sentido das coisas apenas para que pareçam palatáveis às
sensibilidades pusilânimes. Não será necessário gritar ou xingar ninguém,
apenas dizer a realidade tal como é. Ninguém precisa ser melindrado. A verdade
liberta.