A
redação de um estudante que conseguiu 560 pontos no Enem (Exame Nacional do
Ensino Médio) incluindo uma receita de macarrão instantâneo continua
a gerar uma série de piadas na internet.
Um papagaio fêmea de 33 anos foi sequestrado, na última semana, na
cidade de Santos, no litoral de São Paulo. De acordo com os donos de Loreca,
como era chamado o animal, um motociclista o capturou e levou no baú da
moto.
Fontes: UOL (22/03/2013) e Brasil Urgente –
Band (25/03/2013)
Esta
semana que passou divulgou-se uma pesquisa em que o Brasil ficou em segundo
lugar entre os países mais empreendedores. Quer dizer, 63% dos brasileiros
querem ser patrão em vez de empregados. Perdemos apenas para a Turquia. Isso é
bom ou ruim, não sei dizer, o que sei é que meu amigo Aristogênio é um legítimo
representante desta classe. Um sujeito atento às oportunidades.
Como
se sabe – fora a licença poética de um Adoniram Barbosa com “Arnesto nos
convidô, prum samba ele mora no Braz, nóis fumo e num incontremo ninguém...” –
escrever e falar errado é algo que corrompe a língua. Há que se ter um guardião
para que não se assassine a gramática e se aproveite de forma lubricosa da
sintaxe.
As
redações do Enem são, por bem dizer, um retrato da ação daqueles guardiões
iniciada, se tudo der certo – quase nunca dá – no beabá. O ministro da Educação
e o corpo de sumidades que organizam e corrigem as redações devem zelar pela
boa prática da língua de Camões e, por que não, introduzir novidades porque a
língua deve receber uns saracoteios porque não é morta, pois, pois.
Eis
uma grande oportunidade. Sabendo que se pode colocar qualquer tema, em doses
homeopáticas, por suposto, entremeado ao tema principal, Ari agora ensina aos
alunos como colocar temas estrambóticos e escalafobéticos no corpo da redação.
É que escrever trinta linhas é um exercício extenuante. Por exemplo, o gênio da
receita do miojo colocou a receitinha, instrutiva, elegante e muitíssimo útil
para os momentos de aperreio da fome, especialmente financeiros. Perdeu mais
pontos – ele fez 560 – porque se esqueceu de acrescentar um bife do olhão à
receita. Foi louvaminhado pelos corretores. Menos pelo ministro Mercadante que,
em profícua viagem educacional para pedir a bênção ao Papa, sentiu-se
espicaçado em sua turnê pelo monte de perguntas que os repórteres impertinentes
faziam. Perdeu-se um pouco em sua concentração espiritual. Prometeu que,
doravante, as redações do Enem não poderão mais ter receita de miojo.
Mas
já se sabe que outros temas poderão ser tratados. A questão é saber quais
corretores estarão lá. Ari, homem espertíssimo, tem um colega no ministério que
lhe passará um perfil intelectual dos corretores, assim o aluno terá mais
chance. Os jornais estão cheios de exemplo, diz Ari. Em Santos afanou-se,
melhor, sequestrou-se uma papagaio fêmea por nome Loureca. Um caso de opressão
e violência. Poderá ser encaixado numa redação sobre minorias oprimidas.
Ari
ensina. Vejam, caros alunos, como ficaria a redação. “As minorias devem receber
cuidados e apoio frente a massa opreçora e garantir direitos consagrados na
Carta de direitos Umanos, etc, etc.” Então entra a Loureca. “Do mesmo modo
deve-se garantir a liberdade de Loureca, ser que por gerassões aprendeu o nome
de seus familiares e agora está perdido e traumatisado com a violência urbana
de marginais sem corassão.” Olha o toque sentimental no fim da frase. Percebam
que o corretor aponta palavras com erros ortográficos, mas se admite uma
coisinha ou outra, desde que a ideia do texto e a coerência sejam mantidos,
entenderam?
Se
dominar, você pode escrever na língua do P. Ainda não pode escrever com
emoticons. Por enquanto J. Um percentual de
palavras podem ser escritas em internetês. Naum exagere! ;-)
Agora
se você quiser ver um corretor sair do sério misture as ideias. Se você
acrescenta Loureca a um texto sobre, por exemplo, à transposição do rio S.
Francisco, lascou! Loureca nada tem a ver. Daria na vista na hora. Salvo se
Loureca tivesse habilidade de construir carrancas, pescar ou soubesse cantar
“Olê mulé rendeira”. Aí seria diferente, pois se trataria de uma nordestina
legítima, parte do contexto.
O ministro, danado da vida
pela exposição das redações grotescas que ora grassam no Enem, disse que haverá
um pente fino que não deixará passar nada. Olha só, o ministro acaba de sugerir
dois temas: você fala sobre nada, caso o tema tenha raias filosóficas, ou se
for tema social, coloque a letra da música “nêga do cabelo duro / cadê o pente
que te penteia”.