Um detento polonês ganhou o direito de ser ressarcido em 3 mil euros (cerca de R$ 6.750) por não ter garantido o direito de continuar a sua dieta vegetariana na prisão.
Janusz Jakóbski, que cumpre pena de oito anos na prisão de Nowogród por estupro, segue regras estritas de não ingerir carne por causa de sua religião budista mahayana.
Ele apelou para a Corte Europeia de Direitos Humanos depois que seus pedidos de pratos vegetarianos foram seguidamente recusados pela prisão.
Fonte: DA BBC BRASIL 10/12/2010 - 07h34
Trata-se de direitos humanos. O estado tem o direito de me prender e eu tenho o direito de ser alimentado conforme meu costume e crença. Aliás, é uma questão de saúde. Dizia ele com o tom alterado de voz. Estava indignado e prometia, caso não fosse aceita sua reivindicação, uma greve de fome. Quero ver se não me atendem, desafiava.
A coragem propriamente dita para levar a cabo seu desafio não tinha, mas do dia para noite tornou-se o centro das atenções. Chegou a dar entrevista a alguns jornais, mas o diretor da prisão, com quem travava sua guerra pessoal, percebendo que a coisa desandava e virava um verdadeiro circo, impediu novas entrevistas. Isso o deixou transtornado. Ele era, na prisão, um mártir, dizia, a versão wikileakeana do sistema prisional. Avacalharam seu direito e agora censuravam sua voz, esbravejava.
Seus companheiros inicialmente tomaram-no por excêntrico, consideravam-no louco. Mas a coisa ganhou proporções não previstas. Sua insistência o tornou uma espécie de herói entre os prisioneiros. Por outro lado, o diretor enciumado da notoriedade, justo de um preso metido a besta, como dizia, apertava o torniquete retirando regalias, como a diminuição do tempo de banho de sol. Pensava em colocar os ladravazes e outro bichos contra o impertinente vegetariano. Mas nada.
O interesse do público, contudo, aumentava. Informações eram contrabandeadas para fora do presídio dizendo o estado do homem que se levantou contra o sistema. Que sistema? Ninguém sabia, mas caía bem acreditar e falar assim. Logo os jornais aumentavam as parcas informações ou inventavam histórias sobre o mártir da causa vegetariana, da ecologia, da salvação do mundo, por que não?
Ele resistia a comer carne, menos na presença de quem poderia dedurá-lo, porque mais tentador do que dar informações sobre ele quando havia um raivoso censor a postos, era entregá-lo como um não tão fiel assim ao que ele mesmo chamava de princípios inamovíveis de vida. Assim que ele tomava todas medidas para que não o vissem agarrado a um bom osso cheio de tutano.
De todo modo, comendo mal e de maneira sôfrega, às escondidas, durante a noite, com um estômago mal acostumado àquele regime, emagreceu. Se reproduziam na tv e jornais pedacinhos de papel que continham informações sobre sua condição, mostraram até cansar uma foto feita de um celular contrabandeado para dentro da prisão por uma bela repórter que tentou furar o cerco. Sabe-se que passou por revista severa, portanto, há de ter achado um lugar para esconder o aparelho para a ousada ação.
Até Liu Xiaobo, o encarcerado ativista chinês e prêmio nobel da paz, perdeu lugar na mídia para ele, que também recebia informações de fora, mesmo por guardas que alimentavam secreta simpatia por sua causa. Imagine todo aquele gado, ovelhas e bodes peidando metano dia e noite. Eis a explicação do efeito estufa que vai nos afogar a todos com a subida do mar. Escrevia em tom profético em pedacinhos de papel que eram aguardados com imensa ansiedade do lado de fora. Não havia quem não se embasbacasse. Afinal, ele pagava com sua liberdade a causa mundial que abraçara.
Logo haviam incontáveis grupos de direitos humanos pedindo que fosse liberado seu cardápio vegetariano, até sua liberdade, embora tenha assaltado e matado um monte de gente. Isso porém, não foi a causa do desespero do diretor da prisão, o motim que ele liderava com sua fome, animou outros a pedirem também seu próprio cardápio. Aquilo virou um inferno, pois, diziam, se um quer comer só folha e tem direito, nós também temos direito ao que quisermos.
Por fim, já a ponto de ceder a qualquer coisa que fosse, o diretor viu-se diante de um tribunal que o condenou a servir apenas comida vegetariana ao prisioneiro e ainda multou o sistema prisional por extrapolar a condenação a que o preso fez jus por seus crimes. Sem contar que o dito cujo deveria receber uma indenização pelo sofrimento cruel a que foi submetido, à tortura de ter que comer carne, justamente contra aquilo que de nenhum homem deve ser aviltado, seus princípios.