terça-feira, 29 de março de 2016

Por um mundo sem disfarce

Em um de seus últimos textos (publicado em português em 27/01/2016. Eco morreu em 19 de fevereiro/16) o escritor Humberto Eco questionava uma decisão das escolas italianas de proibir crianças cristãs de construírem o clássico presépio ou adornar a escola com motivos natalinos. A alegação é que fazê-lo feriria as suscetibilidades religiosas de grupos não cristãos.
Eco era ateu e filho de ateu, mas de cultura ocidental cristã, e deplorava a decisão sugerindo que em vez da proibição, todas as crianças poderiam, em suas festas religiosas, realizarem eventos para que os outros entrassem em contato com seu mundo étnico-cultural. Segundo ele, se estaria estimulando a tolerância, a troca de conhecimento. Perfeito.
É fato que especialmente os países ocidentais estão cada vez mais plurais em sua composição étnica, o que equivale dizer, cultural também. Mas será esta a solução adequada? Pasteurizar comportamentos? Silenciar manifestações cultural-religiosas? Negar valores ancestrais sendo esses parte da identidade de um grupo? Não me refiro, por evidente, a coisas danosas à saúde, que macule a dignidade das pessoas.
Uma onda nos EUA já há alguns anos mudou inclusive a expressão Merry Christmas para Happy Holidays. As grandes redes de lojas americanas aboliram a expressão que remete ao Natal cristão e o transformaram, literalmente, num Natal pagão. E não falo do desembesto das compras ou adereços outros com que o Natal foi conspurcado. A razão também é a mesma das escolas italianas: medo de parecerem discriminatórios. A coisa toda é chocante sob qualquer ponto de vista que se olhe.
Então qualquer um, com qualquer religião, por ridícula e absurda que pareça, deve ser respeitado em sua fé e os cristãos não podem, sabe-se lá porque razão, expressar seus costumes para não oprimirem – de que maneira? – estes “diferentes”? Uma pergunta simples: em que lugar do mundo não democrático – regime associado às culturas de influência cristã – as pessoas de qualquer religião podem praticá-la sem opressão e perseguição? Em que país ocidental atualmente uma minoria religiosa, apenas por expressar sua fé, foi ou é impedida de fazê-lo?
Os débeis, dentro de nossa própria cultura, ancorados na imbecilidade do politicamente correto, impõem o desconforto e o constrangimento aos cristãos em seus próprios países, impondo-lhes uma agenda frouxa e patética. Grande parte do mundo intelectual, que facilmente tem acesso às mídias, abraçou esta ideia como se não tivesse feito qualquer julgamento de sua impostura filosófica. Enquanto as minorias têm todos os direitos e devem ser protegidas, mais até que um animal em risco de extinção, os demais devem se reprimir ao expressar seu pensar ou sua crença, pois sua simples manifestação agride aos que não são daquela fé. O que significa mesmo a palavra tolerância, tão em moda nestes círculos?
Ao longo dos séculos se matou por causa da religião. Fato. Por milênios pessoas foram discriminadas e perseguidas por causa de sua fé. Verdade. Os judeus que o digam. Então a solução para este flagelo que, infelizmente, ainda está vivíssimo em nossos dias, é a discriminação da maioria? A criação de fátuas ou regras tabus, estabelecer novos índex comportamentais e de pensamento? Proteger a minoria implica em proibição ostensiva da manifestação da religião hegemônica, mesmo nominal?
Em que país islâmico estes valores são pregados e defendidos? Quando países mulçumanos deixarão de criminalizar a posse de uma Bíblia em casa? Por que nos agachamos covardemente para, diria Fernando Pessoa em seu Poema em linha Reta: “Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado para fora da possibilidade do soco.”? Ele não se defendia com a arte de um lutador de UFC, ele diz que metia o rabo entre as pernas.
Líderes ocidentais, ante sua impotência ou incompetência para enfrentar os terroristas inspirados pelo Corão, estão sempre dizendo que nem todos os islamitas são terroristas. Por que eles têm que fazer essa ressalva o tempo inteiro? Que eles se defendam. Que os muçulmanos pensem, escrevam e ajam para mostrar que a maioria, como dizem, nada tem que ver como os loucos, tarados, marginais, fanáticos que dizem se apoiar em seu livro sagrado. O ônus é deles, se é que há um.
A bem da verdade, tímida corrente na internete tem tentado fazê-lo ao dizer que o estado islâmico não os representa. Diga-se, esse movimento, tímido e capenga, só é possível no mundo ocidental onde vivem e foram acolhidos milhões de islamitas. Equivale dizer, no mundo cristão.
É hora de dizer as coisas como são. Em sua crua natureza. Não cabem subterfúgios, sinônimos adocicados ou a perversão mesmo do sentido das coisas apenas para que pareçam palatáveis às sensibilidades pusilânimes. Não será necessário gritar ou xingar ninguém, apenas dizer a realidade tal como é. Ninguém precisa ser melindrado. A verdade liberta.

PS. Olha que curioso, ao escrever o verbo xingar, imediatamente o corretor do word marcou o termo. Embora soubesse que não cometera um erro ortográfico fui ver o porquê da marcação e me deparo com a sugestão para substituir minha palavra por: falar mal. O word ficou abespinhado como meu linguajar bruto, ora vejam!