sexta-feira, 6 de março de 2009

FRASES


Fernando Pessoa para pensar

 

Eu não sei por quê,

Meu desde onde venho,

Sou o ser que vê,

E vê tudo estranho.

 

Não sei, mas meu ser

Tornou-se-me estranho,

E eu sonho sem ver

Os sonhos que tenho. (05/08/1921)

 

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo

Parece que erro. Sinto que não sei.

Nada quero nem tenho nem recordo. (06/01/1923)

 

Não: não digas nada!
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já

É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.

És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê. (5,6/02/1931)


O ANDAIME

O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

(...)

Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.

(...)

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.


(...)

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

terça-feira, 3 de março de 2009

O estado da mentira



Ensino aos meus filhos a não mentir. Esforço-me quanto me é possível para não fazê-lo. Nossa sociedade é absurda sob este ponto de vista porque ela se sustenta sobre as colunas, como o titã Atlas, de muitas mentiras. Mas se sairmos na rua central da cidade e perguntarmos quem acha correto mentir, possivelmente menos de um por cento dos entrevistados concordaria com a prática. É quase esquizofrênica nossa rejeição pela mentira e nosso traquejo cotidiano.

Entre os cristãos, se o assunto é a mentira ou se comentamos o deslize de alguém, sacamos logo textos bíblicos que as condenam e acrescentamos um clássico: mentiroso é o diabo, que é o pai da mentira (Jo 8.44). Não poucos de nós se escondem atrás desta anteface.

Um psicólogo americano, Paul Eckman, estudioso do assunto, afirma que uma pessoa comum ouve, lê ou vê, pelo menos duzentas mentiras ao longo de um dia, quando não for período eleitoral, acrescenta ele. Se excluirmos as horas de sono, dá mais ou menos uma mentira a cada 5 min. Excluam-se também as que nós mesmos dizemos.

Com o perdão do trocadilho, há uma verdade, todos nós mentimos. O que não se confunde com o praticante compulsivo, o cínico que adota a mentira como forma de vida. Mentimos socialmente como forma de cultivar algum tipo de diplomacia e só raríssimos casos não exercitam estes maneirismos sociais. Mas destes se diz: é ignorante, mal humorado, grosseiro.

O que você achou fulano? Ah, está muito bom. Está bonito. Quando nossa opinião é exatamente o contrário. É assim que agimos. Atrasamo-nos e damos a desculpa: foi a chuva, o trânsito... Atende-se o telefone: Fulano não está. Ao lado, o fulano gesticula com o dedo em negativo e você lá: não, não está, saiu faz duas horas.

E por que não tascamos a verdade nua e crua? Porque não queremos melindrar o perguntante. Cremos que não seria educado. E dá um trabalhão explicar porque está feio, a obra é ruim, o escrito é fajuto, a roupa não cai bem porque a pessoa está acima do peso e não tem auto-crítica muito boa. E assim, nas mais diversificadas situações, mentimos.

Paul Eckman, que estuda os aspectos sociais da mentira há 30 anos, diz que os políticos e os atores são os mentirosos mais perfeitos. Dos primeiros, os brasileiros dariam aula a qualquer um no mundo. Os segundos, tanto mais perfeita sua mentira, quer dizer, sua encarnação de um personagem, melhor será o espetáculo. Sua “mentira” não causa dano, ao passo que os políticos com suas ações, destroem nações inteiras. O Maranhão que o diga com seus índices africanos de miséria.

No estudo do psicólogo nem a religião escapa. Não precisa ser versado em teologia para saber. A mentira corteja a religião ao longo de sua história. E está perto de nós, a um clique da tv. Visões, curas espetaculares, profecias, promessas de sucesso a partir de ritos, tramas políticas pelo poder...

Penso que a questão não é mentir, que é algo muito difícil de não fazer numa dada circunstância – também mentimos por constrangimento –, mas a sensibilidade que se pode desenvolver contra este ato. Que ninguém pense que aqui segue uma defesa da mentira. Para além da sensibilidade, a capacidade de, também numa dada situação, confessar. Consertar as conseqüências. É certo que muitas não terão resultados danosos a quem quer que seja. Não maculará a honra, nem destruirá a dignidade de ninguém, contra estas resta a vigilância para que não se tornem um hábito.

Talvez de todas a maior das mentiras é aquela do auto-engano, que tão bem cantou Renato Russo em “Quase sem querer”: Como um anjo caído / Fiz questão de esquecer / Que mentir pra si mesmo / É sempre a pior mentira. Neste caso, quem mente não tem condição de perceber mais os terrenos da verdade em seu ser e modo de vida, ambas se confundem, seja por puro delírio, seja por mau caratismo.

Quando Jesus diz: “Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno.” (Mt 5.37 – ARA). O contexto desta fala inclui o não jurar. Assunto que Tiago retoma de forma condensada em Tg 5.12. Analisemos. Nada que evoquemos, céu, terra, a alma da mãe, pode acrescentar um milímetro de veracidade àquilo que dizemos se o dito não se embasar na verdade. A verdade deve estar em quem fala e não fora dela. Aqui há um princípio psicológico importante envolvido, de integridade do ser, unidade psico-emocional. Há um princípio social. O sujeito falante tem valor por si, porque sua fala reproduz o fato como ele é, não o adultera, o que dá ao que fala e ao seu entorno a geração de um ciclo virtuoso, estabilidade, sustentabilidade.


