Uma vez
evocada, uma emoção fica atuante apenas por inércia até que algo a desvie ou
sua energia se dissipe. As emoções, que mobilizam grande parte da fisiologia
são despertadas, basicamente, por eventos ou memórias. Uma vez acionadas, não é
possível impedi-las de seguir seu curso. Sim, a pessoa pode impedir um choro (ou
tentar), ou qualquer manifestação evidente da emoção, mas não sem um custo e um
desgaste.
Emoção é como
um fluxo de água, cuja força está associada à topografia por onde passa. A água
seguirá seu fluxo acumulando energia em remansos e lugares profundos, andando
rápida em lugares mais rasos e com obstáculos sempre, contudo, em determinada direção.
Pode-se usar
essa energia de várias maneiras e energia gera movimento e neste propósito
acaba se transformando em outra coisa, mas afinal, cumpriu um objetivo. A
energia emocional precisa ser gasta, consumida naquilo que é: uma reação à vida.
Deixá-la fazer seu curso em nós, reconhecendo-a como aquilo que é. Isto é parte
da maneira correta de gerir uma emoção.
Viver uma
emoção, em especial aquelas às quais se atribui um viés negativo, pede um tipo
de educação, que se entenda, um tipo de conhecimento triplo: reconhecer a
emoção em si mesmo, no outro e sua manifestação pública de acordo com a cultura
do lugar.
Por que aquele
conhecimento é necessário? Por que cada sociedade estabelece regras do que pode
ou não ser manifesto em público. Porque por leis não escritas, certas emoções são
tidas como vergonhosas, então é preciso conhecimento de si e coragem para vivê-la
se couber. Um exemplo? A tristeza, venha de onde vier. Uma pessoa triste é um
incômodo. O que fazer com ela e sua carga triste? O que dizer? Então logo
pedimos que a pessoa sorria ou procure se divertir. É menos porque a queremos alegre
e mais porque nos incomoda a tristeza alheia.
A raiva quase
sempre é vista como extremamente negativa. Há quem defenda que não se deve
senti-la. Mas a raiva que não encontra seu caminho, não é elaborada ou
canalizada, se torna uma espécie de tumor que um dia gritará numa forma
somática. Na prática, todas as emoções o fazem. Inclusive a alegria, pois
pessoas muito contidas até na alegria também o são em outras manifestações
emocionais. Uma raiva bem instrumentalizada pode gerar uma agressividade
positiva que proverá energia para fazer algo desafiador.
Por fim, para
não me delongar mais neste post. Toda emoção só se alimenta dela mesma. Raiva
de raiva. Tristeza de tristeza e assim por diante. Que isso quer dizer? Que cada
pessoa deve se dar conta disso e perceber o que faz, por exemplo, uma raiva se
perpetuar? Um evento aconteceu em seu início, mas se as condições objetivas que
a sustentam não existem mais, que pensamentos e sentimentos a alimentam? Não
tem coisa mais disparatada e sem sentido que uma emoção fora do lugar, como
objeto errado e no momento errado.
Ainda pensando neste
deslocamento, lembro de Paulo que recomenda: “Alegrem-se com os que se alegram; chorem com os que
choram.” (Romanos 12:15). A empatia faz-nos adequar e dar
congruência a nossas emoções na relação com os outros. Se rio com o triste,
demonstro indiferença e se choro com o alegre, pareço invejoso. Há outras
possibilidades, mas estas são suficientes. Emoções desencontradas em nós e no
contexto pode sinalizar uma alma adoecida.