sábado, 24 de setembro de 2011

Mulher Ketchup

Um suposto roubo levou a polícia a descobrir um caso de assassinato forjado em Pindobaçu (BA). Segundo a Polícia Civil, o homem que havia sido contratado para o crime desistiu do assassinato, cobriu com ketchup o corpo da mulher que seria sua vítima e ficou com os R$ 1.000 pagos pelo serviço.

Fonte: Folha de São Paulo (21/09/2011)

Todos já nos acostumamos com as famosas subcelebridades que enfestam programas de gosto absolutamente duvidoso na tv e as revistinhas de mexericos de coisas descartáveis, desinteressantes, inúteis como  a mudança da cor de cabelo daquela atriz que ninguém nem lembra o nome.
Entre esta miuçalha de “artistas” sempre houve mulheres, as “gostosas” toda sorrisos, pouca roupa e nada mais. Personas cujos principais atributos são as partes pudendas que elas amostram sem a menor cerimônia onde for. Verdade que ultimamente, depois da Tiazinha (lembram dela?), elas cantam funk, ainda rebolam  e se submetem a exames de câmeras indiscretas de baixo arriba. Com estas tvs lcd e led é quase como se estivessem na sua sala.
Uma variante deste seres de vida curta como uma aleluia, são uma espécie de evolução feminina. Os glúteos são descomunais (pobre Rita Cadillac!). Peitos com litros de silicone. As pernas apresentam coxas e panturrilhas bombadas e se alcunham com nome de fruta. Há de tudo: melancia, morango, jaca, maçã, melão e tem uma alienígena, mulher filé.
O que faltava era uma mulher ketchup. Jurema saltou de sua insignificância, do dia para a noite, para o mundo do sucesso. Calma, leitor, não espezinhe seu juízo tentando imaginar o que leva alguém a ser alcunhado com algo tão inusitado.
Não em desfavor de Jurema, mas a bichinha é uma bisca. Dizem as más línguas do cordel da feira que Jurema andou se saracoteando para um certo sujeito cuja esposa não ficou nada feliz. Jandira, assim se chama a esposa, é mulher passionalíssima. Dona de um ciúme patológico. Sem mais lero lero, contratou um ex-presidiário para dar cabo da enxerida em seu casamento.
Tião, sujeito estúpido e mau caráter, até queria se endireitar. Mas, recém saído de uma cana de cinco anos, estava meio que sem grana. Emprego ele não cogitava por que além de ser um ajé, nunca gostou de criar calo nas mãos. Aliás, mantém as unhas impecáveis, com brilho, por suposto.
Com faca ou à bala? Só quero a mulher fora do meu caminho, respondeu Jandira. A senhora não tem preferência? Não, resmungou meio desconfortável. Feito o acordo, acertou-se que a encomenda custaria R$1.000,00 à contratante. Pagos de uma vez. Tião dava garantia do cumprimento. Qual era o pedaço que a dona queria, perguntou meio que de chiste e maldade? Uma orelhazinha, um dedo... Jandira declinou da prova.
Recebido o pagamento, Tião foi ao encalço da desditosa vítima. Dia inteiro tocaiando e na hora agá, eis que nosso desesperado homicida é surpreendido. Jurema era velha amiga, um rolo, amizade colorida, um velho xodó. Jurema, como é que tu te meteu nisso, sua doida? Por que tu num deixou o homi da outra em paz, diaba? Cavalo amarrado também pasta, respondeu e deu uma gaitada. Não disse que essa Jurema é o capiroto!
Quero vê tu ri agora. A mulher me contratou pra te matar. Jurema perdeu o riso no meio da boca. Reuniu alguma coragem e perguntou: por quanto? Milzinho. É muito dinheiro! Eu não posso perder este negócio. Ô Jurema, e agora o que que eu faço? Larga de sê besta. Tu finge que me matou e manda uma foto. E o sangue? Tem que tê muito sangue, e minha fama de matador, como é que fica?
Jurema foi lá dentro e já veio toda ensaboada de ketchup. Bota a faca aqui, entre o braço e o bucho. Pronto! Amarra. Amordaça e tira a foto com o celular. Tião estav embasbacado com a esperteza de Jurema. E aí, como é que fiquei, perguntou ela, puxando o celular para ver. Vixe, tô mortinha! Ê, quanto é que eu ganho? Cem? Que cem o quê? Duzentos. Tá feito! Ô bicha perigosa, é por isso que gosto de tu.
Dali, Tião foi mostrar à contratante que ficou por demais satisfeita. Não havia dúvida, aquela sarfadana estava mortinha da silva. Sentiu nojo, mas não conseguia tirar os olhos e, no fundo, se deliciar com a morte bem matada daquela fuleira. Ô dinheiro bem gasto, disse. Cuspiu o chão em sinal de desprezo: Quenga!
O reencontro entre Tião e Jurema em condição tão desesperante acendeu uma fagulha entre eles. De repente, os dois eram só love. Jurema, eu tô doidim por tu. Tião, até que tu num é de se jogar fora. Os dois andavam para cima e para baixo. Dias depois, foram à feira comer um chambaril e deram de cara com Jandira com a sacola de compras.
Os três ficaram paralisados. Jandira fez um escândalo e saiu dando rabanada. Seu ódio agora era duplo. Logo apelidaram Jurema de mulher ketchup. Até jornal do sul deu cobertura. O prefeito ficou feliz porque sua miserável cidade ficou conhecida. Achou boa a fama. Pensa em fazer uma praça e colocar uma estátua da cena de Jurema morta. 
Jandira, soltando fogo pelas ventas, foi direto à delegacia dar parte de um certo Tião que lhe tinha roubado R$1.000,00. O delegado mandou fazer averiguações e prendeu Tião por via das dúvidas. A história se revelou outra coisa. Mas Tião ainda estava no xilindró e só queria saber de uma coisa: Dotô, vô tê direito a visita íntima da Jurema?

