Criador da teoria do biocentrismo, o renomado cientista Robert Lanza
surpreendeu ao propor que a morte não existe. De acordo com seu biocentrismo,
todos os conhecimentos que a humanidade adquiriu formam uma “nova teoria do
Universo”. Nessa perspectiva, ele encara que a morte é uma ilusão, pois a vida
cria o universo e não o contrário.
Fonte: Yahoo! Brasil (16/03/2015)
Fonte: Yahoo! Brasil (16/03/2015)
Augusto dos
Anjos, vivo estivesse – fez cem anos de sua morte – teria tido um colapso.
Então, onde já se viu – ele que se dizia filho do carbono e do amoníaco,
portanto morrível – dizer que a morte não existe? Logo ele, um homem que cultivou
a morte em forma de poesia teria, enfadado com tal disparate, tomado a mesma
mão que afaga e apedrejado mister Lanza que, do alto de sua sapiência quântica,
teria experimentado não um beijo, mas o escarro propriamente dito.
Depois, ainda
arredio com a sandice científica, convidaria o operário das ruínas, o verme,
comilão do sangue podre das carnificinas, para espreitar os olhos de mister
Lanza para roê-los e reduzi-lo a cabelos na frialdade inorgânica da terra.
Menos não mereceria o insolente científico. E se isso não fosse suficiente,
teria chamado o mesmo urubu para também pousar em sua sorte. Pronto, estaria
vingado.
Mas sigamos
com o cortejo. Mister Lanza criou uma teoria científica (biocentrismo), esta
ainda sob o olhar severo de desconfiança de seus pares, mas, por outro lado,
abraçada com entusiasmo por alguns, que afirma que a morte, como destino sem
volta, esquecimento ou a reles e banal volta ao pó como diz o texto sagrado,
definitivamente não existe. Explica nosso sábio, no que me deixa embasbacado,
que a mente que cria tudo, nunca morre. Logo, portanto, a morte é uma ilusão.
Bem verdade
que não chega a negar nosso esfarelamento nos tijolinhos básicos que nos
constituíram. Menos mal, mas o indivíduo continuaria vivendo, não fosse aqui,
qual penada alma, num mundo paralelo que ele teima em negar que seja o céu,
menos ainda o inferno. Vejo pelo menos uma utilidade prática na teoria.
Drummond saberia responder na hora, pois, como qualquer pessoa normal,
desconfiava da morte e a temia: “cantaremos o medo da morte e o medo de depois
da morte. / Depois morreremos de medo / e sobre nossos túmulos nascerão flores
amarelas e medrosas”
Pois ninguém
mais precisaria temer aquilo que, como diz mister Lanza, não está lá. Sim,
morre-se e o Gavião, feio de doer, não nos deixa esquecer, nem quando dançam à
sua porta – decorada com a caveira e dois ossos como se fosse um navio pirata
encalhado – em plena festa de Momo, esquecidos do destino inexorável que lhes
aguarda.
Descubro, se
levo de eito essa teoria que mata a morte, que desperdiçamos muito chão enterrando
gente. Pior ainda, pois com os mortos gastamos lágrimas e flores sem
necessidade. E afinal, quem são esses que morreram antes de saber que o fizeram
num desaproveitamento enorme de vida? É o que dá não procurar saber das últimas
da ciência. Soubessem, tais quais Sísifo, teriam enganado o Hades, sem o medo
de serem pegos por um Zeus de maus bofes e condenados a voltar ao mundo dos
mortos. Isso é que não aconteceria, pois mister Lanza assegura, sob juramento,
que supostamente morrendo num lugar, vive-se noutro como se nada tivesse
acontecido, pois haverá em cada universo paralelo, um eu e um você, nossos
gêmeos a viver indiferentes a nós.
Quintana tinha uma ideia
que, se não negava a morte como o faz o biocentrismo, raspava a teoria, só que
dizia que a morte deveria ser assim: “um céu que pouco a pouco anoitecesse / e
a gente nem soubesse que era o fim...” A ignorância nos protegeria, no que
daria na mesma, a gente morria sem saber que estava morto, logo, estaríamos
vivíssimos, até que o um espírito de porco nos lembrasse que havíamos passado.