quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Levar a cabra para passear


Brasileiro, profissão: sobrevivente e artista cômico involuntário, filho do Lula e da Dilma. Ganha pão: Bolsa Família

Obs.: A cena aconteceu numa das pontes sobr eo rio Paraníba entre Teresina e Timon-MA

Para a Groria de quem mesmo?



Em algum lugar, numa periferia de uma grande cidade brasileira...


A imagem foi copiada do site do Simão - Folha de S. Paulo.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

“Tomo o nome de Deus num vão.”


Falo baixo. Sussurro como se não quisesse que Ele ouvisse. Pois se respondesse, não saberia mesmo o que dizer. Se digo “Deus” penso que não o estou chamando. Mas esta é uma palavra sempre tão terrível para mim. Cavouca lembranças subterrâneas de quando íamos juntos para adorar.

Quando falo, o provoco, quero chamar sua atenção de algum modo. Faço de caso pensado. Resvalo a heresia. Tangencio o despautério de propósito. Experimento o destemor. Tenho medo de ser cínico, se já não sou. O cínico é desrespeitoso.

Deus não se deixa provocar. Talvez não tenha paciência. Silencia. Até quando? Porque não tenho modos? Desaprendi as formas de tratamento esperadas?

Estou misturado aos cambistas do templo. Troco o sagrado pelo vil. Desconstruo a solenidade pelo vulgar. Ofereço cordeiros cegos ou coxos e sequer me dou conta de que é o ato compungido e adorador que fala quem sou. Se dou animal defeituoso é porque desprezo o adorado. Barganho favores e faço promessas que nunca cumprirei. Mas eu o acompanho com o olhar quando entra.É porque me atrai. Irresistivelmente...

É num vão, entre o sagrado e profano que ainda estou inteiro, mas sendo aos poucos despedaçado pelo silêncio dele. Que não ouço porque tenho zumbidos demais nos ouvidos. Sou eu o surdo? Custa curar o surdo? Vai um pouco de cuspe aí?

O título é inspirado numa frase da poesia "Tempo" da Adélia Prado.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

De guerra nóis intende


O ápice da tensão ontem (06/08) foi um bate-boca entre o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), ambos muito nervosos. No momento, Sarney presidia a sessão.

Fonte: Folha de São Paulo.

Junielisson Silva, lavrador, chamou os vizinhos, estava acelerado. O Brasil está sendo invadido pelos gringos. Bem que nosso presidente falou no rádio. Esturdia ele disse que os estrangero estavam querendo montar umas tar de base, tudo malintenção. Estendeu a mão. Ó, tô me tremendo todim. Agorinha tava mexendo no botão e ouvi, juro por esta luz que me alumeia. O que que tu ouviu home? Eu acho que era um dos nosso, xingando um coroné deles. Ele disse ansim: “Coroné de merda! Seu merda!” Esse brasileiro é valente, qual é a patente dele? Sei não. Só pode ser generar.

Mais quem se benzeu: Valhame nossinhora, será que a guerra chega aqui? Vamo ouvir mais. Deixa eu achar a estação. Rodou pra lá, rodou pra cá. “Jagunço, coronel de araque!” Tão vendo? O negócio tá é feio. Mas, perguntou o amigo: num seria mió dá logo um tiro no inimigo? Esse negócio de ficar só se xingando num resorve. O que resorve é revorve. Num é mermo, Ditim, também acho. Oxe!

Tão brigando mais. “Vossa Exa. é um zero. Não respeito Vossa Exa.” “Pois eu também não respeito Vossa Exa.” Urra, Junielisson, os home são muito educado, é um tar de Vossa Insolência pra cá, Vossa Insolência pra lá. E é? Num tô dizeno. É ansim que se chama otoridade. Meu avô disse que na guerra grande de 40 não era essa moleza não. Tudo era na bala, bomba, facada. Pois num é...

“Não aponte este dedo sujo pra mim. Não vou suportar mais suas ameaças.” “O dedo sujo aqui é o de V. Exa. São os dedos dos jatinhos que o Senado pagou”. Jatinho? Senado? Ô Junielisson, essa guerra aí tá fraca. O que será Jatinho e Senado? Sei lá. Deve de ser arguma posição que eles querem tomar do outro, né não? Deve de ser.

“Pelo menos era com o meu dinheiro. O jato é meu. Não é o que o sr. anda, o dos seus empreiteiros”. Vôte, acho que esse jato é uma arma. Será? E tu já viu guerra sem arma, Junielisson? Tem razão, Ditim. Psiuu! Vamo ouvir. “O que você disse? Repete, repete se tu for macho! Eita, agora vai cumê bufete. Droga de rádio, tá cu’a chiadeira dos inferno.

É esquisito, num se ouve um pipoco, nada. Será que isso é uma guerra mermo? Tá parecendo. “Vossa Exa. não repita mais o meu nome. E as palavras que Vossa Exa. disse quero que as engula e faça uso como achar conveniente.” Pegou pesado. Ô! Mas tabefe que é bom, necas. Num é?