domingo, 18 de setembro de 2011

Cartas perdidas


Por conta do aumento da taxa de divórcios no país, as autoridades postais chinesas criaram um serviço no qual as cartas de amor são entregues apenas sete anos depois de enviadas. O objetivo do serviço é fazer com que o parceiro receba a correspondência em um momento em que a relação esfriou e possa reacender novamente o amor.

Fonte: Do G1, em São Paulo (14/09/2011)

        Algumas coisas, embora pareçam simples, exigem extrema organização e planejamento. Funcionarão em alguns lugares, em outros, como o Brasil, país que tem uma queda pelo improviso, será no mínimo, avacalhada. Basta ligeira investigação histórica e já nos damos conta que nossa descoberta foi farsante, o grito de independência foi entre a capital e a casa da amante do gritador. O império era meia boca, a proclamação da República foi um convescote do atraso. E o que falar da política nacional? E, aqui entre nós, alguém acredita que o país estará pronto para a Copa de 2014?
        Calma, não desanco nossa briosa nação por não ter o que fazer, constato fatos. Os Correios estavam em crise. A inspiração veio da China. País que tem gente como formigas e com a mesma determinação soldadesca. Logo, se dizem que entregam uma carta a uma pessoa sete anos depois, eles entregam.
A ideia é simples e bem intencionada. Aparentemente, todos os casais vivem a síndrome dos sete anos. O Estado chinês, preocupado com o aumento dos divórcios, decidiu que os correios vermelho daria uma forcinha. O casal escreveria uma carta endereçada ao seu respectivo cônjuge, logo que casassem, mas só seria entregue sete anos depois! Por que estava preocupado o formigueiro chinês? Eles tem a regra de filho único por casal, mas com o crescimento econômico, começa a faltar braço, quero dizer, mão-de-obra. Se as pessoas se separam, como é que vai ficar?
Depois da greve dos correios brasileira, resolveu-se fazer uma promoção. Sei lá, mostrar que os correios participam da vida das pessoas. Um olhar saudosista para um passado em que as pessoas sabiam escrever e se escreviam. Nada de “naum”, “bj”, “vc”, etc. O princípio era o mesmo, com um detalhe, os correios brasileiros não estavam interessados em salvar o casamento de ninguém.
Surpresa. Uma enxurrada de cartas chegou aos correios pelo serviço da entrega em sete anos. Onde armazená-las? E se a pessoa mudasse de endereço? Que dispositivo seria usado para alertar que uma carta específica havia chegado ao prazo e deveria ser entregue? Ninguém havia pensado nestes aborrecidos detalhes. Sem plano, o resultado foi mais ou menos este:
Você não acredita em mim? Interpelou a mulher. Eram recém-casados. O homem, atônito, não sabia responder. Ela jogou a carta em sua cara. É assim? Nem bem casamos e você já pede para enviarem a carta? Mas eu... Nada. Soluços. Está tudo acabado, não posso ficar com quem não confia em mim. Você acha que sou uma tresloucada que precisa ser lembrada de meu compromisso. Mas eu não disse isso. A cara do homem era de desolação.
Quem é este cara? Como assim? Quedou-se assustada a mulher. Este cara da pintinha no rosto? Não sei. Ela procurava desesperadamente alguém conhecido com uma pintinha no rosto. É amigo do trabalho? Não. Não sabe? Que conversa é essa de “nosso amor será eterno”? O correio entregou a carta no endereço errado,  mas aí, o estrago já estava feito.
Meu amor, disse a mulher toda dengosa, chegou uma carta para você. havia passado quase sete anos e, incrível, a carta foi pontual. E eu lá recebo carta. Recebo email. Torpedo. Só pode ser cobrança. Não é não. Duvido. Deixa eu ver. Abriu a carta, leu a primeira frase. “Daqui a sete anos, quando você receber esta carta, saiba que meu amor continuará igual como hoje...” Não disse que era cobrança?
A mulher verificava a caixa postal todos os dias. O homem desconfiou. Deve estar me traindo, pensou. O que faz esta mulher esperando o carteiro todos os dias? Espera algo que não quer que eu saiba, especulou lá com seus botões. Valha-me, me trai com o carteiro. Nunca gostei dele, este farsante. Contratou um detetive. Instalou câmera.
A mulher continuava esperando o carteiro, trocavam poucas palavras. Ele balançava a cabeça em negativa, ela entrava. Ela assedia o carteiro, concluiu. Ela esperava a carta do marido escrita sete anos antes. De manhã, ele bebeu o último gole de café e disse: vou me divorciar. Ela ficou muda. Eu sei de tudo sobre você e o carteiro, arrematou ele.