quarta-feira, 16 de março de 2011

Tecnófobo

Computadores com visão estão se tornando comuns. Câmeras baratas e de alta resolução se proliferam em produtos como smartphones e laptops. E novos algoritmos de computação para localizar, comparar e avaliar a enxurrada de dados visuais têm progredido rapidamente.
A tecnologia pode ser usada em hospitais, shopping centers, escolas, plataformas de metrô, escritórios e estádios. As máquinas nunca piscam. Tudo isso pode ser muito útil - ou alarmante.

Fonte: Seção do The New York Times na Folha (Por STEVE LOHR)

É possível que ele, como o personagem vivido por Will Smith em “Eu robô”, também tivesse sua cisma com qualquer aparato eletrônico supostamente inteligente. Não sabia explicar a razão, mas o fato é que se tornou, modernamente falando, um tecnófobo. Se bem que não é medo o que ele tem, é aversão. Uma incapacidade brutal de se relacionar com estas traquitanas que apitam, lançam luzes e fazem, dizem, coisas do arco da velha. Considera computador quase uma invenção do fute e assim diz, pois alega lá nas suas religiosidades altamente sincréticas, que o anticristo vai dominar o mundo pelo computador.
O personagem do Will, um policial valentão, guardava o trauma porque um robô preferiu salvá-lo a salvar uma menina que afundava num lago dentro de um carro. A questão era simples. O robô calculou as chances de sobrevivência da garota e as dele. Tudo processado, noves fora  seus protestos, salvou-o o robô. A ele restou um ódio mortal de robôs e a culpa dolorosa de carregar uma morte nas costas, se bem que de forma involuntária. Varela não tinha uma história assim para contar. Simplesmente desenvolveu teima besta com a tecnologia e vivia quase como um Amish.
Ainda usa uma velha remington – para quem não sabe, uma máquina de escrever –, a qual trata com carinho paternal e sofre com  a impossibilidade de não usá-la, porque o último fornecedor de fitas fechou a loja faz tempo e o estoque que comprou está quase no fim. O máximo que se permite em tecnologia é uma calculadora, daquelas de manivela que pede uma manivelada a cada valor acrescentado à conta. Acha bonito o papel ser cuspido fora com os números impressos e se maravilha com isso.
Por suposto, email, celular e ter uma conta em uma rede social é coisa que nem se lhe pergunta. Outro dia mandou alguém tomar no orkut. Ouviu a palavra por aí. Achou que era palavrão, explicaram que não, mas ele não se convenceu.
Leu a reportagem e resmungou qualquer coisa. O título dizia: “Computadores aprendem o que nos faz sorrir e... gastar”. Ele sabe que as câmeras em ruas, lojas e outros que tais, vigiam a gente e isso é um disparate para ele. Com a proliferação de câmeras, ele agora deu para andar disfarçado. Saber, então, que atrás das câmeras tem um robô-computador que analisa as pessoas e gera informações para os lojistas as fazerem gastar mais é o fim da picada.
Exagera, às vezes, diz que vamos acabar quem nem os astronautas do filme “2001, uma odisséia no espaço”. O danado do Hal-9000, assim se chamava o computador, se revolta e tenta matá-los. Deus me livre, se benze. Por isso, diz, não tem conta em banco. Obriga seu patrão a lhe pagar em espécie. Outro dia até tentou abrir uma conta, mas diante de um caixa eletrônico – alguém lhe explicava as facilidades em sua vida que aquela caixa proporcionaria – quis saber se não havia alguém dentro da caixa. Diante da negativa, ficou uns minutos olhando a tela e saiu em desabalada carreira.
Ultimamente tem estado mais ranzinza. Não abre nem a geladeira, pede que sua mulher o faça. Vira e mexe, discute com o liquidificador. Desconfia da torradeira e definitivamente detesta a televisão. Acredita que ficará hipnotizado se olhar as imagens e que terá o cérebro derretido. Menos nesta última semana, em que se deliciou com a overdose dos ziriguiduns das mulatas balançando bem na sua cara.