O Maligno, o pai da mentira, relembra João, faz o que lhe é próprio, isto é, ele é uma farsa como ser, um ser deturpado de uma existência antes verdadeira, segundo as Escrituras, como anjo perfeito. Ora, se ele deixou esta condição, que era sua mais íntima identidade, ele é uma coisa fingida, enganadora. Assim acontece conosco. Nossa palavra deve ser o mais próximo da verdade que nos for possível porque antes do fato fala de nós mesmos. Nossa diferença para o maligno é que nascemos caídos e podemos caminhar para a perfeição por meio da fé em Jesus.

A sociedade atual criou todo tipo de mecanismo para nos proteger da mentira. As leis, um singelo dispositivo de consulta a crédito. Nossa grande tentação e natural inclinação é para sermos farsas, daí esta atávica atração pela mentira.

Se cada um de nós cria uma versão de si mesmo, nestes tempos de internete, um avatar, o resultado é a perda de si, o esfarelamento da unidade psicológica e espiritual. Não admira que a maioria de nós não saiba dizer quem é. E quem não sabe quem é, aceitará qualquer máscara, nunca se conhecerá e não tem coisa mais terrível do que olhar o espelho da alma e rejeitar a imagem daquele estranho ameaçador que ali se reflete. É uma espécie de morte.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Macho que é macho não vê cara



Experimento de psicóloga americana revela estrutura de pensamento machista.
Imagem cerebral indica que homem "desliga" função de autocontrole ao ver mulher sensual, sobretudo quando ela não mostra seu rosto 

Fonte: Folha por meio de enviado especial a Chigago

Ele é dos últimos de sua espécie. Chama-se Asdrúbal Bardana. Uma versão do Zeca Bordoada, sem o detalhe de coçar as partes em público. A associação dos machões mineiros lhe deu um título honoris causa. Mas ele não se faz de rogado, não decanta sua posição, a palavra machista não lhe afeta os brios. Ao contrário, crê que ela reafirma aquilo que ele é e diante de comentários, afirma como se declarasse um dito axiomático: pau que nasce torto, morre torto e se queimar até a cinza será torta.

O que segue é parte do discurso proferido por ele quando do recebimento do título acima mencionado.

“Durante os últimos 40 anos, as feministas usaram e abusaram do argumento de que os homens eram todos chauvinistas, machistas e não sei que lá. Conseguiram transformar a palavra machista em xingamento. O bater de tecla funcionou e o homem moderno, metrossexual, é um ser em busca de uma identidade. A macheza era fácil, homem faz isso e não faz aquilo e pronto. Já este modelo de homem atual é um faz tudo, pode tudo, inclusive ser mais feminino como canta Gilberto Gil sua porção mulher da qual diz: “É a porção melhor que trago em mim agora”, nele lá. (Benzeu-se.)

O danado é que as próprias mulheres, depois de um tempo cantando de galo, perceberam que esse posto não era para elas e que queriam (querem) homens mais másculos do que estas coisas estranhas encontradas por aí, dúbias. Uma geléia mezzo macho mezzo feminino. E alguns ainda gritam que, no quesito sexual, são pan-qualquer-coisa. Isto é um disparate!

Pois imaginem que todo esse vexame pelo qual fizeram os homens machos passarem, de sentir vergonha por umas atitudes inocentes, um tanto rudes, sem dúvida, mas que eram, afinal, parte natural do ser homem, recebem o aval da ciência e ainda por cima o estudo foi feito por uma psicóloga. Este mundo dá voltas, meus amigos.

Trocando em miúdos. O estudo feito pela doutora Susan Fiske, professora de Psicologia da Universidade de Princeton, diz que a área ativada quando um homem – macho mesmo, diga-se – vê uma parte pudenda de uma mulher, é a mesma que é acionada quando ele reconhece uma ferramenta, um objeto inanimado o que, concluiu a professora, os homens, quando não vêem o rosto, identificam a mulher como objeto.

Um senão é de se levantar. Então o homem não está olhando uma mulher, mas um brinquedo de um parque de diversões? Não se melindrem as senhoras aqui presentes, mas vocês sabem que só nós sabemos valorizar a mulher de verdade. Se tem quem saiba tratar uma mulher nos quindim, é o macho. Até porque o macho verdadeiro só trata mulher nos carinhos.


Olhem que a pesquisa não foi feita em nossa terra, mas nos Estados Unidos, lugar em que a maioria dos homens já recebeu a canga e tem de tudo que é coisa esquisita. Vejam os senhores o que diz esta doutora. É a redenção dos homens verdadeiros. Há de se investigar se isso não cabe algum tipo de reparação pelos anos tratados como cachorros sarnentos.

A pesquisadora atenuou para o nosso lado e disse que “Tecnicamente, podemos usar uma espécie de eufemismo neurológico e dizer que o homem não tem essa atitude de uma forma premeditada. É algo que ele não racionaliza.” Aliviou, mas terminou por dizer, de forma indireta, que nós não pensamos quando estamos diante de uma mulher. Pura bobagem. Vingança mesquinha porque agora até a ciência afirma o que a natureza e os senhores, como eu, estamos cansados de saber. Imaginem se dá para agir de outra maneira diante de uma Luma saracoteando na sua frente. Com tanta parte para olhar, não me admira que a cara seja a última a um se dar conta.

Como não poderia deixar de ser, a pesquisadora quis dar uma no cravo e outra na ferradura com o objetivo subreptício de nos inflingir algum desconforto. Insinuou que dependendo de nosso gosto, podemos, por exemplo, numa posição de mando, beneficiar uma funcionária melhor aquinhoada de glúteos do que uma zinha que não tem nada. E quem é que quer olhar para paisagem feia? Eu, hein!”