“Vossa Exa. não tem moral para falar. É mais sujo que pau de galinheiro”. Gostei. É agora que o pau canta. Que nada, Junielisson, estes são uns embusteiros é só gogó. “O que é mais sujo que pau de galinheiro é o seu passado aqui nesta casa, escapou das falcatruas com golpe, teve que sair às carreiras para não ser cassado.” “Vossa Exa. é um delinqüente, homem sem brio.” Tô achando que disso num passa. Parece as mulher da vida brigando por home. Que nada. Aquelas lá são mais machas que esses aí. Fosse elas já tinham arrancado cabelo, dado mordida... Num é que é. Riram.

O chiado do rádio voltou. Trimmmm. Trimmmm. Deve de ser o sinal pros cabra ir na bordoada. “Está suspensa a sessão por cinco minutos”. Ahh, agora que pensei que ia esquentar... Já não se faz mais guerra como antigamente, né não? Ô!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Coração: bússola apontando para o sul


A metáfora do coração como centro da alma é coisa muito antiga. Os egípcios, no sagrado livro dos mortos – cuja origem data de 1500 a. C. – tinham sua religião, no que diz respeito aos atos dos homens, baseada na retidão que demonstrasse o coração. Os egípcios o chamavam de Livro de sair para a luz.

Além de orientações sobre como o mortal deveria se comportar para ter um bom julgamento diante dos deuses, o livro revela uma cena intrigante em que o mortal, ao chegar diante da porta do paraíso, teria o coração pesado na balança da verdade. Uma das bandejas continha uma única pena, retirada do ornamento na cabeça de Osíris, na outra o coração daquele que seria julgado. Estava em jogo os atos praticados em vida que deveriam ser regidos pela justiça e pela verdade.

Um coração deveria ser leve como uma pena, pois caso fosse mais pesado, imediatamente apareceria uma espécie de demônio que devoraria o mortal que ali se encontrava à espera do veredicto. Sua alma (ka) teria um fim eterno.

 Jeremias, entre 600 e 500 a. C., período de seu ministério como profeta, faz uma afirmação desconcertante: “O coração é mais enganador que qualquer outra coisa, e dificilmente se cura: quem de nós pode entendê-lo?” (Jer 17.9 – EP). Segue-se a esta frase, a afirmação de que somente Deus pode conhecer o coração. Ele sonda os pensamentos para julgar a cada um conforme o fruto de suas ações.

Eis o mistério do qual conhecemos apenas parte do processo. É que somos como navios. Depois de muitos mares navegados, haverá toda sorte de craca encrustada na estrutura submersa. O arrasto aumenta cada vez mais, torna a nau lenta e se não for limpa, poderá ganhar um rombo no casco e ir a pique. De algum modo, é a relação com Deus que ajuda a esclarecer um para si mesmo. A religião não pode mediar este processo, por excessivamente versicolorida. Jesus é a versão de homem e de Deus cuja tradução se pode aproximar e aprender.

Estar aqui sugere, se não um determinismo, um sentido de propósito. Este, porém, é construído nas muitas relações que teremos com toda gente. Isto tudo nos molda, enraíza razões em nossas profundezas que emergem, como bem lembra Freud, de maneiras estranhas, quase incompreensíveis para aquele que se lê. Jeremias sabe por quê. É que o coração é desesperadamente corrupto (ARA). Outra versão bíblica diz: o coração é irremediavelmente mau (VC). Ainda outra traduz esta mesma passagem como: ele (o coração) tem uma doença incurável (NVI).

Cada um de nós, na ânsia de se saber, está quase sempre perplexo. Blaise Pascal, filósofo, diz que o coração tem razões que a própria razão desconhece. Se desconhecemos, não é por falta de sabedoria. É porque somos permeáveis, vazados de influências que nos rebolam para cá e para lá. O que é somente meu que explique minha razão real de ser e de querer? O que é dos outros que assimilei como esponja e se faço quero, de mil maneiras que não percebo, apenas atender às suas expectativas?

O coração doente se inclina para o mal como afirma Jeremias, mesmo sabendo sobre as leis das coisas boas. Por que não basta saber. Quando apenas se sabe, como quem decora falas para um papel, tão logo acabe o ritual religioso, um volta a ser si mesmo. A religião enquanto manifestação humana despida da transcendência é anestésico. Não aperfeiçoa, adestra. Não esclarece, enevoa. Não liberta, agrilhoa.

A espiritualidade, por outro lado, é um permitir-se habitar pela graça que é um único remédio para se aceitar de forma plena. A graça é quando Deus olha para um e lhe aceita, ainda que, como diz Jeremias, Ele saiba exatamente que para além da máscara alegre refletida no seu espelho fosco, há um mal íntimo que verniza seu coração. Este ato de bem divino é sempre o ponto de partida de gente em refazimento que caminha para a luz.  

ARA – Almeida Revista e Atualizada

EP – Edição Pastoral

NVI – Nova Versão Internacional

VC – Versão Católica