O professor de matemática da Universidade do Estado da Califórnia Tihomir Petrov, de 43 anos, foi preso após ser flagrado pelas câmeras de vigilância da instituição urinando na porta do escritório de um colega, segundo o jornal "Los Angeles Times". Segundo as autoridades, Petrov urinou na porta da sala de outro professor de matemática depois que os dois se envolveram em uma disputa.
Fonte: Do G1, em São Paulo
O fato é que Petrovsk, como se pode suspeitar pelo nome, era descendente russo ou arredores e nunca se sentiu em casa nos EUA, mesmo sendo segunda geração de uma família imigrante em solo gringo. Talvez porque tenha crescido no período da Guerra Fria e mesmo que não se soubesse o que era bullyng, ele sofrera um bocado na escola: ora com piadas sobre russos, ora com a desconfiança dos colegas, por temor de que ele fosse um agente infiltrado. Nem idade tinha, coitado, para ser um facinoroso – como diria Odorico – agente vermelho e tampouco adiantava dizer que era americano.
O nome lhe denunciava, mesmo que não tivesse fisionomia tão eslava. Na adolescência, a despeito de ser aluno dedicado, com boa aptidão para matemática e ter sido campeão de xadrez umas quantas vezes na escola, nada disso lhe proporcionou mais facilidade nas relações sociais. Mentia algumas vezes sobre o nome – dizia se chamar Bob Smith – ou sobre seu pai, que mesmo tendo nascido na gringolândia, tinha sotaque carregado, era como uma identidade nacional. Uma declaração de que não pertencia a lugar nenhum, afinal. Mantinha este tipo de dignidade, ainda que isso lhe causasse problemas e muito mais ao seu filho Pet, que odiava quando o pai ia lhe buscar na escola e abria a boca na frente dos colegas.
Apesar das vicissitudes, Petrovsk concluiu seus estudos e tornou-se professor numa universidade não muito importante. Poderia ter ido mais longe, dar aula num MIT da vida, mas preferia o recolhimento e certo anonimato. Contudo, a despeito de seu isolamento, algum contato teria que ter com colegas e com os alunos e foi então que a coisa degringolou.
Outro professor, até menos preparado que ele e talvez por isso, invejoso, fazia de tudo para lhe provocar publicamente, às vezes com ranços graves de xenofobia. Sempre falava que ali era lugar apenas para “americanos”, como se Pet não fosse. Profesor Pet tentou ignorar, mas ódios profundos e desfeitas sofridas ao longo da vida, entre outras coisas, lhe despertaram os instintos mais primitivos, como diria o ex-deputado Roberto Jeferson a respeito de seu contracolega, Zé Dirceu. Aquele de triste lembrança, cuja célebre frase ainda ecoa: “este governo não rouba, nem deixa roubar”. Tentava se defender, mas frase deste tipo tem o miserável condão de reforçar a negativa.
Enfim, Petrovsk desenvolveu algum tipo de desmantelo mental. Em sua cabeça só pensava naquilo que o provocador dizia, que ali não era seu lugar. Como poderia demarcar este lugar? Como faria para ter seu espaço? Não bastava quão bom fosse em sua área, ele tinha como que atração para gente despeitada e provocadora. Uma hora sempre aparecia um debilóide para lhe apontar qualquer coisa, para fustigar-lhe os brios e lembrar-lhe que era russo, país que nunca visitou.
Pensou em ir até a sala do desafeto e dizer-lhe umas poucas e boas, mas como? A quase inexistente sociabilidade lhe roubou a habilidade para falar de maneira desenvolta e o máximo que ocorreria, se tentasse, era se engasgar, se atarantar e ficar mudo e fulo. Não, precisava de algo com força simbólica. Algo que demarcasse espaço físico, um sinal de que ele também tinha direitos. Não bastaria uma imagem, tinha que ser algo que impregnasse o lugar, com um cheiro, talvez. Algo que afastasse os outros e ao mesmo tempo dissesse que era ele ali, não outro.
Uma hora lhe veio à mente uma ideia incrível. Precisava ser mais agressivo, assertivo e macho. A palavra “macho” foi a senha. Olhou no espelho e disse: eu sou um macho alfa. Uivou como um lobo. Sentiu-se pleno como nunca. Ele era um lobo e não sabia, estava ali a fera, guardada todos estes anos sob os escombros de rejeição, insatisfação consigo mesmo e sentimento de inadequação.
O que um lobo alfa faz para se impor e dizer: este é meu pedaço? Mija. Então, só havia uma coisa a fazer, dar uma caudalosa mijada na porta do desafeto, do enxerido, do cachorro magro. Assim fez. Resoluto, pensou, chegaria cedo e faria o serviço bem na porta do cão inimigo. Chegou à porta, o coração batia acelerado. Tinha um pouco de medo, sim, mas não havia mais volta. Abriu a braguilha e ao levantar a cabeça deparou-se com a câmera de vigilância. Sentiu um frio na espinha, mas que foi logo substituído por um “que se dane” e mijou. Fez piruetas, havia se preparado com litros e litros de água. Com o esguincho, fez fonte, cachoeira, escreveu no chão, na porta, caminhou de um lado ao outro, até fez o moonwalk.
Dez minutos depois, parecia que o Mississipi havia invadido o corredor. Sabia que tudo tinha sido filmado, mas agora todos saberiam que ele havia demarcado para sempre o espaço entre ele, o macho alfa, e os outros. Estava de alma lavada. Ria sozinho. Saiu de braguilha aberta e o instrumento de sua afirmação à mostra. A vingança tinha sido completa.