Em uma festa no clube China Chalet, em Nova York, duas pessoas se destacavam. Entre os reunidos para assistir à apresentação do grupo Salem estavam dois indivíduos que, à primeira vista, não tinham sobrancelhas. David Toro, 29, fotógrafo e funcionário de galeria de arte, tinha descolorido suas sobrancelhas até torná-las invisíveis. "As pessoas me encaram muito", disse Toro, cujo rosto mudou tanto sem as sobrancelhas visíveis que seus amigos não o reconheceram de imediato. "Mas é bacana. Em vez de [mostrar] rejeição, as pessoas ficam perplexas."
Fonte: Folha - The New York Times
O impacto de olhar para o rosto dele era instantâneo. Faltava algo, mas o quê? A sensação do algo faltante era incômoda, como um rosto sem nariz. Mas o nariz estava lá, por óbvio. Minutos angustiantes se passavam sem que um conseguisse tirar os olhos do seu rosto e o desconforto só aumentava porque o olhador sabia que, a certa altura, tinha uma atitude nitidamente indiscreta. Ele se divertia com a angústia e a sem-gracice do interlocutor até o desfecho fatal, a descoberta, ele não tinha sobrancelhas.
Patrick Maddog nasceu José Ribamar da Silva, mas bicho de correição que era, varou mundo e voltava à terra para instalar um misto de salão de cabeleireiro e estúdio de tattoo. Claro que odiava o nome registrado no passaporte. Documento que ele fazia questão de usar mais que o RG com aquela foto de comedor de sarnambi que ele detestava. Já o passaporte dizia do mundo que andou e do qual agora se dizia parte.
O empreendimento de Maddog atraiu a atenção pelo inusitado e pra ele acorreram bicho de escama, de couro, quadrúpedes e bípedes de toda plumagem. A imprensa estava em peso e agora que todos já sabiam sua peculiaridade facial, era explicar que aquilo era moda, inventada por ele, por suposto.
Olha people - esqueci de dizer que além da ter a língua enrolada, ele enfiava montes de palavras em inglês na fala, singularidade de artista. Voltemos. Olha people - eu sou Body Stilyst! - esta novo look de retirar a eyebrow, esqueci como se diz. Alguém acudiu: sobrancelha! Yes. Eu inventei. Num rasgo de sinceridade. Está certo que foi um acidente, mas a menina gostou tanto que na hora, percebi que aquilo era um must. Existem algumas revistinhas como a Vogue que atribuem my creation a outro Zinho por aí, mas é - read my lips: m-e-n-t-i-r-a. Hoje é o que há de mais in na moda. Voltou-se para a câmera: Girls, nada mais de sofrimento, arrancar os hair com pinça está out, além de ser very filthy, ok?
Mad! Ele virou-se com uma expressão irada, mais pela falta da sobrancelha para exprimir a emoção. A princípio não se sabia do que se tratava. My dear, para você eu sou Patrick Maddog, - eu sou Body Stilyst, ok? - é assim que se fala, aqui não tem nada de mad, você nem é meu íntimo. Desculpe. Que mais você vai oferecer na loja? Loja? My dear, você tem que aprender a perguntar corretamente. Aqui é um Hair shop AND Tattoo Studio, ok? Com ar de enfado. Mas vamos a sua question. Vou tentar falar em sua língua, ok? My clients terão os melhores looks da moda, mas my speciality é o different. Eu sou Body Stilyst, ok?
Explique melhor, Mr. Maddog. Nós wax, pluck, shave (depilamos) qualquer coisa (Risos). But... o que é mais incredible é que desenhamos membros faltantes, pintamos olhos em cegos - o cliente escolhe a cor -, acrescentamos cicatrizes, descolorimos batons em cuecas. Raleamos cabelos, para o caso de alguém querer parecer mais velho e enganar a Previdência, a entrada num lugar para menores de idade. Isto é o must para gente jovem!
Pat! Gostei, parecemos tão próximos, não é sweet love? Yes, go ahead. O repórter, constrangido. Porque você veio para o Brasil? People, pensei que não iam perguntar, sim, porque eu estava muito bem lá fora. Eu sou Body Stilyst. Well, está acontecendo uma revolução no Brasil e com minha técnica vou faturar horrores. A remontagem de rosto. Calm down, people. Explico. Vocês sabem que os políticos estão de mal a pior. Fazer plástica é manjado, coisa fuleira, não é assim que se diz? Mas pequenas alterações na face mudam uma cara do maior trambiqueiro para um ar sério e decente. Depois disso nem precisa jurar uma mentira nem dizer que não sabe de nada. Collor, quando estava em Miami, foi meu cliente. By the way, foi ele quem deu a dica para eu vir para cá. Quando abrir a loja em DF, seremos sócios.
Você pode nos dizer outros clientes. The curiosity kill mouse, my dear. Sussurando. Só posso dizer que o Renan marcou horário amanhã. Next week tenho Lula - ai, aquela barba e a mão sem dedinho! - e talvez o S... Não deu pra entender este último por causa da algazarra.