domingo, 23 de agosto de 2015

Clavícula imoral

Uma aluna foi obrigada a voltar para casa após sua escola em Kentucky, nos Estados Unidos, julgar que sua roupa era inadequada. Stephanie Hughes, de 16 anos, usava calça jeans e uma camiseta que mostrava sua clavícula.

Fonte: Redação Yahoo (21/08/2015)

A questão, minha senhora, é que esta escola zela pelos bons costumes. Aqui não se pode vir com a roupa que quiser. Desculpe, mas a garota não me deixou opção. Não abusei da autoridade como diretor. Era mandar a menina para casa ou segurar uma rebelião de garotos em plena adolescência com a libido pegando fogo. Não posso permitir distrações dessa natureza. Nem de outras. Dedo em riste. Nem de outras. Não queira estar no meu lugar. Não me agrada fazer isso, mas nestas horas não há outra alternativa.
Temos que velar pelo bom andamento das atividades pedagógicas. Já imaginou, se qualquer uma vier com a roupa que der na telha, vai acabar que nem aquela brasileira Geysi sei lá o quê, que abalou uma faculdade inteira com uma sainha piquititica assim. Teatraliza com o polegar e o indicador para dar substância ao tamanho da saia. Abalar é modo de falar, aquilo foi uma revolução. Com olhos lúbricos. Ela tinha, assim, umas nádegas um tanto avantajadas, o busto saltitante e ainda por cima flutuava sobre saltos que desafiava o equilibrista mais experiente. Dava quase para fazer uma aula de anatomia com a moça. Não senhora, não concordo com o que fizeram, afinal, espera-se que homens adultos se comportem diante de uma, bem... enfim... uma pessoa com certos atributos. Mas deixemos este tema de lado.
Não desvio o assunto, minha senhora. Apenas uso um caso estrangeiro como modelo para que a senhora entenda o perigo que sua filha trouxe a esta escola. Que estava de calça jeans, blusa e casaquinho reconheço, mas isso não é desculpa, pois debaixo da aparência inocente havia aquela exposição indecente da clavícula. A senhora sabe o que pode fazer uma clavícula erotizada? Como não erotizada? Estava lá à mostra. A senhora não olha a roupa que a sua filha vai à escola? Pois devia.
O mal está em quem olha? Justamente. A clavícula saltava aos olhos e isso, como se sabe, provoca o despertar de sentimentos primitivos como disse certa vez um sábio. A clavícula é a antessala do colo e o colo... pigarreia. Coça a cabeça. O colo... deixa pra lá. A senhora, por favor, contenha-se. Faço uma ligeira digressão sobre tema de extrema relevância para o bom andamento da escola, só isso.
A senhora não percebeu o zunzunzum entre os meninos heterossexuais do sexo masculino quando ela chegou. Se digo assim é para não deixar dúvida sobre o grupo de pessoas afetadas. Sim, senhora, tudo por causa de uma clavícula desnuda. Mas começa assim. Se permito uma clavícula, na mesma semana estou trombando com shortinhos microscópicos desfilando nos corredores. Aí vai ser o fim. Só vai faltar colocar um pole dance na quadra de esportes. Não, vamos com calma.
A senhora acha pouco? Uma clavícula é pouco? Depende da clavícula. Tem umas sequinhas e insossas que ninguém faz questão, mas tem outras... fecha os olhos e lambe os lábios. Mas isso não é o caso. Não vou ficar aqui me justificando e explicando para a senhora as normas com vestimentas dessa escola, pois isso está no manual. Também não quero me delongar nas anatomias claviculianas das alunas. Não pega bem. Cada um que cuide da sua.
Estamos sempre à disposição dos pais e alunos. Se discordam da atual política de adorno e vestimentas, pois que se manifestem, podemos rever, mas alerto: tenho que garantir um ambiente seguro para o aprendizado dos alunos. Acho difícil com clavículas em pleno striptease.