domingo, 24 de junho de 2012

Um segundo


O dia 30 de junho durará um segundo a mais para poder ajustar os relógios ao período de rotação da Terra. Isso acontece porque existe uma pequena diferença entre as 24 horas de um dia e o tempo que dura uma volta do planeta em torno do próprio eixo.
Fonte: Revista Veja (Com Agência EFE - 22/06/2012 - 20:42)                      
Nome é, às vezes, sina. Simplício poderia sugerir modéstia, certo recato, ou a simplicidade daqueles destituídos de orgulho e empáfia. O Simplício meu conhecido não tem nada disso. De fato, seu nome reflete a imbecilidade dos símplices de mente, a idiotia camuflada de conhecimento enciclopédico que ele distribui ao primeiro desavisado que lhe dê ouvidos. Se você conhece um chato que sempre sabe tudo e nunca se furta a tentar, professoralmente, lhe ensinar como é que as minhocas fazem minhoquinhas e sua importância para o equilíbrio da saúde do solo, pois eleve isto ao infinito e além e você terá o Simplício.
Esta semana, para meu azar, digo assim porque me descuidei, encontrei esta anta casualmente. Entre o olá-como-vai-e-o-vai-tudo-bem- até-logo, o infeliz encontrou uma forma de falar que os cientistas do Serviço Internacional de Sistemas de Referência e Rotação da Terra aumentariam o dia 30 de junho em um segundo. Eu fiquei estatelado com a importância da notícia como você provavelmente ficaria, exceto se você gosta de emprestar seu ouvido à moda do penico. Ah, lembrei como foi que o parvo veio com esta conversa. O celular tocou e eu, achando que salvadoramente teria uma saída pela direita, como o faria o leão da montanha (você lembra, não é? O desenho... ah, dane-se), disse: um segundo.
Enfim, à parte daqueles discursos bobos sobre a importância de um segundo que se encontra fácil naqueles sites melosos ou recebe spam de alguém que não tem mais o que fazer que enviar estas baboseiras, não sem uma ameaça de que se você não repassar, algo acontecerá com você. Verdade, seu email ficará atopetado de lixo. A maioria de nós está pouco se lixando para um segundo a mais, um segundo a menos. Sei, sei, tem os esportistas profissionais se importam, mas você não é um deles e o máximo que faz é enganar-se que algumas passadas na Lagoa ou na Litorânea darão a você aquele corpo silfídico, enquanto come todo o lixo fastfúdico (desculpem a palavra, mas não terei pruridos com com esta mania de falar tudo em inglês, quando somos quase todos analfabetos na língua mãe) que existe.
Mas voltemos ao segundo acrescentado no dia 30. Pergunte-se, caro leitor que me aguentou nesta enrolação até aqui: o que você fará com esta dádiva? Dormirá mais para repor o sono que faz abrir a boca o dia inteiro? Marcará um encontro? Vai simplesmente ficar de papo para o ar? Participará de um concurso sobre ideias criativas sobre como usar este precioso segundo? Veja lá o que fará, porque eu mesmo já perdi preciosos minutos, obviamente sem ouvir uma só palavra do que a besta do Simpício dizia, pois estava ocupado pensando numa estratégia para fugir.
Se lembro vagamente do que disse, cheio de pompa e tentando mostrar quão inteligente é e eu um ignorante, pois tudo não passa desse joguinho ridículo, ele sabe, você, a vítima, não. E assim ele se autoafirma, para esconder sua imbecilidade galopante. A terra gira numa velocidade, nós, que já sabemos disso, medimos o tempo noutra velocidade. Resultado: segundos escapam entre um e outro e de vez em quando os cientistas tem que arrumar os ponteiros, por assim dizer.
Por que não chamaram os caras da Suíça, ou os caras do Big Ben? Relógios atômicos, dezenas de satélites girando para isso? Um segundo a mais? Imagine o impacto desta notícia no Brasil que temos o atraso desrespeitoso quase como característica cultural? Eu mesmo acho totalmente ridículo as agendas da maioria dos compromissos. Participei de várias reuniões para defini-los e cansei de ouvir as pessoas sugerirem dois horários: um real e o outro fictício, porque as pessoas se atrasam. Ninguém nunca cogita fazer as coisas em seu horário e os atrasados que se danem.
Alguns bons minutos depois livrei-me do simplório Simplício com a enorme sensação de perda de tempo, com uma singela desculpa de que estava atrasado e que aquele segundo que eu ganharia de crédito, bem, eu havia perdido justamente naquela conversa.