domingo, 7 de julho de 2013

Melhor ir de avião

O presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), disse nesta sexta-feira (5) que vai devolver R$ 32 mil aos cofres públicos devido ao uso de um voo da FAB (Força Aérea Brasileira) no último dia 15 de junho, para fins particulares.

Fonte: UOL, em Brasília (Aiuri Rebello – 05/07/2013)

Enquanto isso, numa República não muito distante...
Um senador, chamado Ronan Palheiros, apronta como um astuto sobrevivente. Aguentou uma quase cassação: de fato, fugiu do Senado para não ser cassado e voltou por cima da carne seca. Reeleito pelo promissor estado de Alaboas, notabilizado, como o Paranhão, pelos mais altos índices de IDH do mundo todo e adjacências, forja criadora e amamentadora dos Bollor, entre outros bichos da extensa fauna política que ali puLula. Pois não só se elegeu, como foi catapultado à presidência da Câmara Alta. Ali, heroica e bravamente, suportou a descarga de mais de 1,6 milhão de assinaturas virtuais que pediam sua defenestração. Que homem!
Ladino e sorrateiro como ele só, mouco à voz das ruas, sobranceiro em sua postura de presidente, pediu um aerotáxi da bab e se mandou para um regabofe em Morto Seguro, em festa pra lá de requintada: casamento da filha de seu colega do Mamazonas!! Pego com a boca na botija, melhor, com o traseiro na asa do aerotáxi, deu a seguinte declaração que reproduzimos na íntegra. Especialmente nas entrelinhas, pois é o não dito ou o como dito que é importante, não o dito propriamente. Entenderam? Não? Deixa pra lá.
“Na qualidade de Presidente do Senado, tenho prerrogativas agarantchidchas por lei. Posso usar o avião da bab na hora que quiser e para o que quiser. Uso e abuso quando preciso e mereço, aliás, como venho fazendo, sempre na posição presidenta. Vou aqui, ali e acolá, pois tenho zilhões de coisas para resolver para minhas empresas, vantagens por debaixo dos panos e, quando sobra, para o povo que me elegeu. Fosse fazer tudo isso de carro tava lascado! As estradas tão entupidas de caminhoneiros parados e matando gente, aliás, o que a gente chama de estrada. Sendo assim, se usei o teco-teco, coisa que tenho dúvida, fiz por urgência e absoluta necessidade para apadrinhar a filha do meu caro colégua, sua excelência senador Eduardo Brega que, não tendo onde casar sua menina, no Mamazonas só tem mato e agora enchente – vejam como sofre o pobre homem e sua família – valeu-se nas paradisíacas águas de Morto Seguro, sob os eflúvios da descoberta cabralina. Posto tudo, é um despautério que esta mídia marronzista queira insinuar um pagamento como se eu fosse um Magri qualquer que manda carregar cachorro em Kombi, ou um Lula que leva cães para passear em carro oficial. Eu sou gente, ouviram? Não pago. Não dou meu direito.”
Mas, a imprensa “marronzista” daquele distante país pegou no pé a semana inteira. Repetiu como mantra que o presidente do Senado andou de graça e para fins particulares no aerotáxi da bab. A coisa foi fedendo, fedendo... Um colega diz uma coisa, outro diz outra... Afinal, o que são uns trocados de passagem se tu ganha muito mais no posto. Olha que o povo vem aqui pra porta pedir tua cabeça. Pois escrevam uma nota assim: “Povo querido desta República varonil. Andei no avião da bab, sim. Foi uma escorregadela. Pensei que era público o que era particular porque sempre fui confuso com estas coisas. Tem hora que penso que sou do povo, que o povo é meu e aí me embanano todo. Andei perguntado para suas sapiências, meus assessores, e colegas homiziados no Senado e decidi que para o bem do povo e da nação, como um ato de desprendimento e grandeza de minha parte em ouvir o clamor popular, já depositei a quantia merreca de 32 mil reais nos cofres públicos, devolvendo o gasto do avião na festinha à qual fui por ser convidado de honra, não fui para brincar, até por que estava com minha senhora.
Sei que o povo, às vezes, se confunde também e cobra o que não deve, mas porque sou magnânimo e como prova de que não guardo o mais leve rancor ou desdita, já devolvi e tamos conversados. Diga ao povo que fico. Alea jacta est.”
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança é mera coincidência.