Em postes de Nanning, a capital da província, um panfleto anuncia: "Com apenas 20 mil yuans [R$ 5,2 mil], você pode se casar com uma vietnamita dentro de apenas três meses. Oferecemos garantias: apenas virgens; sem pagamentos extras; enviaremos outra se ela escapar no primeiro ano".
Enfrentando a crescente desproporção entre os sexos, homens chineses estão recorrendo a casamentos arranjados com mulheres vietnamitas, a maioria pobres, via agenciadores ou internet.
Enfrentando a crescente desproporção entre os sexos, homens chineses estão recorrendo a casamentos arranjados com mulheres vietnamitas, a maioria pobres, via agenciadores ou internet.
Fonte: Folha de São Paulo
Odiava ser tímido, mas que podia fazer? Quando o assunto era abordar mulheres, então, um quadro sintomatólogico equivalente a um surto se instalava: sudorese, taquicardia, tremor nas mãos, voz embargada, vista turva... Amigos se compadeciam e tentavam ajudar como podiam, mas Chen Fu continuava quase autista diante de uma mulher. Existisse um Freud Chinês e já diria que haveria algo como uma fixação na mãe que o impedia de se relacionar com moças. Mas não era nada disso.
As mulheres chinesas, fruto desta descomunal mudança de costumes e cultura que o capitalismo comunista produziu, transformaram-se completamente. Não chegam a ser feministas, são encarnações de modelos genéricos ocidentais, numa improvável mistura de preparo técnico, consumismo de badulaques femininos e ambição. Além disso, estão numa invejável posição no ranking demográfico do país. Há quase 40 milhões de homens a mais.
Foi-se o tempo daquelas mulheres a passinhos curtos, obedientes, pacatas e à disposição de seu rei, o homem. Querem estudar, crescer profissionalmente, beijar muito na boca e depois, muito depois, achar um cara rico e bem apanhado – não necessariamente nesta ordem –, para casar. Chen Fu não se encaixa muito bem neste padrão. O bem apanhado é secundário quando a grana se contabiliza na casa dos seis dígitos, é certo, mas o danado é que Fu não passa de uma peça numa das incontáveis linhas de produção de uma fábrica.
Vive parcamente, sem exageros e economiza com paciência oriental. Fato que lhe rendeu alguns yuans debaixo do colchão. A solução para o impasse casadoiro, parece, chegou. Um amigo lhe trouxe um folheto que propagandeia a venda de esposas. São vietnamitas famintas. Encomenda-se a mulher e três meses depois, eis o pacote na porta. Não oferecem teste drive. Aliás, dão garantia de virgindade ou o dinheiro de volta. O folheto, no entanto, não explica como podem dar tal garantia. Ah, também garantem a reposição do produto, caso fuja. Sem custos a mais, o que é uma boa vantagem, afinal, nunca se sabe.
Chen contou as economias e aparentemente será possível adquirir uma mulher. O mercado, porém, está inflacionado. A velha lei da oferta e procura faz das suas, mesmo na China. Pior ainda, alguns agenciadores costumam não entregar o produto ou entregam peças já bastante rodadas. Como saber qual é honesto? Pois não dá pra saber. Aliás, o pagamento tem que ser adiantado. Dizem que é para os custos de transporte, alimentação. Por quase nada, entregam a muher maquiada e vestida de noiva se o comprador desejar. Alguns contrabandistas mais afoitos presenteiam o casal com um vídeo do kama sutra feito nos porões de bollywood. Fu está que não se aguenta, vai comprar o pacote super full size master.