sábado, 9 de janeiro de 2016

Delcidite



O advogado Eduardo Goldenberg, morador do Rio de Janeiro, teve a carteira roubada na noite do dia 31, ao chegar a Copacabana, na zona sul, para a festa da virada do ano. Três dias depois, conseguiu recuperar a carteira. Na terça-feira (5), ao chegar ao trabalho, encontrou um envelope com quase todo o dinheiro que havia sido furtado --R$ 1.017—e um bilhete deixado pelo ladrão.
“Dr. Eduardo estou devolvendo seu dinheiro que eu peguei da sua carteira no dia 31 em Copacabana. Não dormi arrependido e peço que me perdoe. Feliz Ano Novo. Só tirei cinquenta reais pra comprar uma champanhe pra minha mãe. Fábio”, dizia o texto, escrito a mão.

Fonte: UOL, Rio (08/01/2016)       

      Se a moda pega, o Brasil vai virar uma espécie de paraíso. E se, de fato, como o vírus da Zika, nossos bandidos, marginais e outros que tais fossem acometidos por uma doença devolvedora de produtos afanados, sub-reptícios ou à força, não importa? O Brasil seria o único país do planeta cujo índice de bandidagem seria medido pela quantidade de gente devolvendo os roubos.
A violência continuaria – não vamos delirar, pois afinal se trata de gente e, segundo Umberto Eco em recente entrevista, fosse ele mandatário no mundo deixaria as gentes se devorarem até o último demenciado (o “demenciado” é meu). Nada de pensar que se poderia andar na rua tranquilamente. Não vamos tão longe. A diferença é que, pelo menos assaltado, o bandido acossado por uma culpa avassaladora devolveria o bem ou dinheiro.
Um mosquito especialmente desenvolvido por engenharia genética seria capaz de reconhecer os pestes e os perseguiria até picá-los e infectarem seu sangue com o vírus culposo. Aí era só esperar o contato do meliante.
O problema a ser resolvido é ainda com os patifes das Lava Jatos da vida, pois estes são irrependíveis. Os que devolveram dinheiro foram fustigados pela prisão e a perda da vida nababesca que tinham. A não ser que com estes facinorosos, como gostava Odorico Paraguassu, houvesse um estímulo ao roubo, um tempo para que aproveitassem o bom e o melhor e só então a polícia entraria em perseguição, prisão, bofete na cara... Ah, não pode? Tudo bem, beliscões nas partes pudendas e quebra de dedos... Também não pode por causa dos direitos humanos? Lástima!
Ai, ainda tem os políticos! Se forem que nem o Eduardo Cunha, Renan Calheiros, está difícil. Pense num bicho renitente! Esta raça pede medidas extraordinárias. Espremido por 1,5 milhão de assinaturas, Renan aguentou-se na cadeira da presidência do Senado e não saiu e ainda deu razão a quem se levantou contra ele. É um mestre. Dudu está há meses com toda sorte de denúncia lhe sacudindo o traseiro e nem treme a cara. Sem contar que até agora não houve meio de sequer de fazer balançar sua cadeira.
Seu tipo resulta do inacreditável ambiente corruptor das casas Legislativas brasileiras. São anos de maracutaias e safadezas cuja sofisticação (ou não) faria corar uma pedra, mas não eles, senhoras e senhores. Ali se dá um fenômeno da sobrevivência do mais apto, uma seleção natural curtida pela pilantragem endêmica. De venda de leis a achaques de empreiteiras, eles são experts em percentuais.
O vírus culposo não lhes faria dano algum. Ainda resta o voto, mas o povo, esse débil mental, sem crueldade, como dizia Nelson Rodrigues, solapa eleição após eleição essa única arma contra essas nefastas criaturas. Um trocado, uma cesta básica e lá se vai o imbecil votar no biltre. 
Talvez, penso aqui, se arrancássemos o gen do Delcídio? Disse seu patrono Lula, abespinhado por sua falta de ladinice, que sua captura por boquirrotice foi “coisa de imbecil”. Mas ainda lhe premiou com os epítetos de louco e idiota. Pois precisamente são estes que nos servem, já que não há meio de exterminá-los. Os incapazes de concluir uma safadeza. Os ineptos para mentir desbragadamente como o Lula. Os abestados que fazem o mal feito e ainda se gabam ou ostentam. Então, vamos infectar a todos com a delcidite.